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Saraiva
Dops reabre hoje como Memorial da Resistência
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Moacir AssunçãoUm símbolo da tortura no País foi reformado e reabre hoje como museu para homenagear a resistência dos presos à ditadura. O antigo prédio de tijolos vermelhos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no Largo General Osório, centro de São Paulo, teve quatro celas reformadas para abrigar o Memorial da Resistência, que homenageia as vítimas e resgata o período em que lá funcionou, de 1935 a 1984, a polícia política das ditaduras getulista e militar.
De acordo com o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo, a quem está subordinado o projeto, as celas lembram a trajetória do Dops, fundado em 1924 para combater os movimentos sociais considerados perigosos à ordem nacional, como o anarquismo e o sindicalismo. Uma das celas foi reconstituída como nos tempos da repressão, enquanto nas outras há uma maquete, além de fotos e gravações de depoimentos."A restauração foi feita a partir das memórias dos presos que passaram por lá, com apoio do Fórum de Presos e Perseguidos Políticos. Eles contaram como era a vida no lugar", diz Araújo. Os detidos, ao chegar, iam para as celas do térreo. No terceiro andar, ficava a sala do delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos mais duros agentes."Outros países sul-americanos, como Argentina, Uruguai e Chile têm um museu dedicado à luta contra a repressão. No Brasil, ao menos que saibamos, este será o primeiro espaço museológico destinado a essa questão", afirmou o diretor. Em 2002, o espaço já havia passado por uma primeira reforma. O antigo nome, Memorial da Liberdade, foi mudado para Memorial da Resistência, após reivindicações dos ex-presos.HORROR TOTALHoje militante de movimentos de defesa dos direitos humanos, o jornalista Ivan Seixas passou, antes de completar 18 anos, pelos calabouços do Dops, edifício projetado em 1914 por Ramos de Azevedo, para servir de armazém para a Ferrovia Sorocabana. "Era o horror total. Lembro-me dos gritos dos torturados e da comida, uma lavagem horrível. Apesar de não estarmos abaixo do nível do solo, a cela parecia um porão", disse.Passaram por lá, em diferentes períodos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cardeal honorário de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, os escritores Monteiro Lobato e Oswald de Andrade, a cantora Elis Regina, a artista Anita Malfatti, a militante e escritora Patrícia Galvão, a Pagu, entre outros.Responsável pela pesquisa para o projeto, a professora de história da Universidade de São Paulo (USP) Maria Luiza Tucci Carneiro vê um ressarcimento da dívida do Estado com as vítimas da ditadura. "Encontramos celas pintadas com cores que não tinham nada a ver mais com o período da repressão. Prontas, elas demonstram que a resistência extrapola as ditaduras."A seguir, a mensagem do camarada Felipe Lindoso sobre o Memorial da Resistência, antigo prédio do Dops.Camaradas,É bom que o camarada Biu (Alípio Freire) tenha mencionado que a inauguração de hoje deva ser considerada tão somente como a primeira etapa do Memorial da Resistência.Quando o Fernando Moraes – então Secretário de Cultura do Estado – propôs que o prédio do Dops fosse transformado na Biblioteca Pública do Estado de S. Paulo, escrevi um artigo – então publicado na Folha de S. Paulo – dizendo que ali eu só entrava algemado. O prédio do Dops é o lugar do opóbrio e para mim era – e é – impensável que nas salas ocupadas pelo Delegado Fleury – e por seus antecessores e sucessores – se abrigassem livros.Como aceitar que os leitores fossem assombrados pelos fantasmas dos torturados e assassinados naquele local?Mais tarde, quando se transformou o prédio do Dops em anexo da Pinacoteca, mantive para mim mesmo a promessa: lá, só algemado.Quando Politi e Alípio anunciaram que, enfim, se fazia dali um Memorial da Resistência, resolvi ir e ver o que se tinha feito.Pois bem. Hoje estive na inauguração. Estive na cela em que passei meses aguardando a "formalização do inquérito", segundo as "normas legais" vigentes na Ditadura.E a exposição, as maquetes, os documentos que ocupam o cantinho do prédio fazem justiça aos seus idealizadores. Parabéns ao Martinelli, ao Ivan e todos que participaram da execução do projeto.Mas o resto do prédio ainda está cheio de obras de arte; ainda assombrado pelos fantasmas dos mortos e torturados.No artigo que escrevi lembrava que quando se faz uma revolução de fato os símbolos da opressão são destruídos como justa manifestação da ira popular: os franceses não fizeram um centro cultural na Bastilha, e sim a derrubaram e, na praça, hoje, se dança, se espezinha sobre a lembrança da violência medieval. Aqui no Brasil, ao contrário, fazem das prisões (e não apenas da prisão política, mas das prisões onde o povo, os pobres e oprimidos, foram torturados e assassinados) camelódromos de pseudo artesanatos – é o caso do Recife e de outras cidades – ou pinacotecas.Pois bem, a inauguração de PARTE do prédio do Dops como Memorial da Resistência é um fato importante. Uma primeira etapa, certamente.E daí?O resto do prédio vai continuar exibindo pinturas, como bem comportada pinacoteca/centro cultural. Os fantasmas continuam vagando por lá.A minha proposta é que, depois dessa primeira etapa, lutemos por transformar TODO o prédio do Dops no museu que documente a violência do Estado brasileiro, em toda nossa história: dos índios massacrados e escravizados, dos africanos escravizados, dos migrantes explorados – e ali pertinho estão os coreanos, bolivianos e peruanos ainda hoje submetidos a um regime de trabalho idêntico ao que Marx descrevia nas "sweat shops" inglesas do início do Século XIX – dos camponeses, dos operários, de todos os movimentos populares...O museu não eliminará o caráter de classe do Estado brasileiro, é claro. Mas, sim, expressará um avanço democrático: mostrar as contradições que se expressariam inclusive pelo fato de se exibir o legado sangrento sobre o qual repousa a nossa – fragilíssima – democracia.Isso é que eu queria ver se Serra, Sayad e companhia tem peito para fazer. E nós, para exigir.Felipe Lindoso.
Foto 1 - Alipio Freire e as duas filhas da Joelma;Foto 2 - A fala de Raphael Martinelli (ao fundo, Marcelo Araújo - diretor da Pinacoteca do Estado);Fotos 3 e 4 - A fala de Ivan Seixas (ao fundo, Paulo Abrão - presidente da Comissão de Anistia).
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Por: Carlinhos Medeiros às 06:53 0 comentários links
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