sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Serra cai, Haddad sobe e empata com Serra. E agora José?

Haddad tem crescido 1 ponto percentual por dia após o início da propaganda eleitoral, quanto mais conhecido, mais eleitores ganha, sua margem de crescimento ainda é alta. Seu índice de rejeição bem baixo.
Serra já era?
Por: *Wagner Iglecias, especial para o Maria Frô
31/08/2012
As pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta semana para a prefeitura de São Paulo trouxeram boas novidades para Celso Russomano (PRB), que parece ir se consolidando na liderança, e para Fernando Haddad, que vai crescendo à medida em que passa a ser mais conhecido do eleitorado e reconhecido como o candidato do PT. A José Serra, do PSDB, couberam péssimas notícias, de queda nas intenções de voto e de aumento vigoroso no índice de rejeição. Pergunta: como pode aquele que era considerado favorito na disputa, há algumas semanas, estar enfrentando este cenário, com chances de nem mesmo qualificar-se para o 2º turno?
As razões devem ser muitas. Uma delas, óbvia, é o apoio de Gilberto Kassab e a imediata associação que o eleitor faz de Serra com uma gestão que é avaliada pela maioria dos paulistanos como bastante ruim. De fato há em São Paulo neste momento uma aspiração por mudança, ainda que vaga. E, talvez indo mais além, pode estar se gestando um sentimento, ainda meio difuso, de percepção de esgotamento de material, relativo não apenas a Kassab e a Serra, mas ao consórcio que domina a cidade há quase uma década e que se encontra no comando do estado há quase vinte anos.
Mas a questão não é só essa. A questão é Serra, a forma como se relaciona com o meio político e a maneira como se apresenta à sociedade. Sobre o meio político é notória a quantidade de desafetos que colecionou. Em relação à forma como se apresenta a sociedade, lembremos que nos últimos dez anos Serra disputou simplesmente quatro das cinco eleições possíveis. Provavelmente seja um caso único num período tão curto de tempo. Foi candidato à presidência da república em 2002, à prefeitura de São Paulo em 2004, ao governo do estado em 2006 e novamente à presidência em 2010. E sempre com o velho mote da casinha pobre da Moóca, da banca de frutas do Mercado Municipal, do homem dos genéricos, do melhor ministro da saúde que este país já teve, do criador das escolas técnicas, do criador dos mutirões da saúde etc, etc, etc. Fez campanhas errantes – por vezes colocou-se claramente como o candidato anti-PT, como na eleição contra Marta Suplicy, em 2004. Por outras, tentou apresentar-se como o oposto disto. Quem não se lembra do ?Zé amigo do Lula?, ou do ?sai o Lula, entra o Zé?, de 2010? Por falar em 2010, carregou sua biografia e seu partido para geografias sociais e políticas relativamente ?exóticas? ao militante tucano mais tradicional, como quando aproximou-se de lideranças católicas conservadoras e pastores das mais variadas denominações evangélicas. Acabou com isto ou para isto levando para a campanha presidencial daquele ano uma agenda calcada em questões morais que fariam corar o antigo economista que um dia escreveu livros e artigos sobre a economia brasileira e sua inserção na ordem mundial.

Fonte: Ibope, Ifográfico: A/E
Nesta eleição à prefeitura de São Paulo Serra enfrenta um desafio adicional: é um homem de 70 anos, o mais velho entre todos os candidatos. A foto da tentativa mal-sucedida de subir num simples skate virou piada nas redes sociais. A estréia no horário eleitoral na televisão, vestindo jogging, andando de bicicleta e empinando pipa também não convenceu. Assim como já tinha soado artificial sua aparição pública para assistir aos jogos do Brasil na Copa do Mundo de 2010 e soou o recente passeio de metrô às 13hs, entre duas estações situadas numa das mais nobres regiões da cidade. Até o jingle da campanha, baseado no ?tchu, tcha?, de claro apelo popular, não pegou como se esperava. Embora toque na novela, seu timing já foi e muita gente não aguenta mais ouvir a grudenta e repetitiva melodia.
Tudo, ou quase tudo na campanha serrista soa pouco espontâneo. Sobretudo aos mais jovens, à garotada que vive online, uma geração para quem cargos, títulos ou autoridade já não convencem muito, e que só respeita mesmo duas coisas: autenticidade e bons argumentos. Não é a toa que, de acordo com o Datafolha desta semana, entre os jovens de 16 a 34 anos Serra conta com impressionantes 50% de rejeição. Tenho cá pra mim que se o recorte fosse entre os 16 e 24 anos, quando se é, efetivamente, jovem, este índice seria até maior.
Passa por Serra e pelos homens de sua campanha, porém, o futuro da eleição paulistana. Os números que as pesquisas estão trazendo são dramáticos para o tucano, mas ainda há tempo de campanha e o jogo está aberto. Embora a situação seja bastante delicada para Serra, talvez estejam demonstrando muito açodamento os que, de forma até eufórica, já o consideram carta fora do baralho. O que resta ao tucano é inevitavelmente partir para o ataque. Para sobreviver, no entanto, em quem Serra baterá? Em Russomano, para disputar a vaga do pólo conservador no 2o. turno, a partir da premissa de que Haddad vai garantir a outra vaga com os votos do pólo progressista da cidade? Ou vai bater em Haddad, a partir da premissa que a vaga de Russomano no 2o. turno já está garantida? Passa por Serra, mais do que nunca, o que será desta eleição em São Paulo. Quem poderia, semanas atrás, dizer que de favorito Serra passaria à condição de fiel da balança?
*Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

Do Maria Frô.

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