Brasil 247
- Torcedores que acompanham várias edições da Copa do Mundo afirmam que
o evento brasileiro tem se destacado; "Esta Copa realmente tem muitas
coisas especiais. Se compará-la à da África do Sul é até covardia", diz o
irlandês Daniel Sheahan, que já acompanhou oito copas; "Nota-se
claramente uma grande vontade de tornar tudo especial. Isso não
aconteceu na Copa da Alemanha porque, apesar de muito educados, os
alemães costumam ser frios na relação com turistas, completa; "Não é
apenas a vontade dos brasileiros em ajudar aos turistas. Aqui há muito
mais festas", diz o equatoriano José Bastidas, 31 anos.
Pedro Peduzzi e Mariana Tokárnia - Repórteres da Agência Brasil
Com a experiência de quem acompanhou oito copas do mundo de futebol, o
irlandês Daniel Sheahan, 55 anos, não pestaneja: "A atual Copa do Mundo
está sendo a melhor de todas". A opinião é compartilhada por diversos
turistas que também participaram de outras edições do torneio. "Não que
tudo esteja perfeito. Em todas as copas às quais fui houve algum tipo de
problema, como preços altos, dificuldades com transporte ou roubos. Mas
isso faz parte de um evento deste porte", disse à Agência Brasil o
irlandês, que já teve sua mochila roubada em duas edições do torneio.
"Isso aconteceu nas copas da França, quando duas pessoas pegaram minha
mochila e fugiram em uma moto, e nos Estados Unidos, quando em um
momento de distração levaram minha mochila", disse ele. "No caso da
França, meu amigo passou pelo mesmo problema. Ao que parece era uma
quadrilha de motoqueiros especializados nesse tipo de roubo",
acrescentou.
Fã do futebol brasileiro, o irlandês sempre priorizou assistir aos jogos
do Brasil. Mas nem sempre foi possível devido à concorrência. "Esta
Copa realmente tem muitas coisas especiais. Se compará-la à da África do
Sul é até covardia. O barulho das vuvuzelas era insuportável e
estragava o clima do estádio. Para piorar, de todas elas saía muita
saliva, o que era bastante preocupante, porque a incidência de doenças
como tuberculose é muito grande naquele país".
Por aqui, explica, os brasileiros buscam se divertir sem incomodar os
outros. "Nota-se claramente uma grande vontade de tornar tudo especial.
Isso não aconteceu na Copa da Alemanha porque, apesar de muito educados,
os alemães costumam ser frios na relação com turistas". Além das quatro
copas citadas – Estados Unidos (1994), França (1998), Alemanha (2006) e
África do Sul (2010) – e da atual, Sheahan diz que foi às copas da
Espanha (1982), do México (1986) e da Itália (1990).
Impressão similar tem o equatoriano José Bastidas, 31 anos. "Não é
apenas a vontade dos brasileiros em ajudar aos turistas. Aqui há muito
mais festas e uma comunicação mais fácil, até pela semelhança com outras
línguas. É mais fácil entendermos e sermos entendidos pelos
brasileiros", disse ele.
A Copa de 2014 é a quarta do suíço Domenique Brenner, de 40 anos. "Na
comparação com 1998, 2006 e 2010, esta é a melhor, porque está sendo
disputada no melhor lugar e com as melhores pessoas", disse ele. "A
organização do evento é sempre bastante similar, porque envolve a mesma
estrutura, que é a estrutura da Fifa". A maior crítica é em relação aos
caixas rápido dos bancos no Brasil, usados por ele para evitar idas a
casas de câmbio. "Muitas dessas máquinas não aceitam cartões
internacionais", queixa-se.
Brenner e outros suíços entrevistados pela Agência Brasil reclamam do
preço dos restaurantes nas cidades-sede e das bebidas nos estádios.
"Apesar de muito bons, os restaurantes são muito caros. Principalmente
as churrascarias", disse Brenner. Já Denis Rapin, 47 anos, avalia que
nem tudo é tão caro, levando em consideração o fato de que se trata de
uma Copa do Mundo. Ele viaja com um grupo de 20 pessoas.
Para Rapin, os preços cobrados na cidade não são tão altos quanto
imaginava. "Quem cobra caro aqui é a Fifa. Principalmente a cerveja nos
estádios", disse. "Esta é a minha primeira Copa do Mundo, mas não será a
última. Esses dias têm sido muito agradáveis. A receptividade e a
amabilidade dos brasileiros realmente impressiona. Todos muito
amigáveis, desde o taxista até os profissionais da área de turismo. Em
Brasília [onde assistiu à partida entre Suíça e Equador] senti falta de
bares mais festivos. Acho que o que falta aqui são bares típicos
especializados em cachaça".
Viajando há sete meses pela América do Sul, Andre Urech, 34 anos, está
no Brasil pela primeira vez e assiste sua segunda Copa. A primeira foi
na África do Sul. "Está tudo tão bom que já decidimos: voltaremos o
quanto antes ao Brasil. Simplesmente estamos amando as pessoas daqui",
disse ele, ao lado da companheira de viagem Ramona Rüegg, que também foi
à Copa de 2010. Ela faz coro: "A atmosfera aqui é muito melhor, e as
pessoas muito mais amigáveis".
Os dois elogiam a organização do evento, apesar da dificuldade com o
transporte público. "Demorou cerca de 30 minutos para pegarmos um
ônibus, e o táxi está muito caro", disse. "Mas tudo faz parte do clima e
do sentimento que envolve uma Copa do Mundo", completa. A exemplo de
outros suíços que assistiram ao jogo contra o Equador, o casal reclama
principalmente da dificuldade para comprar cerveja. "A fila é muito
grande e faz a gente perder muito tempo do jogo. Mas isso também
aconteceu na África", disse Urech.
Dirigente do Barcelona de Guayaquil, no Equador, Carlos Rodrigues também
avalia esta como a melhor Copa de todos os tempos: "É muito superior,
tanto dentro como fora de campo".
"Uma coisa que me chama a atenção é o fato de ela [Copa] estar sendo
totalmente diferente do que vinha sendo mostrado pela imprensa. O Brasil
é 100% no que se refere a receber turistas. Tudo é perfeito: a
hospitalidade, a estrutura... Além disso, há muito amor e alegria no ar.
Viemos para cá justamente para desfrutar desse clima de Copa", disse.
O publicitário colombiano Héctor Greco, 33 anos, também foi surpreendido
positivamente pela Copa brasileira. "Eu esperava muito menos. O que
mais me surpreendeu foi a troca de cultura entre os países, em um clima
de competitividade, sem brigas. É uma oportunidade única de conhecer o
mundo em um só lugar".
Ele lamenta as grandes distâncias que têm de ser percorridas para
acompanhar os jogos. "As passagens de avião são caras, é difícil ir de
ônibus e, infelizmente, não há uma cultura de transporte de passageiros
por meio de trens no Brasil". A hospedagem também está muito cara, diz o
publicitário: "Pagamos R$ 21 mil para alugar, por um mês, um
apartamento no Rio de Janeiro".
O cirurgião plástico e cônsul honorário do Equador em Campinas (SP),
Oswaldo Vallejo, 56 anos, já gastou, entre passagens, hospedagens e
ingressos para os jogos, mais de R$ 18 mil para ter sua primeira
experiência em Copa do Mundo. "Conheço pouco Brasília, porque cheguei há
apenas um dia. Mas o deslocamento do hotel até o estádio foi bastante
fácil, pela proximidade. Essa realmente representa uma grande vantagem
para a cidade", disse ele em meio a elogios em relação à divulgação, às
placas e aos voluntários "proativos e sempre tentando ajudar até mesmo
nas situações em que não precisamos".
Depois de enfrentarem mais de 8 mil quilômetros de viagem em ônibus,
vindos de Quito, no Equador, o administrador Paul Tamayo e os
engenheiros Alvaro Granda e Edgar Baculima optaram por acampar na
Universidade de Brasília. Tudo, para assistir à estreia do Equador na
Copa, mas o "perrengue" não diminuiu o entusiasmo: "O Brasil é muito
bonito, assim como as pessoas", diz Tamayo. Perguntado sobre os preços
na capital, Granda responde: "De preços não falamos. Viajar até aqui foi
bastante duro, mas com a vontade de ver o Equador jogar, tudo fica mais
fácil".
Quem também viajou muito para viver uma experiência de Copa foi o
australiano Victor Vu, de 28 anos, na esperança de ver algum país
asiático ou africano vencer a competição. "Torço principalmente para a
Costa do Marfim por causa do [atacante] Drogba, de quem sou fã. Mas o
que realmente me motivou a vir foi a boa reputação que o Brasil tem lá
do outro lado do mundo, especialmente no que se refere a festas", disse.
Apesar de seu país não ter se classificado para a Copa, Jan Kolin, da
República Checa, quis vir ao Brasil para vê-la "no país mais bem
sucedido" no mundo do futebol. "Desde criança eu sonhava em ver uma
Copa. Quando soube que esta seria no Brasil, decidi tornar o sonho uma
realidade", disse. Ele relata problemas de comunicação, já que poucos
falam inglês.
Os peruanos Marcial Olano, 55 anos, e Herman Chaves, 45, também não
precisaram que sua seleção viesse participar dos jogos para decidir
curtir a Copa no Brasil. "Queremos que um país sul-americano ganhe,
porque somos povos irmãos integrando uma mesma torcida", disse Olano.
Chaves veio para realizar o sonho do filho Jared Chaves, 13 anos. "Não
esperávamos tanta organização. Isso em muito nos surpreendeu. Está
melhor do que havíamos sonhado. Não passamos por nenhum tipo de
problema, temos sido bem atendidos e a organização das cidades e da Fifa
está muito boa. Por isso já planejamos ir à Copa da Rússia [em 2018]
para, se tudo der certo, torcermos pela seleção de nosso país [Peru]",
acrescentou.
O suiço Lionel Holzaer, 30 anos, diz não ser fã de futebol. "Mas adoro
festas e adoro viajar", completa. Segundo ele, o Brasil tem "boas
condições" para receber os turistas. "Minha maior dificuldade tem sido
com o idioma". Dona de uma lanchonete na Torre de TV, chamada GO Minas,
Elza Alve Lobo não fala inglês. Mas usa de muita simpatia para compensar
essa limitação, além de ter preparado um cardápio em português, inglês,
francês e espanhol. "Faço questão de conversar ou tentar conversar com
todos. O clima é de muito entusiasmo, muita alegria".
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