3 anos após o golpe que derrubou Zelaya, Xiomara Castro, esposa do presidente deposto, concorre nas eleições presidenciais hondurenhas e pode restabelecer a democracia no voto |
É hora de reverter o golpe de Estado, diz candidata à Presidência de Honduras
Em entrevista, Xiomara Castro, esposa do presidente deposto Manuel Zelaya, fala sobre sua candidatura à presidência do país
Depois do dia 28 de junho de 2009, quando militares invadiram sua casa a tiros e levaram embora seu marido, o então presidente Manuel Zelaya, Xiomara Castro teve que suportar ameaças, perseguições e o medo de ser presa. Escondeu-se com sua família para não ser descoberta, mas nunca se exilou. Um mês após o golpe, hospedada em um pequeno hotel do vilarejo de El Paraíso, a poucos quilômetros da fronteira com a Nicarágua, a primeira-dama tenta ser eleita presidente.
Ela lembra do sentimento de impotência que experimentou ao enfrentar o regime de Roberto Micheletti. Mas a ex-primeira-dama garante que está pronta para resistir e exigir seus direitos. “Ninguém pode evitar que continuemos lutando e ninguém pode negar que esse esforço possa servir de exemplo para todas as pessoas que sentem seus direitos violentados”, dizia na ocasião.
Três anos depois, Xiomara Castro é a candidata consensual do Partido Libre (Liberdade e Refundação), braço político-eleitoral do FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular) e fundado por Manuel Zelaya em 2011. Em entrevista exclusiva ao Opera Mundi, a ex-primeira-dama disse estar preparada para enfrentar este novo desafio e espera contar com o carinho e o apoio do povo hondurenho.
A candidata presidencial alega não sentir rancor algum pelo o que já passou. Mas, pelo contrário, garante que, se assumir a Presidência de Honduras, convocará todos os setores do país para fomentar um verdadeiro diálogo e conquistar a reconciliação por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Opera Mundi: Já se passaram três anos. Como está o povo hondurenho?
Xiomara Castro: No dia em que ocorreu o golpe de Estado, pensaram que só haveria três dias de protestos e que Honduras voltaria à normalidade, como sempre ocorreu no passado. Pensaram que o povo hondurenho continuaria submisso em sua indiferença, em sua apatia. Mas se enganaram, porque, mesmo após três anos de golpe, o povo segue de pé, pedindo o retorno da ordem constitucional, o respeito aos direitos humanos, e exigindo justiça pelos mártires que derramaram seu sangue pelo delito de defender a democracia em nosso país. Foram três anos de crise política, econômica e social, mas o povo já está consciente de que chegou o momento de reverter o golpe de Estado. Honduras não vai mais exportar estratégias para que outros países da América Latina continuem sofrendo com golpes de Estado.
A senhora se refere à situação do Paraguai?
Evidente. Em Honduras vamos conquistar o poder. O povo vai retornar ao poder e vamos refundar nossa pátria mudando esse sistema que não dá respostas e oprime aos que mais sofrem no país. Vamos mudar porque queremos um sistema justo, igualitário, onde todos e todas tenham oportunidades. Vamos provar, com nosso exemplo, com o povo em luta e com esse sangue derramado, que somos capazes de mudar a história dos países e que é possível nunca mais ocorrer um golpe de Estado na América Latina.
Qual é sua opinião sobre os objetivos do Congresso de Honduras ao introduzir na Constituição a figura jurídica do “juízo político”?
Deveria ter sido discutido, mas vou mais além. Creio que deveríamos considerar a introdução da “morte cruzada” e do “referendo revocatório”, isto é, que não sejam os deputados os responsáveis por decidir o futuro do país, mas sim todo o povo. É necessária a participação do povo em todas as decisões tomadas e isso faz parte das propostas que vamos levar adiante.
Em algum momento você imaginou que, três anos após o golpe, iria ser candidata à Presidência de Honduras?
Nunca imaginei. Nunca pensei que fôssemos avançar tanto e nem que o povo iria perceber a necessidade de mudar radicalmente as coisas de nosso país. Aqueles eram dias de violência e terror e eu via um povo valente enfrentando as armas, lutando contra o poder que de fato estava se instalando no país. Eu me juntei às pessoas. Crescemos em consciência e percebemos que Honduras nunca mais seria a mesma.
A senhora pensa que os setores que planejaram e executaram o golpe e que, dessa forma, estão à frente das instituições de Honduras, vão permitir mudanças?
Eu acredito que o povo defenderá as urnas e confio no desejo expresso pelos eleitores. Vai ser muito difícil implementar uma fraude neste processo eleitoral que vivenciaremos. Confio também nos países amigos, que vão vigiar a transparência desse processo.
A FNRP e o Libre mantêm a posição de que a luta para o poder deve ser pacífica?
Só conhecemos este caminho para o poder. Nós nos opomos ao uso de armas e da força bruta e demonstramos isso durante estes três anos de luta firme, mas pacífica. Os outros são os que usam da violência; nós somos os que tivemos mortos, que sofremos perseguições e violações dos direitos humanos. Nunca levantamos a mão contra algum irmão ou irmã que não possui as mesmas opiniões que as nossas.
Quais vão ser as primeiras medidas que você irá tomar caso seja eleita presidente do país?
O objetivo primordial da aliança Libre será refundar o país e chegar a um verdadeiro pacto social que reconcilie a sociedade hondurenha. No mesmo dia da posse, vamos nos sentar com todos os setores e vamos convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, para iniciar com passos firmes este novo processo e, assim, lançar bases sólidas para a democracia.
O objetivo primordial da aliança Libre será refundar o país e chegar a um verdadeiro pacto social que reconcilie a sociedade hondurenha. No mesmo dia da posse, vamos nos sentar com todos os setores e vamos convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, para iniciar com passos firmes este novo processo e, assim, lançar bases sólidas para a democracia.
Giorgio Trucchi / Opera Mundi
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