Abertura da Copa mostrou como é difícil contrariar vontade da maioria da população numa democracia
Por Paulo Moreira Leite
Por Paulo Moreira Leite
Quando se lembra que, até muito recentemente, dizia-se que o governo
deveria render-se se a uma incorrigível incompetência tropical para
devolver a Copa para a FIFA, o dia de ontem é digno de festa.
Verdade que foi apenas o início de uma jornada complicada, que terá vários momentos imprevisíveis.
Espalhada por vários pontos do país, mobilizando plateias e populações
diversas, a Copa irá prolongar-se por um mês inteiro, quando podem
ocorrer surpresas, imprevistos e até coisa pior.
Como começo, foi um sinal positivo, porém. (Mesmo lembrando que o padrão
de cultura da FIFA nunca foi sua maior especialidade, o show de
abertura não precisava ser tão ruim e inexpressivo – nem o exoesqueleto
precisava ser tão escondido assim...).
O espírito anti-Copa resumiu-se, ontem, a uma cafajestada contra Dilma
Rousseff no Itaquerão, logo abafada por um coro que falava do orgulho de
ser brasileiro.
Cafajestadas não demonstram apenas falta de educação. Refletem
isolamento político, de quem não está falando com a massa nem consegue
comunicar-se com o país. Indo para o principal.
Para quem chegou ao máximo de imaginar que seria razoável impedir a Copa
de qualquer maneira, com ajuda de violência quando preciso, o 12 de
junho serviu para demonstrar a dificuldade de se contrariar a vontade da
maioria quando se vive sob um regime democrático.
A torcida ajudou o time a virar uma partida que começou com um azarado gol contra. Cumpriu seu papel e jogou junto.
Fora do estádio, os protestos foram ainda mais pífios, confirmando a
visão de que a principal proteção dos jogos não se encontra nos
cassetetes da Polícia nem em tanques do Exército -- mas o amor do povo
ao futebol e o respeito por seus direitos. Como sabe qualquer pessoa que
já fez uma passeata na vida, quando a população sente necessidade de
protestar enfrenta até uma ditadura.
Depois de ontem, é difícil negar que os brasileiros querem a Copa e
estão felizes com ela – e que isso não afeta sua visão da situação do
país, nem irá tornar nenhum candidato a presidente mais ou menos
popular. Mas é óbvio que os profissionais das más notícias e das
tragédias anunciadas perderão credibilidade (e votos) na medida em que
suas profecias não se confirmarem. Por isso, evitam dizer em voz alta
aquilo que pensam em voz baixa.
Mas eles estão atentos.
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