Caçando adversários
Marcos Coimbra, no Correio Braziliense
Uma das sabedorias antigas dos mineiros ensina que, na política, não existem gestos gratuitos. Todos têm consequência.
E não só para quem os pratica. Muitas vezes, os efeitos de um ato individual atingem correligionários e companheiros.
Podem, por exemplo, afetar de maneira ampla a imagem do partido a que
pertencem. Mudam a percepção da sociedade a respeito de seus
integrantes. Quando é para o bem, ótimo. Mas pode ser para o mal.
Nesses casos, o ônus é compartilhado. Todos pagam por ele. A decisão da
Executiva Nacional do PSDB de recorrer à Justiça contra os “blogueiros
sujos” que o criticam é um desses.
O verdadeiro inspirador da ação foi o candidato do partido a prefeito de
São Paulo, mas suas consequências negativas não se circunscrevem a ele.
O gesto de Serra alcança coletivamente os tucanos.
Em si, é apenas uma reação tola. Que expectativa de sucesso tem o
ex-governador? Será que acredita que conduzir o PSDB a uma cruzada
contra os responsáveis por blogs que antipatizam com ele redundará em
alguma vantagem para sua candidatura?
Movido por sua insistência, o partido representou à Procuradoria-Geral
Eleitoral para denunciar o “uso de recursos públicos” no financiamento
de “blogs, sites e organizações” que funcionariam como “verdadeiras
centrais de coação e difamação de instituições democráticas”.
Na prática, o que o PSDB pretende é que empresas e bancos estatais sejam
proibidos de comprar espaço publicitário em blogs contrários ao partido
e às suas lideranças. A argumentação de que é movido pelo zelo de
proteger as instituições é fantasiosa. Aliás, sequer cabe aos partidos
políticos esse papel.
O que Serra quer mesmo — e não é de hoje – é impedir a manifestação de seus adversários.
Talvez tenha se acostumado com a convivência que mantém com alguns
veículos e comentaristas da nossa indústria de comunicação. De tanto
vê-los defendendo seus pontos de vista e acolhendo suas opiniões,
convenceu-se que os críticos não mereceriam lugar para se expressar.
O fascinante na argumentação é que não o incomoda (ou a seu partido) que
existam “blogs, sites e organizações (?)” — bem como revistas, jornais
e emissoras de televisão e rádio — que recebam investimentos em
propaganda do setor público e façam oposição até agressiva ao governo.
Parece que acham isso natural e que tais aplicações se justificariam
tecnicamente. Se determinado veículo tem leitores, não haveria porque
excluí-lo do plano de mídia de uma campanha de interesse de um órgão ou
empresa pública. Fazê-lo equivaleria a puni-lo por um crime de opinião.
Se vale para os órgãos de comunicação hostis ao governo e ao
“lulopetismo”, por que não se aplicaria no caso inverso? Seria errado
anunciar em blogs com visitação intensa, apenas porque seus responsáveis
não simpatizam com os tucanos?
Ou Serra e seu partido aplaudiriam se o governo proibisse que seus
órgãos comprassem espaço publicitário na imprensa oposicionista?
A decisão sobre a alocação dessas verbas pode ser questionada com base
em critérios objetivos: tem determinada emissora suficiente audiência
para cobrar seus preços? Aquele jornal tem a circulação que afirma? O
blog ou site em questão tem volume relevante de acessos?
Fora disso, é apenas castigar — ou querer castigar — quem tem opinião diferente.
Engraçado lembrar o destaque que o PSDB e suas figuras de proa, como
Fernando Henrique, veem dando à internet na discussão do futuro do
partido. Tomara que não pensem como Serra: que na internet só podem
ficar os “limpos” — que os que o aplaudem, pois os “sujos” — que o
questionam – devem ser banidos.
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