O sabujo mau-caráter não se conforma com a derrota da oposição incompetente e corrupta.
Tucanos pra quê?
Não tem jeito, não! As coisas não acontecem por acaso. A oposição não
chega ao estado miserável a que chegou no Congresso por acidente. É
preciso muito esforço para isso. É preciso haver muita dedicação. E
nisso, convenham, os tucanos são de uma aplicação comovente. Pelo
critério da proporcionalidade, ao PSDB caberia, como coube, a Primeira
Secretaria da Mesa Diretora do Senado, mas a turma de Renan Calheiros
(PMDB-AL) poderia ter retaliado e negado a vaga ao partido. Não é lei,
mas acordo. Já que, oficialmente, o partido havia se alinhado com a
candidatura adversária, não haveria por que cumprir compromisso. E os
patriotas de Renan até chegaram a pensar nisso. Quando, no entanto,
foram computados os votos, tiveram uma certeza: parte da bancada, os
bons de bico, traiu o compromisso e deixou Pedro Taques (PDT-MT) na mão.
E aqueles que o fizeram certamente deram um jeito de fazer chegar ao
rei posto a sua (in)fidelidade.
Eu já havia escrito aqui que o coração de muitos tucanos pulsava mesmo é
pelo peemedebista. Assim, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) assumiu a
Primeira Secretaria sem medo se ser feliz. Ele também é investigado pelo
Ministério Público Federal. Temos uma Mesa Diretora formada por heróis.
Os 11 tucanos poderiam vir a público para declarar o seu voto. Não se
trata de patrulha, não, mas de vergonha na cara. Já que se anunciou à
sociedade o apoio ao adversário de Renan, cumprira agora deixar claro
quem fez o quê. Notem: ninguém é obrigado a abrir o voto. Mas todos
podem se dispensar de mentir. Se havia senadores contrários ao apoio a
Taques, que dissessem, ora.
Aécio Neves (PSDB-MG), cotado para ser presidente do partido e apontado
como candidato à Presidência da República, havia acenado com a
possibilidade de fazer um discurso em defesa da candidatura de Taques.
Discurso não houve. O senador se limitou, há alguns dias, a fazer uma
espécie de convite-apelo a Renan para que retirasse a sua candidatura. O
alagoano não topou, claro… O apoio ao opositor de Renan, no fim das
contas, foi uma operação de marketing que acabou saindo pela culatra.
Agora, resta suspeita da farsa, do adesismo e da traição, tudo
misturado. Se era para fazer esse papelão, melhor teria sido defender
que a presidência coubesse à maior bancada e fim de papo. Melhor a
sabujice franca do que a dissimulada.
No dia 3 de setembro de 2012,
escrevi aqui um texto afirmando que a greve que realmente faz mal ao
Brasil é a greve da oposição, que está paralisada há sete anos,
caminhando para oito, desde quando ficou com medo das consequências e
recuou diante da possibilidade de pedir o impeachment de Lula, na crise
do mensalão. Depois disso, não se encontrou mais.
É claro que há líderes regionais importantes do partido. No próprio
Congresso, há deputados e senadores que fazem um trabalho sério e não
temem confrontar o governismo em questões relevantes. Já destaquei aqui o
trabalho, por exemplo, de Álvaro Dias (PR) e Aloysio Nunes (SP) —
espero que estejam entre aqueles que votaram em Taques. O que falta, no
entanto, é uma diretriz partidária. Que cara tem, afinal, o “maior
menor” partido de oposição do país? Quer o quê? Acena com quais valores?
Não se sabe. Há um vazio de mensagem, há um vazio de propostas, há um
vazio de liderança.
Assim, cabe a pergunta: “Tucanos pra quê?”.
Não é um qualquer
A eleição de Renan Calheiros é uma porrada na cara da nação. Estou entre
aqueles que acham que a oposição tinha a obrigação política de
apresentar uma alternativa, ainda que o PMDB tivesse apresentado como
candidato uma vestal. Mas não! Tratava-se de Renan Calheiros, que já
teve de renunciar a esse posto. Assume a cadeira denunciado por três
crimes. “Ah, mas ele é inocente até não ser condenado pela Justiça…”
Fato. Ocorre que estamos falando de política, não de polícia — ainda que
essas duas palavras sejam quase anagramáticas. A Justiça vai, sim,
decidir se ele cometeu crimes ao tentar provar que pagava pensão à
ex-amante e a um filho com recursos próprios. O que é incontroverso é
que uma empreiteira arcava com as despesas.
Um partido ou um grupo que tem a ambição de chegar ao poder tem de escolher uma mensagem, tem de mobilizar fatias da sociedade, tem de definir com quem quer falar. Há dez anos — notadamente dos últimos sete! —, o PSDB, como voz institucional, foge miseravelmente de todos os embates e se expõe ao descrédito e à chacota daqueles que entendem que a democracia é o regime das alternativas, não do discurso único.
Eu não sei a resposta. Se os tucanos sabem, poderiam nos dizer: “PSDB pra quê?”.
Ainda do Blog O TERROR DO NORDESTE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário