segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sobre jornalistas e tarefeiros

Leandro Fortes

Entre os jornalistas de Brasília, sobretudo os mais velhos, há mais gente impressionada com o fato de eu ter denunciado as ligações de colegas de ofício com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira do que com a denúncia em si. Ou seja, o que causa surpresa não é o fato de jornalistas serem pegos em meio a negociatas, encomendas e tráfico de informações produzidas de forma criminosa por um esquema de máfia, mas a ousadia de quem as denuncia.
Dentro de uma categoria, a única no mundo, onde existem pessoas que defendem o fim do próprio diploma, esse surto de corporativismo chega a ser surpreendente.
Não por outra razão, o silêncio imposto à CPI do Cachoeira sobre as relações da mídia com o bicheiro encarcerado no presídio da Papuda, em Brasília, vai muito além do cerco à convocação do diretor da Veja, Policarpo Jr. Trata-se de um desses movimentos que dependem muito mais da omissão dos bons do que da ação de canalhas.
Ainda dona da maior parte dos empregos, as grandes corporações de mídia sufocam a crítica dentro das redações, impõem doutrinas restritivas de cobertura, estabelecem um pensamento único e uniforme por meio de batalhões de colunistas e se retroalimentam a partir de cursinhos de trainee voltados para a criação de monstrinhos corporativos.
Pautam, enfim, o comportamento do jornalista, profissional cada vez mais instado a relegar pretensões de livre pensador em favor de uma rotina burocrática na qual passa a atuar como tarefeiro de notícias.
Tabu em todas as redações da velha mídia, a discussão sobre essas relações promíscuas entre jornalistas e fontes bandidas têm sido, assim, mascaradas como expediente normal e aceitável, embora os relatórios da Polícia Federal e da CPI demonstrem, justamente, o contrário.

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