“Nosso
norte é o sul. Estamos onde deveríamos estar sempre”, disse o
presidente da Venezuela, Hugo Chavez, ao final da Cúpula Extraordinária
do Mercosul, nesta terça-feira (31), em Brasília, que oficializou o
ingresso do país no bloco econômico. A presidenta brasileira e “pro
tempore” do Mercosul, Dilma Rousseff, destacou que “o Mercosul deve
permanecer como parte importante do nosso desenvolvimento. O mercado
regional se torna mais precioso diante da crise econômica mundial”.
Após duas horas de reunião no Palácio do Planalto, os quatro presidentes
sulamericanos fizeram uma declaração à imprensa, enfatizando a
importância e necessidade da integração entre os países da América
Latina para o desenvolvimento da região com inclusão social e
distribuição de renda.
Além de Chavez e Dilma, falaram o presidente do Uruguai, José Mujica e a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner.
A presidenta Dilma Rousseff - a primeira a falar – fez uma avaliação do
ponto de vista econômico da participação da Venezuela no bloco, que
transforma os quatro países integrantes a quinta maior economia do
mundo. O presidente Chavez, citando o líder Simon Bolívar, enfatizou a
importância política da união entre os países da região.
Essa nova etapa do Mercosul, ampliada com o ingresso da Venezuela, que
estende o bloco da Patagônica ao Caribe, consolida a região como
potência energética e alimentar, destacou a presidenta Dilma. “A
Venezuela amplia as potencialidades do bloco. Agora há espaço ainda
maior para crescimento do comércio, dos investimentos e integração das
cadeias produtivas entre as nossas nações”, convidando os setores
industriais a participarem dessa fase de crescimento econômico.
Ela também falou sobre o trabalho que deve ser feito pelos governos dos
quatro países: “Do ponto de vista dos governos, há importante trabalho
técnico a ser feito”, disse, anunciando a primeira rodada de trabalhos
técnicos no final de agosto e a próxima reunião de cúpula em dezembro.
Entre as decisões importantes adotadas pelo Mercosul, Dilma Rousseff
destacou o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem) como
a experiência mais bem sucedida para reduzir as assimetrias e promover
desenvolvimento equilibrado.
E anunciou que, com a Presidência Pro Tempore, o Brasil vai se esforçar
para garantir volume significativo de crédito é importante para garantir
esse desenvolvimento. “Vamos buscar todos os mecanismos de crédito,
dentro e fora do Mercosul”, afirmou.
O Mercosul deve permanecer como parte importante do nosso
desenvolvimento para fazer face ao grave quadro de economia
internacional. O patrimônio que acumulamos no mercado regional se torna
mais precioso. A Venezuela amplia as capacidades internas, reforça os
recursos e abre oportunidades a vários empreendimentos, avaliou a
presidenta.
Sem retaliações ao Paraguai
Sobre o Paraguai, assunto debatido na reunião, a presidenta Dilma
Rousseff disse que o Brasil, assim como demais países , apresentaram
posição clara sobre compromisso inequívoco com a democracia e que o
Mercosul e a Unasul agem de forma coordenada para preservar e fortalecer
a democracia na nossa região.
E disse ainda que “não somos favoráveis a retaliações econômica s que
possam causar prejuízo os povo paraguaio. Mantivemos nossos projetos com
recursos do Focem”, avisou, manifestando interesse que o Paraguai
normalize a situação interna para reaver sua posição dentro do Mercosul.
Formando a história
Chavez falou em seguida, de pé, cumprimentou a todos e disse que existem
eventos que vão formando a história viva. Segundo ele, o evento de hoje
tem semelhança com as eleições de Luis Inácio Lula da Silva como
presidente do Brasil, Nestor Kischner como presidente da Argentina e
Tabaré Vasquéz no Uruguai. E atrás desses políticos, Chavez destacou
“esse imenso povo, que é um só povo”.
A partir de hoje entramos em um novo período de aceleração da história
que estamos construindo. Com mudanças profundas nesses anos que teremos
pela frente. Os eventos futuros serão maiores do que o que presenciamos,
afirmou Chavez. E, parodiando Bolívar, disse: “Esse é o nosso lugar na
história. Dentro dessa grande pátria (a América Latina), tendo o
Mercosul como um grande motor: onde eu estou, eu estou completo, a
Venezuela chega plenamente, com toda nossa força, todo nosso desejo”.
Dívida social
O presidente do Uruguai também falou. Mujica destacou “a imensa dívida
social que temos nessa terra, que é rico, mas é o mais injusto. Esse é o
preço que pagamos ao longo da história, porque perdemos tempo demais
olhando para o mundo rico sem olhar para nós. A nossa forma de vida
ignorava os vizinhos, deixando de lado os aborígenes, analfabetos e
pobres. Estamos tentando refazer nossa história”.
Ele, a exemplo do Chavez, destacou os novos tempos em que “o mundo rico
está em crise e nós, pobres de nós, estamos nos saindo bastante bem”. E,
concordando com a presidenta Dilma, disse que temos desafio imenso para
vencer os interesses de classe e a trazer a grande maioria para esse
debate e para que participem da construção da história do futuro, “que
deve ser escrita pelos nossos exércitos de reserva, os que foram
esquecidos, considerados causa perdida, mas que deve ser o centro da
nossa causa – essa multidão anônima”.
Fim da solidão
A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner , foi a última a falar. Ela
ressaltou as palavras de Chávez, dizendo que com a chegada de Lula e
Kirchner ao poder, surgiram os projetos nacionais, sociais e
democráticos. E ressaltou ainda que “é preciso criar um meio para que
seja indestrutível esse novo modo de governo. Não estamos falando só de
política econômica, mas da luta pelo poder”, observou.
“Nós representamos essa força social, essa força histórica dos nossos
povos que se juntam para por fim a solidão, porque nós nos
encontramos”, concluiu.
Sobre a crise econômica, a presidenta argentina observou que os países
desenvolvidos podem ficar tranquilos porque “Brasil, Argentina e Uruguai
vamos continuar garantindo a soberania alimentar a esses países”,
acrescentando que “o mundo está assim por causa da insegurança que eles
geraram nos grandes centros financeiros, com paraísos fiscais onde estão
mais de 400 bilhões de dólares, muitos vindos de nossas próprias
economias”.
Fundado em 1991, o Mercosul estimula as relações comerciais entre os
quatro países (Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil). Com a entrada da
Venezuela, o bloco econômico reunirá 270 milhões de habitantes ou 60% da
população do continente sulamericano e R$ 3,3 trilhões ou 83% do PIB
(Produto Interno Bruto) da região.
De Brasília
Márcia Xavier
Colaborou Vanessa Silva