Nem por esperteza, Alckmin demonstrou sensibilidade
É trágica a maneira como o PSDB joga pela janela oportunidades políticas.
A vulnerabilidade central do partido é a insensibilidade social. Mesmo
no bem avaliado governo Aécio Neves, a crítica central era a falta de
preocupação social. Em São Paulo, a arrogância administrativa, das
decisões de gabinete, sem nenhuma preocupação em ouvir, planejar ações.
Aí o partido reune sua executiva para pensar o futuro. As únicas fontes
de pensamento "novo" são financistas, exclusivamente preocupados em
vender o peixe do mercado para o partido.
Curiosamente, foi Geraldo Alckmin o primeiro político de peso do PSDB a
perceber a emergência de novos valores. Ainda na campanha, mostrou as
vantagens de programas tipo "Minha Casa, Minha Vida" sobre o modelo
autárquico do CDHU. Entendeu a importância da colaboração federativa.
Percebeu a relevância de reduzir o estado de guerra com o professorado,
praticar o relacionamento civilizado com prefeitura e lideranças de
bairro. Até ensaiou algumas ações administrativas colaborativas,
juntando várias secretarias de governo e a prefeitura.
De repente, surge a grande oportunidade: 6.000 pessoas morando em uma
área de disputa jurídica. Não são aventureiros, não são invasores
forçando a barra para conseguir imóveis para futura negociação. São
famílias que se estabeleceram ao longo de anos, criando uma comunidade
com velhos, crianças, mulheres, mães e pais de família, que levantaram
suas casas em regime de mutirão, firmaram-se nos seus empregos,
colocaram suas crianças nas escolas, criaram uma comunidade sem nenhuma
ajuda do poder público.
Seria o momento máximo de inaugurar uma nova era. Um governador
minimamente competente teria convocado a Secretaria de Assistência
Social, o CDHU, a Secretaria da Justiça e da Defesa, a prefeitura de São
José dos Campos, grandes empresas instaladas na região para um plano
integrado destinado a encontrar uma solução para a comunidade de
Pinheirinho.
Não se espere de Alckmin nenhuma sensibilidade social. Só um amorfo
moral para ordenar as ações da PM contra familias indefesas, em nome da
ordem - como se estivesse tratando com marginais do PCC. Mas
considere-se que, para quem almeja vôos altos, o exercício da esperteza
política é fundamental.
Tivesse tratado o caso com um mínimo de esperteza, Alckmin estaria
inaugurando um conjunto habitacional. As televisões mostrariam imagens
de crianças brincando nas praças do conjunto, velhos se aquecendo ao sol
de São José, pais de família voltando para casa e encontrando os seus
em segurança. Estudos acadêmicos, no futuro, analisariam uma comunidade
viva, com relacionamentos construídos ao longo desses anos, com a
solidariedade dos vizinhos de outros bairros, que se auto-organizou ao
largo do poder público. E falariam do governador sábio que impediu que
essa riqueza social - uma comunidade que se auto-organizou - se perdesse
sob os tratores e os cassetetes da polícia.
No entanto, o que se viu foi um festival de fotos trágicas, de mães
carregando filhos ao colo, chorando, tendo ao fundo as fogueiras
provocadas por governantes imbecis. Fotos de batalhões da PM, com
cassetetes, escudos, capacetes, enfrentando familias com crianças e
velhos. E, como defensores das famílias, políticos do PSOL se
legitimando junto a uma rapaziada que ainda acredita na responsabilidade
social como fator de mobilização política.
Que as fotos das mães e filhos chorando as casas perdidas sejam uma maldição a acompanhar Alckmin pelo resto da vida política.
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Do Blog O Esquerdopata.
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