O Brasil já cultivou ressentimentos irracionais em relação a Getúlio,
JK, Jango e, agora, ao metalúrgico que ainda é a principal força
política do País
Leonardo Attuch
Teve início, neste fim de semana, um movimento organizado de ataque ao
ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro, a
reportagem sobre a suposta chantagem exercida por ele contra Gilmar
Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, para adiar o julgamento do
mensalão, já desmentida pelo anfitrião do encontro, Nelson Jobim.
Depois disso, críticas espalhadas pela rede sobre o comportamento
indecoroso de Lula diante das instituições e até ironias relacionadas ao
uso de remédios para o tratamento contra o câncer na laringe. Por fim,
vozes mais radicais cobrando até a prisão do ex-presidente.
Por que será que Lula, depois de oito anos de governo, tendo deixado o
Palácio Planalto com recordes de aprovação, tanto junto ao povão quanto
às elites, que se tornaram ainda mais ricas, desperta tanto
ressentimento? A resposta é uma só: goste-se ou não dele, Lula ainda é a
principal força política do Brasil. E é uma força viva, que pode voltar
ao poder em 2014 ou em 2018.
Mas essa seria uma análise objetiva, dos que fazem cálculos frios nos
jogos de poder. Ocorre que o ressentimento em relação a Lula, muitas
vezes, é irracional. Como pode um retirante, metalúrgico, sem educação
formal ter chegado tão longe? É isso que incomoda boa parte da classe
média brasileira.
Sentimentos assim já houve no passado em relação a outros líderes
políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart ou mesmo Juscelino
Kubitschek. Os paulistas odiavam Getúlio e nunca lhe deram um nome de
avenida. Mas poucos fizeram tanto pela industrialização do estado, que
começou a se libertar do atraso cafeeiro, como o líder trabalhista. Os
militares também odiavam JK, mas, no poder, tentaram reproduzir sua
visão de “Brasil Grande”. E os que vierem depois de Lula, de certa
forma, serão escravos do seu modelo de inclusão social.
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