A revista Carta Capital disponibilizou ontem à noite os documentos que embasaram a reportagem de Leandro Fortes. Com eles em mãos, já é possível fazermos uma avaliação mais sóbria.
Marcos Valério, através de seu advogado, alega que a lista é falsa. É
possível que seja, mas não é provável. O motivo é simples. Os valores
que constam nos recibos correspondem, na quase totalidade dos casos, aos
valores constantes das listas. Mais ainda. Quando há DIVERGÊNCIA entre
os valores da lista e os constantes nos recibos, essa divergência
obedece a um padrão uniforme que, como veremos, REFORÇA a hipótese de a
lista ser autêntica.
Se comparamos os recibos com os pagamentos declarados na lista, a
concordância é quase total. Eis aqui a lista dos recibos que
correspondem exatamente aos valores discriminados na lista. Listei-os
por ordem decrescente de valor para fazer uma observação importante a
seguir:
Maria Cristina Cardoso de Mello 175.000,00
Maurílio Borges Bernardes 125.000,00
Fábio Valença 91.457,28
Jaldo Retes Dolabela 53.025,00
Afonso Celso Dias 50.000,00
Luiz Flávio Vilela Mesquita 50.000,00
Nei Martins Junqueira 50.000,00
Vagner Nascimento Junior 30.000,00
Antônio Marum 25.000,00
Cláudio Pereira 25.000,00
Ermino Batista Filho 25.000,00
Gilberto Rodrigues de Oliveira 25.000,00
Gilberto Wagner/
Mario Luis P. Pereira 25.000,00
Márcio Luiz Murta 25.000,00
Baldomedo Artur Napoleão 23.000,00
Edson Brauner da Silva 20.000,00
Honório José Franco 20.000,00
Ivone de Oliveira Loureiro 20.000,00
Maria Ângela Arcanjo 20.000,00
Marlene Arlanda Caldeira 20.000,00
Martins Adélio Gomes 20.000,00
Olavo Bilac Pinto Neto 20.000,00
Ricardo Desotti Costa 20.000,00
Rosane Aparecida Moreira 20.000,00
Wilfrido Albuquerque Oliveira 20.000,00
Ajalmar José da Silva 15.000,00
Arnaldo Francisco Penha 15.000,00
Clemente Sarmento Petroni 15.000,00
Francisco Ramalho 15.000,00
João Manoel Rathsam 15.000,00
Maria Olívia de Castro Oliveira 15.000,00
Maurício Antônio Figueiredo 15.000,00
Obed Alves Guimarães 15.000,00
Odair Ribeiro Vidal 15.000,00
Sonia Maria Salles Campos 15.000,00
Eder Antônio Madeira 12.000,00
Geruza Pereira Cardoso 12.000,00
Naylor Andrade Vilela 12.000,00
Maria Eustáquia de Castro 11.000,00
Aldimar Dima Rodrigues 10.000,00
Alencar Magalhães da Silveira Jr. 10.000,00
Grupo Hum Prop./Marketing 10.000,00
Marcelo Jerônimo Gonçalves 10.000,00
Rui Resende 10.000,00
Tarcísio Henriques 10.000,00
Vilda Maria Bittencourt 10.000,00
José Augusto Ribeiro 9.000,00
Antônio de Pádua Luma Sampaio 8.000,00
Silvana Vieira Felipe 8.000,00
Cláudio de Faria Maciel 7.000,00
Heloísa Helena Barras Escomini 5.000,00
Nelson Antônio Prata 5.000,00
José Roberto del Calle 4.000,00
Maria Aparecida Vieira 2.500,00
Maria da Conceição Almeida Alves 2.500,00
Antônio Milton Sales 2.000,00
Reparem que, se excetuarmos os quatro primeiros pagamentos, todos os
outros têm valores iguais ou menores a 50 mil reais. Ou seja, nos casos
em que os valores constantes na contabilidade de Marcos Valério
COINCIDEM com os depósitos feitos em conta corrente, os valores são
relativamente baixos. Como veremos a seguir, existem abundantes
evidências de que valores maiores que 50 mil foram divididos em vários
depósitos. Quem estava recebendo não queria acender sinais de alerta no
Banco Central e na Receita Federal. Mesmo nos quatro primeiros casos,
reparem que o terceiro e o quarto referem-se a pagamentos de mercadorias
ou serviços. Têm valores exatos, até a casa dos centavos, e muito
provavelmente foram feitos de forma regular, com nota fiscal e tudo.
Agora, os casos em que os valores depositados não batem com os valores
declarados. Pus entre parênteses os valores que constam da
contabilidade:
Alfeu Queiroga de Aguiar dois depósitos de R$25.000,00
(R$133.222,00)
Amilcar Viana Martins Filho R$6.000,00
(R$255.500,00 + R$211.726,40 (referente a multa))
Cantídio Cota de Figueiredo R$40.000,00
(R$53.000,00)
Carlos Welth Pimenta Figueiredo R$12.000,00
(R$59.000,00)
Custodio de Mattos R$20.000,00
(R$120.000,00)
Elmo Braz Soares R$6.000,00
(R$120.000,00)
Geraldo Magela Costa R$40.000,00
(R$ 5.000,00 - único caso de valor menor)
Humberto Candeias Cavalcanti R$3.000,00
(R$53.000,00)
João Batista de Oliveira R$7.000,00
(R$35.000,00)
José Pinto Resende Filho R$7.500,00 + R$15.000,00
(R$22.500,00 - fica claro o parcelamento)
Kemil Said Jumaira R$9.000,00
(R$59.000,00)
Luciano Claret Gonçalves R$15.000,00 + R$30.000,00
(R$45.000,00 - fica claro o parcelamento)
Paulo Abi Ackel R$50.000,00
(R$100.000,00)
Olinto Dias Godinho R$20.000,00
(R$120.000,00)
Romeo Anisio Jorge R$100.000,00
(R$200.000,00)
Sebastião Navarro Vieira R$9.000,00
(R$40.000,00)
Wanderley Geraldo de Ávila R$21.000,00
(R$43.900,00)
Como se vê, os poucos valores DISCORDANTES que temos entre recibos e
contabilidade da SMP&B não afetam a credibilidade do documento. Pelo
contrário, a reforçam. Em todos os casos, temos valores altos que foram
pulverizados em diversos depósitos, para driblar o Banco Central e o
fisco. Em dois casos (José Pinto Resende Filho e Luciano Claret
Gonçalves), temos o retrato completo da operação toda de pulverização,
com a soma dos recibos batendo exatamente com o valor declarado na
contabilidade de Marcos Valério.
Agora, a pergunta principal. É possível que esta lista tenha sido
falsificada? É possível, mas não é provável. A única possibilidade que
consigo imaginar é a de alguém pegando a lista original e ACRESCENTANDO
nomes que não estavam nela. Marcos Valério diz que o documento é falso. O
cartório em que ele tem firma diz que a assinatura é dele. É preciso
fazer uma perícia e verificar a autenticidade dessa assinatura. Se for
dele, o Ministro Gilmar Mendes está exatamente na mesma posição que a
maioria dos réus do mensalão. Recebeu dinheiro não contabilizado de
campanha (sabendo disso ou não), e ainda por cima mentiu ao dizer,
agora, que não recebeu coisa nenhuma. Por aquilo que sabemos até aqui,
essa lista tem tudo para ser autêntica, e é um crime que a mesmíssima
imprensa que deu publicidade ao grampo sem áudio envolvendo Demóstenes
Torres, Gilmar Mendes e Policarpo Jr. não se preocupe em pelo menos
investigar a fundo os dados fornecidos na reportagem da revista Carta Capital.
JotavêNo Advivo
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