Wyre Davies
BBC News, Zintan
Uma pequena amostra da tensão vivida por grupos adversários foi presenciada por uma equipe da BBC in loco, que comprovou, em primeira mão (?), casos de tortura e prisão ilegal ocorridas no oeste do país.
Na cidade de Zintan, encravada no meio das montanhas da região, inúmeras lideranças tribais se reuniram no pátio de uma mesquita para lamentar a morte de Abdul Salam Aghuz.
Segundo relato do correspondente da BBC, o homem, de 49 anos, aparentava ter tido uma morte lenta e dolorosa, com uma grande ferida em seu corpo e sua cabeça extremamente machucada.
Aghuz foi torturado, não pelos capangas de Khadafi (ein? #Mtoloko), mas por um tribal rival de uma cidade vizinha à sua.
"O relatório do médico-legista apontou que Abdul foi agredido. As suas mãos e seus pés foram amarrados antes dele ser morto", disse o líder tribal Adbullah Rama Aghuz ao repórter da BBC.
Lealdade tribal
Ainda que o lamento seja silencioso e induza à reflexão, característica típica do conservadorismo (?) da sociedade líbia, a vingança pela morte de Aghuz não foi completamente descartada.
Nas regiões onde as relações tribais são mais poderosas do que a lealdade ao estado líbio, mais de 100 pessoas foram mortas em combate na semana passada.
As maiores disputas ocorreram na pequena cidade de Misdah, onde as tribos Zintani e Mishasha se confrontaram por vários dias seguidos usando armas pesadas adquiridas das antigas forças militares de Kadhafi (não os milhares de toneladas de armas novinhas da OTAN, claro...).
As causas dos combates são, no entanto, complexas.
Algumas disputas, a maioria relacionada ao controle da terra, datam de gerações.
Segundo as lideranças tribais, a linhagem Mishasha foi favorecida por Kadhafi (?) e ainda estaria ressentida da maneira como o ex-presidente foi deposto e morto.
Para Jouma a Ifhima, economista de formação e respeitado líder tribal, que passou os últimos dias imerso na tentativa de negociar um cessar-fogo em Zintan, o processo de paz tem sido "exaustivo" e "delicado".
Ele, entretanto, demonstra otimismo sobre o fim dos conflitos e disse acreditar que a Líbia não corre risco de se dividir em vários países.
"Somos todos líbios e unidos por uma única nação", disse ele à BBC.
Nem todos compartilham, entretanto, da mesma visão de Ifhima.
Poder paralelo
Embora alguns ex-rebeldes tenham tentado se organizar em uma espécie de Exército nacional improvisado, ainda falta à Líbia a força de uma autoridade central que unifique diferentes partes do país.
Nessas regiões, o poder está nas mãos de brigadas fortemente armadas.
O próprio filho de Khadafi e antigo herdeiro aparente Saif al-Islam Kadhafi ainda está sob a custódia das brigadas de Zintan, e não do Ministério da Justiça de Trípoli.
A situação é semelhante à vivida por quatro delegados da Suprema Corte Internacional, que foram presos no mês passado sob a acusação de "ato ilegal" enquanto visitavam Saif.
Quando embaixadores internacionais finalmente conseguiram visitar o grupo, há poucos dias, a mediação também foi conduzida pelos comandantes militares de Zintan.
Após intensos esforços diplomáticos, os quatro foram libertados na última segunda-feira.
Em inúmeras partes da Líbia, principalmente fora dos grandes centros, a fragilidade e a falta de maturidade do novo estado líbio são mais aparentes.
Apesar de ter sido o local de nascimento da revolução (?), que culminou na queda de Kadhafi, até em Benghazi o governo interino tem seus próprios conflitos internos, tentando frear os extremistas islamitas.
Nos últimos meses, foram registrados vários ataques à luz do dia a símbolos considerados de influência ocidental - cemitérios de aliados, o comboio do embaixador britânico, a ONU e a Cruz Vermelha Internacional.
Ainda não está claro quem são os responsáveis pelos ataques (?), mas há grupos líbios que alegam que a democracia é incompatível com a Sharia, a lei islâmica religiosa.
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