A primeira, dizendo que o Brasil é “ o único (país)da América Latina, o único Bric e a única nação ocidental em desenvolvimento” que aparece entre os 12 lugares onde moradores de 65 nações – ouvidos pelos principais institutos de pesquisa do mundo – desejariam viver.
Matérias do Estadão – Direto do Poços 10 Notícias
Nosso país é citado, simplesmente, como um dos destino dos mais desejados em dois terços dos países do mundo.
Uma segunda matéria, porém, com a mesma pesquisa, mostra um grupo que detesta o Brasil: os brasileiros de renda mais alta.
Dos que têm renda maior, 63% admite a
ideia de deixar o país. Entre os pobres, um percentual semelhante, 61%
não aceitam sair daqui de jeito nenhum, mesmo com todas as dificuldades
que vive.
É chocante, até para quem conhece a natureza da elite brasileira.
Morar no Brasil é ‘sonho’ internacional
Lucas de Abreu Maia e Rodrigo Burgarelli, com colaboração de Laura Maia de Castro
O Brasil é um dos 12 países mais
cobiçados para se morar, segundo uma série de pesquisas feitas em 65
nações pelo WIN – coletivo dos principais institutos de pesquisa do
mundo – e tabulada pelo Estadão Dados. O crescimento econômico na última
década, aliado à boa imagem cultural do País no exterior, fizeram com
que o Brasil fosse citado como destino dos sonhos por moradores de dois
em cada três países onde foi feito o estudo.
Na lista dos destinos mais cobiçados
por quem não está feliz na terra natal, o Brasil é o único da América
Latina, o único Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, China e Índia) e
a única nação ocidental em desenvolvimento. As pesquisas foram feitas
no fim do ano passado e ouviram mais de 66 mil pessoas ao redor do
globo. Elas foram questionadas se gostariam de morar no exterior se,
hipoteticamente, não tivessem problemas como mudanças ou vistos e qual
local elas escolheriam. Por isso, os resultados dizem mais sobre a
imagem dos destinos mencionados do que com imigrantes em potencial.
Se esse desejo virasse realidade, o
Brasil receberia em torno de 78 milhões de imigrantes nesse cenário
hipotético. Mas, em um mundo sem fronteiras, a população do País
diminuiria – 94 milhões de brasileiros se mudariam para outras nações,
se pudessem. Ainda assim, 53% dos brasileiros não desejam emigrar,
porcentual acima da media mundial.
Quem mais tem vontade de vir para o
Brasil são os argentinos: 6% se mudariam para cá se tivessem a chance. O
Brasil também está entre os cinco mais cobiçados por peruanos e
mexicanos. Mas não são apenas latinos que gostariam de viver aqui. Os
portugueses acham o Brasil mais atrativo do que a Alemanha, os italianos
o preferem à França, os australianos o consideram o segundo país mais
desejável, os libaneses o colocam em posição tão alta quanto a Suíça e
até no longínquo Azerbaijão o Brasil aparece entre os quatro destinos
mais sonhados, na frente até dos Estados Unidos.
Liderança. Os EUA
são, previsivelmente, o destino mais desejado por quem quer imigrar no
mundo. O ranking segue com outros países ricos, como Canadá, Austrália e
nações da Europa ocidental. Quebram a hegemonia das grandes potências
apenas Brasil, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos – os dois
últimos, não por acaso, países de renda alta por causa do petróleo e
destino desejado principalmente por muçulmanos. De todos esses países, o
único que não tem histórico recente de imigração considerável é
justamente o Brasil.
Para Alberto Pfeifer, professor de
Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), os
entrevistados possivelmente deram respostas utópicas. “Em um mundo em
que não houver barreiras, lógico que muita gente gostaria de morar na
zona sul do Rio.” Ainda assim, ele defende que o crescimento econômico
dos anos 2000 foi crucial para “colocar o País no mapa da imigração”.
A diplomata Liliam Chagas de Moura
estuda o chamado “soft power” brasileiro – a capacidade de um país de
exercer influência por meio de sua cultura e hábitos políticos. “Temos
uma cultura diversa e riquíssima, somos uma democracia e somos
reconhecidos em nossa política externa por ser um país pacífico”, diz,
acrescentando que essas características definem a “marca Brasil” no
exterior. “Já morei em diversos países e, ao nos apresentarmos como
brasileiros, recebemos uma empatia imediata.”
Foi essa empatia que atraiu a
portuguesa Sara Mendonça, de 26 anos. Ela é gerente de marcas e se
identificou com o País ao fazer intercâmbio no Rio. Há seis meses, ela
se mudou definitivamente para Campinas.
“No momento, aqui tem muito mais
oportunidades do que a Europa. Ganha-se melhor”, diz Sara, que antes
morava na Espanha. Ela conta que perdeu um pouco da qualidade de vida,
mas pensa em ficar alguns anos mais. “Não penso em ficar para sempre.
Quero ficar até a situação na Europa melhorar ou a do Brasil piorar.”
Ricos brasileiros são os que mais querem morar fora
O Brasil é um dos países onde há
menos pessoas dispostas a morar no exterior. Dos 65 locais pesquisados, o
País é o 15º entre os que têm a maior população que não se mudaria. Mas
há uma peculiaridade: ao contrário do que acontece na maioria dos
países de renda média ou baixa como México ou China, os brasileiros que
gostariam de morar fora são justamente os mais ricos. Os dados da
pesquisa mostram que, entre quem ganha mais de dez salários mínimos por
mês, apenas 37% não sairiam do Brasil de jeito nenhum. Já entre quem
ganha menos de um salário, esse porcentual pula para 61%.
O bancário Tiago Peliciari,
de 30 anos, faz parte do primeiro grupo. Desde a primeira vez que saiu
do País, em 2009, ele decidiu que quer, em algum momento, morar fora por
acreditar que, em países como os Estados Unidos, a vida é melhor. “Não
apenas a qualidade de vida, mas também a noção de coletivo que as
pessoas têm me faz querer morar lá.” O bancário paulista, que há seis
meses mora em Brasília, já fez e refez planos e escolheu a cidade alvo:
San Diego, na Califórnia. Entretanto, o medo de arriscar tem atrasado o
objetivo. “O maior medo hoje seria trocar um emprego certo por um
incerto.”
É também nos EUA que o financista
Henrique Sígolo, de 24 anos, quer viver. Formado em Relações
Internacionais, Sígolo já morou em quatro países e tem muita vontade de
morar fora “de vez”. “A questão da segurança conta bastante. Acho que
para ter uma família é melhor lá fora.”
O financista trabalha em uma
multinacional e vê a oportunidade de viver no exterior pela empresa que
trabalha. “Em agosto vou passar seis meses fora do Brasil, mas ainda não
sei o meu destino.” / L.M.C., L.A.M. e R.B.
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