Os jornais O Globo e Folha de São Paulo e uma horda de extremistas de
direita na internet vibram com os anátemas despudorados, cínicos e
farsescos dessas agências de propaganda política disfarçadas de
“imprensa”. Estão tendo orgasmos com a conduta vergonhosa do Supremo
Tribunal Federal de se agachar diante de uma mídia que quer mandar no
Brasil.
Tanto os jornais quanto os fanáticos, que não representam mais do que
uma diminuta fração do povo brasileiro, também tentam vender à sociedade
uma teoria delirante, acima de tudo: o Partido dos Trabalhadores, com
seu 1,5 milhão de filiados, é que estaria sendo julgado na principal
Corte de Justiça do país.
A teoria dessa escória é a de que a condenação de um político do PT –
que nada tem de diferente das condenações de políticos de outras
legendas – conspurcaria a imagem do partido inteiro e, acima de tudo, do
governo Lula.
Entendem-se os desejos desses aspirantes a déspota: como não têm votos,
como o povo diz não às suas teses eleição após eleição, o único caminho
para voltarem a maltratar o brasileiro humilde em governos alienados dos
dramas sociais que afligem o país é o tapetão, seja da mídia ou do
Judiciário, pois há muito que deixaram de ser levados a sério.
A prova de que a sociedade brasileira enxerga que o julgamento do
mensalão, como está ocorrendo, é uma farsa urdida por empresários de
mídia, partidos de direita e considerável parcela de juízes do STF
sequiosos por holofotes e covardes demais para exercer o Direito fica
visível no processo eleitoral deste ano assim como nas eleições de anos
anteriores.
Escrevo logo após a leitura da matéria do jornal O Estado de São Paulo
sobre a última pesquisa da corrida eleitoral em São Paulo. Essa
pesquisa, segundo informações que obtive, caiu como uma bomba nas
redações da imprensa tucana, que estão perplexas.
O candidato do Partido dos Trabalhadores – partido que a mídia e seus
bate-paus na internet querem colocar na ilegalidade – a prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad, acaba de empatar tecnicamente com José Serra,
que a direita esperava que fosse o grande beneficiado pelo julgamento do
mensalão.
O excesso midiático sobre esse julgamento, porém, finalmente foi longe
demais. Ouso dizer que a maioria dos brasileiros está enojada com a
diferença de tratamento que esses veículos dão a escândalos dos
políticos seus aliados (como Serra) e aos escândalos envolvendo
políticos inimigos (Lula, Dilma e o PT).
A desmoralização de Serra é composta por uma miríade de fatores, sendo a
queda livre da qualidade de vida em São Paulo a mais decisiva. E olhem
que a maioria dos paulistanos sequer sabe da Privataria Tucana, dos
milhões de dólares que a filha do tucano e outros parentes dele
receberam do exterior durante a venda do patrimônio público pelo governo
FHC…
A blindagem de Serra pela mídia, assim, chega ao inimaginável. O
eleitorado paulistano o rejeita sem saber que seu governo e o de seu
afilhado, Gilberto Kassab, está sendo investigado pelo Ministério
Público paulista por fraude em contrato de coleta de lixo celebrado
entre a prefeitura e a construtora Delta, contrato que pulou de R$ 300
milhões para R$ 700 milhões.
Ainda assim, esses facínoras que se auto-intitulam “jornalistas” e
“publishers” pregam, literalmente, que “o PT” inteiro seja criminalizado
e até preso, o que é, também, um delírio autoritário forjado na
ideologia de uma “imprensa” que já colocou partidos na clandestinidade e
o Brasil em uma ditadura de vinte anos.
O povo brasileiro deixou de acreditar nessa gente há quase uma década.
De lá para cá, foram inúmeras as tentativas de destruir o Partido dos
Trabalhadores e a honra de Lula. Mas a teoria de que todo o partido está
sendo julgado no STF, acho que foi a gota d’água.
Neste momento, por conta da tentativa da mídia de criminalizar todo o PT
pelo suposto ato de um petista, muita gente está se lembrando do
ex-diretor do jornal O Estado de São Paulo Antonio Marcos Pimenta Neves,
assassino confesso de uma colega de trabalho com quem mantinha um
relacionamento amoroso.
Em 2000, esse jornalista apareceu na chácara da família da vítima, a
também jornalista Sandra Gomide, dizendo que viera almoçar, apesar de
ela ter rompido o relacionamento com ele. Tinha vindo, na verdade,
tentar reconciliação, mas ela recusou. Pimenta Neves, então, sacou uma
arma e atingiu Sandra com dois tiros, sendo um pelas costas e outro no
ouvido.
Entre 1999 e 2000, por então ser colaborador freqüente da sessão de
cartas de leitores do Estadão, recebi algumas chamadas telefônicas de
Pimenta Neves em minha residência, pois toda carta que enviava ao jornal
tinha que ter nome, endereço, RG e telefone. Ele me ligava para debater
minhas posições políticas antagônicas às do jornal.
Pimenta Neves era (?) o reacionário clássico. Chamava a resistência à
ditadura de “terrorismo”, demonstrava desprezo pela simples idéia de
políticas sociais e, como todo entusiasta daquela ditadura e do
ultraconservadorismo que hoje permeia a mídia, julgava-se todo-poderoso.
Quando leio esses colunistas da Folha, do Estadão, da Veja etc., lembro
muito do que ouvia de Pimenta Neves ao telefone, inclusive poucas
semanas antes de ele matar aquela garota pelas costas. Todavia, nunca
propaguei a tese de que seu crime conspurcava toda uma grande imprensa
repleta de pessoas com ideologias análogas à sua.
Pimenta Neves, criminoso confesso contra o qual nunca houve dúvida da
autoria do crime, não conspurca a imprensa assim como o deputado João
Paulo Cunha, cuja culpa decretada pelo STF ficou longe de ter sido
provada – decorrendo, apenas, de subjetividade e de interesses outros
dos magistrados –, não enlameia o PT.
A tese que tenta macular uma era de ouro que o Brasil viveu ao longo da
primeira década do século XXI, portanto, é repudiada pela maioria
absoluta dos brasileiros, que as pesquisas mostram que continua apoiando
o Partido dos Trabalhadores. E as urnas, neste ano e nos próximos,
mostrarão isso a esses aspirantes a ditador da mídia golpista.