"Que saudades da Amélia"... e de Mário Lago. |
Hoje. Passados quase trinta anos do fim da Ditadura Militar os artistas seguem seus caminhos ideológicos.
Podem fazer suas escolhas sem serem empurrados para um único segmento por um excessivo regime militar.
Quando vejo humoristas, cantores, artistas , com posições
antiprogressistas, reacionárias, entreguistas mesmo, não deveria
escandalizar-me.
A Democracia pela qual lutamos permite a livre expressão ideológica.
Permite que cada um faça suas escolhas de acordo com sua consciência e conveniência.
Vivemos tantos anos sob Ditadura que nos esquecemos como era antes. Desde 64 já se vão 49 anos.
Havia a diversidade ideológica. Chegava-se a contendas nas ruas entre ideologias opostas.
Nós jovens identificávamos a ideologia do sujeito no banco da frente
pelo jornal que ele trazia nas mãos: "Ùltima Hora" ou "O Globo".
Saúdo a memória de lutadores históricos pelas causas populares como
Jorge Goulart, Nora Ney, Jackson do Pandeiro, Mário Lago, Jararaca,
Modesto de Souza, Francisco Millani, o Palhaço Fred, Tayguara, Raphael
de Carvalho, Lélia Abramo, Vanda Lacerda e tantos outros.
Mas nunca foram unanimidade. Havia também os artistas que se opunham
às conquistas populares. Seriam mais tarde os dedo-duros da categoria,
como o famoso apresentador da Rádio Nacional que entregou todos os
colegas de esquerda à sanha da Ditadura.
Havia os colegas de antanho que trabalhavam por romantismo; por amor à
arte morriam tuberculosos; moravam em cortiços na rua da Carioca e
adjacências da Praça Tiradentes.
Ser artista era ser "gauche" na vida.
No mundo neoliberal de hoje, para alguns ser artista é ter a mesma visão de carreira que a de um executivo de Multinacional.
Vale tudo pela carreira, pelo dinheiro, pelo poder e pela fama.
Vale ficar calado; vale não se comprometer nem com política, nem com
religião, nem mesmo com time de futebol, sequer se pronunciar sobre
recheio de pastel.
Vale calar-se diante das injustiças cometidas, e vale sobretudo louvar o
dinheiro, numa idolatria que leva a carne aos ceús e a alma aos
infernos.
Assim como muitos são os chamados e poucos os escolhidos, não se
enganem: ser de esquerda, tomar o lado dos excluídos, dos sem-nome, é
profissão de fé.
Fé pertence aos loucos. Àqueles que creem no que não se vê, e em fatos que ainda não aconteceram.
Loucos os artistas que acreditam que pode ser o Homem um parceiro para o
Homem, num mundo de igualdade, fraternidade e liberdade, onde não haja
fome, injustiças, exploração,miséria...
Loucos sim...Mas Deus criou os loucos para envergonhar os sábios.
E só os loucos sabem as tribulações que passam, e entretanto prosseguem
porque de que adianta a um artista ganhar bens e perder o Bem?
Encerro dirigindo-me aos colegas satisfeitos com a "lucidez e a razão"
e com o Sistema que lhes dá a migalha de cada dia, relembrando Bivar
quando perguntou: "Por que seria a loucura mais sã que a falta dela?"
Há colegas em campos opostos. A esquerda jamais foi unanimidade entre a categoria... e esta reflete a Sociedade como um todo.
Respeitando e compreendendo a diversidade ideológica conquistada por
todos nós com a Democracia, saúdo os loucos com os quais caminho lado a
lado nesta jornada e abro meus braços para o abraço.
Um abraço onde neste ano de 2013 comemoro com muito orgulho 50 anos de
luta numa loucura que me mantém vivo: a fé por um Mundo liberto da
exploração do homem pelo homem.
Homenagem deste blog ao talentoso artista e excepcional Homem, Bemvindo Sequeira por seu meio século de loucura!
PS: Este artigo de Bemvido Sequeira é a conclusão de outros dois artigos que podem ser lidos aqui e aqui.
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