O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu nesta
quarta-feira 19 a prisão dos condenados na Ação Penal 470, o chamada
“mensalão”.
Como o STF encontra-se em recesso, a autoridade competente para
conhecer e decidir quanto ao pedido será o ministro Joaquim Barbosa.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Foto: Fellipe Sampaio/ SCO/ STF |
De plano, diga-se, não há criticas que se possa fazer ao procurador. É
seu papel postular ao limite como parte sancionadora do processo.
Mas todas as criticas técnico-jurídicas deverão ser feitas caso tais
pedidos sejam, a qualquer título, acatados. Ao magistrado não é dado
agir ou se postar como Ministério Público, como parte do processo.
Há, no STF, pacífica jurisprudência no sentido de que só cabe a prisão
neste tipo de caso quando houver o chamado “transito em julgado” – ou
seja, após o julgamento do último recurso interposto pelos réus.
Embora o julgamento do “mensalão” seja em grau único de jurisdição pela
Corte Suprema, cabem recursos da decisão uma vez publicado o acórdão,
como, por exemplo, embargos de declaração e embargos infringentes que
podem alterar conteúdo do julgado, extensão das penas e seu regime de
execução.
No caso do ministro José Dirceu, por exemplo, parte da pena de 10 anos e
10 meses de prisão refere-se ao crime de formação de quadrilha (2 anos
e 11 meses).
A condenação por quadrilha se deu em apertada votação de 5 a 4. Tendo 4
votos favoráveis, segundo o artigo 333 do regimento interno do STF, o
ex-ministro pode ingressar com embargos infringentes.
Caso a Corte resolva conhecer o recurso e, no final, resolva provê-lo, a
condenação cairá de 10 anos e 10 meses para 7 anos e 11 meses, o que
manteria a condenação do réu, mas reduziria sua pena e alteraria o
regime de sua execução. Ou seja: o ex-ministro deixaria de cumprir pena
em regime fechado e passaria a cumpri-la em regime semi-aberto. Essa
decisão alteraria substancialmente seu estado de liberdade.
Uma vez preso em regime fechado agora, qualquer um dos réus que, no
futuro, tenha seu regime de execução alterado para semi-aberto, pelo
provimento de algum recurso, terá sofrido um prejuízo irreparável.
A jurisprudência pacífica da Corte, os direitos fundamentais dos réus e
a prudência que deve ser própria da magistratura indicam claramente
que açodamentos punitivos desta natureza num caso já demasiadamente
polêmico devem ser evitados por absolutamente desnecessários, só
servindo para depor contra a higidez do julgamento e contra a imagem da
própria Corte.
Pedro Estevam SerranoNo CartaCapital
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