quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

MPF deve apurar caso de espionagem em Belo Monte

Desde seu anúncio, em meados de 2007, a construção da hidrelétrica de Belo Monte gerou debates entre diversos setores da sociedade civil e do próprio governo sobre os impactos ambientais do empreendimento e modelo de desenvolvimento representados pela obra na região Norte. Três anos após a obra ser licitada, as tensões entre os diferentes movimentos – contrários ou a favor da construção – se agravaram. Nesta segunda-feira 25, o Ministério Público Federal recebeu uma representação do Movimento Xingu Vivo Para Sempre com informações sobre um suposto esquema de espionagem, financiado pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) com o apoio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), contra os movimentos sociais e sindicais que se opõem à construção da hidrelétrica na bacia do Xingu.
Trecho do rio Xingu (foto), onde está sendo construída a usina de Belo Monte. Foto: NYT
Trecho do rio Xingu (foto), onde está sendo construída a usina de Belo Monte.
Foto: NYT
O caso veio à tona após um empregado do consórcio ser flagrado espionando e gravando uma reunião de planejamento do grupo, realizada no domingo 24, com uma caneta espiã. Chama a atenção a suposta participação de uma agência do governo federal no esquema.
Após ser pego, o empregado concordou em gravar um depoimento para a ONG Repórter Brasil, no qual diz ganhar cerca de 5 mil reais por mês para repassar informações de dentro das reuniões dos movimentos sociais. Ele se identifica como funcionário do consórcio.
Por meio de sua atuação, diz o empregado, o consórcio conseguia subsídios para pedir a prisão de líderes sindicais ou demitir funcionários descontentes a fim de evitar mobilizações e greves que poderiam impedir o ritmo das obras.
O agente, que apresentou crachá e carteira profissional na qual consta o registro do CCBM, acredita que seu trabalho foi decisivo para a prisão dos cinco acusados de terem comandado a última revolta de trabalhadores nos canteiros de Belo Monte, ocorrida em novembro do ano passado, e na demissão de cerca de 80 trabalhadores. O funcionário espião repassava informações para o consórcio construtor desde o segundo semestre do ano passado e se diz arrependido.
A suspeita foi encaminha para o Ministério Público Federal pelo advogado do Movimento Xingu Vivo, Marco Apolo Santana Leão. O MPF, no entanto, disse a CartaCapital não ter tido tempo para analisar o documento e se pronunciar. O empregado do CCBM havia concordado na noite de domingo 24 em prestar depoimento ao MPF, mas depois voltou atrás, segundo informações da ONG Repórter Brasil.
De acordo com o movimento Xingu Vivo, após recorrer da decisão de depor ao MPF, o funcionário enviou uma ameaça em uma mensagem por celular para um dos integrantes: “vocês me ameaçaram, fizeram eu entrar no carro, invadiram minha casa sem ordem judicial. Isso é que é crime. Vou processar todos do Xingu Vivo. Minha filha menor e minha mulher são minhas testemunhas. Sofri danos morais e violência física. E vocês vão se arrepender do que fizeram comigo”.
Até o momento, a única resposta do consórcio frente à denúncia foi dada por meio da nota divulgada na segunda-feira 25: “O Consórcio Construtor Belo Monte, que até o momento não foi informado sobre o suposto fato, não tem como prática o envio de observadores a eventos promovidos por outros órgãos ou instituições”.
A Abin e o governo federal não se pronunciaram a respeito do tema.
O movimento afirmou, em nota, que “apesar da atitude criminosa” e de “não eximi-lo (o empregado) de sua responsabilidade”, “entende que o maior criminoso neste caso é o Consórcio Construtor Belo Monte, que usou de seu poder coercitivo e financeiro para transformar um de seus funcionários em alcaguete”.  O grupo cobra a responsabilização da empresa e do governo federal devido à participação da Abin e diz que considera “inadmissível que estas práticas ocorram em um estado democrático de direito”.
Os movimentos sociais contrários à construção da hidrelétrica reclamam, principalmente, dos impactos socioambientais previstos, do desmatamento e de problemas técnicos no planejamento e execução do projeto. Segundo a ONG Repórter Brasil, os opositores defendem a interrupção da construção da barragem e têm seguidamente apresentado denúncias de problemas graves decorrentes da obra.
No CartaCapital

Flagrado durante reunião do Movimento Xingu Vivo para Sempre usando caneta espiã, funcionário do Consórcio Construtor Belo Monte confessa que recebia 5 mil reais para passar informações ha mais de 2 meses sobre atividades do movimento. Estas seriam analisadas pela ABIN, segundo o alcagoete.
 

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