O Jornal da Tarde, do Grupo Estado, demitiu mais de 20 jornalistas nesta semana, vai acabar com a edição de domingo, promover mais uma reforma gráfica e trabalhar com apenas vinte e pouco jornalistas. O Estadão, carro-chefe do grupo, fez vários cortes de pessoal nesses últimos tempos. As coisas não andam boas pelos lados do bairro do Limão.
Dizem que o Grupo Estado não fecha o JT apenas para manter a sua marca. Faz sentido. A circulação média do jornal está na casa dos 30 mil exemplares, um número ridículo. E fazer um bom produto com duas dezenas de profissionais, convenhamos, é tarefa impossível.
O JT já foi um jornal importante. Foi criado na década de 60 por Mino Carta e inovou em vários sentidos: investiu nas reportagens, ousou no texto e no design gráfico.
A Edição de Esportes, publicada nas segundas-feiras, durante vários anos foi cobiçada pelos torcedores e ganhou vários prêmios Esso, no tempo em que ele valia alguma coisa.
Além dela, lançou o Jornal do Carro, a primeira publicação semanal especializada no assunto, que até hoje é referência no setor.
As dificuldades financeiras que o Grupo Estado começou a sentir na década de 90 foram minando o JT, que acabou perdendo seus principais profissionais.
A decadência se refletiu em inúmeras mudanças editoriais, algumas cosméticas, outras profundas, como a que transformou um jornal que se tornou famoso por suas reportagens num folheto popularesco, apelativo, como inúmeros que existem por aí.
O JT também foi escola para muitos jornalistas. A Edição de Esportes trabalhava com grande número de "frilas", muitos dos quais levados pelo saudoso Ademir Fernandes, caçador de talentos informal da editoria. Era o pessoal de Jundiaí, que ao lado dos mineiros e gaúchos, compunha boa parte da redação.
Outro fator que acelerou a decadência do JT foi seu desprezo pela internet. Estranho porque o jornal também foi pioneiro na cobertura da informática, quando quase ninguém se interessava pelo assunto.
Embora ainda deva ser publicado por mais algum tempo, o JT verdadeiro infelizmente acabou.
Sua história é um exemplo de como a falta de uma visão empresarial estratégica pode levar uma fórmula que começou bem-sucedida a um fracasso monumental.
Uma pena, mas o capitalismo, que o Grupo Estado defende com unhas e dentes há tantas décadas, é assim mesmo, impiedoso com quem não sabe jogar o seu jogo.
No Crônicas do Motta
Um comentário:
É uma pena mesmo. Ele sempre esteve como alternativa para quem não tinha estômago para a mídia popularesca - o outro alternativo de SP foi o Diário Popular, comprado nos anos 90 pelos Marinho que descaracterizaram o jornal completamente. Quem queria mais do que os editoriais pesadões do Estadão, lia o JT. Uma pena.
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