Vou pedir licença aos leitores, aproveitando a trégua da política e as atenções voltadas ao início das Olimpíadas, para fazer uma reflexão sobre o nosso ofício de jornalista e a importância da informação neste globalizado mundo cibernético, em suas diferentes plataformas, para cada um de nós.
O que me levou a escrever este texto foi um breve diálogo que tive com a minha neta mais velha, na semana passada, e o debate entre os diretores dos quatro principais diários do país sobre o futuro do jornalismo impresso, resumido em duas páginas de "O Globo" em sua edição desta quarta-feira.
Como costumo fazer sempre que saio do meu trabalho de comentarista político do Jornal da Record News, o programa diário comandado por Heródoto Barbeiro, liguei para a minha mulher, mas quem atendeu no celular dela foi Laura, minha neta de 9 anos, que estava assistindo ao telejornal no nosso sítio onde a família passa férias.
"Vovô, o que você fala é muito importante para o país", sapecou a menina, sem dar maiores explicações.
"Quem te falou isso, Laurinha?", procurei saber, surpreso com o que ouvi.
"Ninguem me falou, eu acho... Mas quero te dizer que você também é muito importante pra mim, estou com saudade..."
Nem me lembro qual era o tema do comentário. Só sei que, em meus quase 50 anos de profissão, foi o maior elogio que recebi na vida, como jornalista e como avô.
Lembrei-me da conversa com Laurinha quando li na hora do almoço a copiosa matéria sobre "O papel do jornal", tema do debate entre o diretor de conteúdo do "Estadão", Ricardo Gandour, o editor executivo da "Folha", Sérgio Dávila, a diretora de redação do "Valor", Vera Brandimarte, e o diretor de redação de "O Globo", Ascânio Seleme.
Com exceção de Vera Brandimarte, conheço bem e já tive longas conversas com estes outros três chefes de redação sobre os rumos do jornalismo após o advento da internet, a maior revolução nas comunicações humanas nos últimos 500 anos, desde a invenção da imprensa por aquele alemão metido a besta, o Johannes Gutemberg.
"Diretores de redação de quatro diários dizem que futuro do impresso é apostar em análise e aprofundamento das notícias", diz o olho da matéria de Carla Rocha e Selma Schmidt. Até aí, estamos todos de acordo.
As repórteres resumem assim o que foi discutido no auditório de "O Globo":
"O desafio do jornalismo impresso é se adaptar aos novos tempos e descobrir como fazer a notícia chegar ao leitor não como uma coisa velha, mas como algo novo, instigante, com conteúdo, projeções e análises".
Para quem, como eu, leu na véspera as notícias publicadas nos três grandes portais de informação do país, que pertencem aos mesmos donos dos três maiores jornais (Folha, Globo e Estado), responsáveis por mais de 90% de toda matéria-prima informativa produzida no país, não havia nenhuma novidade nos impressos nesta quarta-feira.
O problema é como fazer isso para diferenciar um veículo do outro e cada um deles das outras mídias para torná-lo um "produto de primeira necessidade", como queria, muitos anos atrás, Octavio Frias de Oliveira, o dono que recriou a "Folha de S. Paulo", hoje o maior jornal do país.
Entre o discurso e a realidade, a distância ainda é imensa. Quem mais se aproximou do caminho ainda a ser desbravado foi Ascânio Seleme, o diretor de "O Globo", ao defender que é preciso apostar cada vez mais em qualidade e em reportagens com conteúdo e análises. "O leitor espera mais desdobramento, análise, mais debate e mais profundidade".
Foi a única vez que apareceu a palavra "reportagem" em todo o resumo do debate, um sinal de que o caminho mais óbvio para alcançar os objetivos desejados por quem luta pela sobrevivência do jornal impresso, ou seja, contar bem contada uma história original, capaz de surpreender o leitor e que a concorrência não tem, ainda é o mais esquecido nesta história.
Qualquer que seja a plataforma, o nosso desafio diário é garimpar novas histórias e informações relevantes, e descobrir a importância de cada uma delas para o nosso público. O futuro do jornal de papel eu não sei qual será _ vai depender do que cada um de nós for capaz de fazer para preencher as páginas em branco e despertar o interesse de sua excelência, o leitor, como ensinava o velho Frias.
Se depender da Laurinha, que desde pequena habituou-se a ler e comentar comigo as notícias do jornal de papel, nosso futuro está garantido.
Blog do Ricardo Kotscho.
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