Não há como negar: somos um país fantástico, o único do mundo livre que preserva suas tradições, sem medo do ridículo!
Parte do país está no século 21; há algumas manchas de século 19, nos
rincões mais profundos. Mas a parte mais visível, a parte pública, está
em plena… Guerra Fria. É como o japonês do Gordo e do Magro. Que ficou
anos na trincheira, por não ter sido informado sobre o fim da Guerra.
É um regalo para os saudosistas, para os que cultivam a memória dos anos 60, o rock, a foto do Che.
Em outros tempos, o Departamento de Estado norte-americano bancava
Svetlana Alliluyeva, a filha de Stalin que abjurou o comunismo e a
Rússia. Vivia-se o auge da guerra fria e a disputa entre dois modelos
políticos.
Agora, em pleno 2013 (!), na era da Internet e das comunicações, na era
da globalização, vinte e tantos anos após a queda do Muro de Berlim,
após o desmanche da União Soviética, o país da saudade e da nostalgia
revive… a Guerra Fria. Em vez do patrocínio nobre do Departamento de
Estado americano à filha do maior ditador soviético, a fina flor dos
exilados cubanos bancando a mocinha que não quer deixar a ilha.
E o grande fantasma comunista são dois velhinhos em final de vida, em
uma ilha distante, que não representa ameaça nem aos seus vizinhos de
fronteira e só interessa aos cubanos de Miami e – lógico – à fina flor
da intelectualidade midiática brasileira.
Monta-se um show formidavelmente ridículo, recorrendo a uma fórmula tão
velha quanto andar para frente: provoca-se e, como dois e dois são
quatro, atrai-se a ira de jovens radicais – sem nenhuma expressão
política maior, a não ser colocar sua energia jovem para fora – e, aí,
senadores vetustos, colunistas indignados, comunicadores-humoristas
alertam para o perigo da ditadura comunista, do fim da liberdade de
expressão. E recria-se a velha guerra sem quartel do bem contra o mal na
tenda espírita do Twitter
Daqui a pouco o fantasma do Padre Peyton ressurgirá em um perfil do
Facebook, amaldiçoando os corruptos da terra com a fantasma da
excomunhão.
No dia em que um historiador se debruçar sobre esses tempos loucos, não
perceberá diferença entre os alucinados do Twitter e a velha mídia.
Constatará que o grande personagem desses tempos de realidade virtual é o
professor Hariovaldo. E comparando com outros colunistas, terá enorme
dificuldade em separar a paródia do parodiado.
No Advivo
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