De repente, há tanto o que celebrar entre os fatos marginalizados pela
renúncia do papa, que só mesmo a conveniente bajulação ao Judiciário
sugere por onde começar. É pela original proteção criada, para quem
tenha ou venha a ter questões na Justiça, contra a influência de
empresas e pessoas endinheiradas sobre as decisões de juízes.
Parte do Conselho Nacional de Justiça pretendeu proibir as comuns
doações de dinheiro, passagens, hospedagens e brindes para congressos,
outros eventos e turismo de magistrados. Não conseguiu. Mas os
satisfeitos com a liberalidade fizeram uma concessão parcial e
permitiram a adoção da proposta feita pelo presidente do CNJ, ministro
Joaquim Barbosa: os magistrados e seus eventos podem receber 30% do
custo total.
Ou seja, empresas e endinheirados agora só podem influir 30% nas
decisões dos magistrados influenciáveis. Ou também: 70% da ética dos
magistrados estará protegida pela proibição, e 30% liberados para o quer
e vier. Sobretudo o que der.
Por falar em Judiciário, os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos,
matadores do casal Richthofen, tiveram a esperteza de não encarar a
bandidagem nem os agentes penitenciários onde estiveram presos. Assim
cumpriram um sexto da pena de 38 anos. E em razão daquele "bom
comportamento" estão livres, com a obrigação apenas de dormir em abrigo
judiciário. É a Justiça que se faz mais uma vez, como um ato de
celebração da igualdade de valores. Se as vidas de Marísia e Manfred von
Richthofen valiam só três anos cada, conforme o estabelecido pelo
Código Penal, celebremos nós outros o fato de estarmos vivos ainda,
sendo nossas vidas brasileiras tão democraticamente baratas, sem
distinção.
Código Penal, bem entendido, é nome fantasia. O nome verdadeiro, inusual
como é próprio dos apelidos, é Código de Incentivo à Criminalidade.
Elaborado pelo sentido de responsabilidade do Legislativo e praticado
pelo sentido de justiça do Judiciário.
E quem no PT, PSOL, PSTU & cia. tiver um mínimo de lucidez, deixará
de ser útil ao projeto que traz a também militante Yoani Sánchez, com as
cenas estúpidas que a notabilizam. E a celebrará, recepcionando-a com
faixas, por exemplo, de "Viva Yoani, símbolo da liberdade cubana de
viajar", ou "símbolo da liberdade de criticar seu país no exterior". É,
sem ser, o que é. Mas não pode parecer.
Janio de FreitasNo fAlha
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