Revista Veja circula esta semana com oito publicidades do Ministério da Educação e uma dos Correios. No entanto, condenam publicidade em veículos de comunicação que julgam ‘não fazer jornalismo sério’. Ontem, Erenice Guerra foi inocentada na justiça, aquela que a Veja ajudou a detonar com um amontoado de mentiras. Quem faz jornalismo sério?
José Serra comprou uma briga inglória. Ao propor uma ação judicial
contra a publicidade oficial em blogs de dois jornalistas que o
criticam, Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif, tudo o que ele conseguiu
foi uma hashtag #SerraCensor que despontou entre os assuntos mais
comentados do dia, além de um artigo de seu porta-voz informal, Reinaldo
Azevedo.
O blogueiro da Abril publicou artigo em que condena publicidade em
sites que fazem “um troço parecido com jornalismo”. Mas disse, no
entanto, que veículos tradicionais, como Veja, por exemplo, não devem
renunciar à publicidade oficial – já que ela está aí. Veja, de fato, não
renuncia a ela. Na edição desta semana, seu maior anunciante é o
Ministério da Educação, com oito páginas. Além disso, há também uma
página dos Correios.
O movimento de Serra e Reinaldo, na verdade, não ocorre isoladamente.
Trata-se de algo organizado. Antes deles, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso tratou do tema numa coluna no Estado de S. Paulo.
Depois, foi seguido por Eugênio Bucci, que, além de consultor de Roberto
Civita, presidente da Abril, foi também citado na decisão do juiz
Tourinho Neto que quase soltou Carlos Cachoeira – na decisão, Tourinho,
sabe-se lá por que, determinou que o contraventor, em liberdade, não
poderia se aproximar de dois jornalistas: Policarpo Júnior e o próprio
Bucci.
Enquanto estiveram no poder, os tucanos jamais se incomodaram com a
questão da publicidade oficial. Andrea Matarazzo, braço direito de
Serra, foi um ministro da Secretaria de Comunicação de FHC muito querido
por donos de empresas de mídia. Reinaldo Azevedo, quando foi
empresário, teve apoio da Nossa Caixa e do ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, mas o projeto da revista Primeira Leitura acabou
naufragando.
O que os incomoda, na verdade, é a nova realidade da informação no
Brasil e no mundo. Antes, havia quatro ou cinco famílias relevantes no
jogo da informação no Brasil. E os barões da mídia mantinham uma postura
aristocrática, cuja cornucópia era alimentada por boas relações no
setor público.
Hoje, com a internet, há muito mais vozes. O novo mundo é polifônico.
E não apenas os governos, mas também as empresas privadas, já estão
abraçando essa nova realidade. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por
exemplo, a publicidade na web é muito maior do que nos jornais
impressos. Na rede, a relação investimento/retorno é muito mais
eficiente, além de mais transparente.
Um troço parecido com jornalismo
Um troço parecido com jornalismo
A investida do PSDB, com apoio de Reinaldo Azevedo, no entanto, veio
em má hora. Nesta quarta-feira, os jornais noticiaram o arquivamento da
denúncia contra a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, por
absoluta falta de provas.
Antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2010, Veja fez
uma denúncia sobre a entrega de malas de dinheiro na Casa Civil, a
partir de um diz-que-diz em off, e a Folha de S. Paulo denunciou um
lobby bilionário no BNDES feito por um personagem que não passaria pela
catraca de segurança da sede do banco na Avenida Chile, no Rio de
Janeiro.
Não era jornalismo. Era um troço parecido com jornalismo, que ajudou a levar as eleições presidenciais de 2010 para o segundo turno.
Pode-se discutir a qualidade do jornalismo na internet, assim como nos veículos impressos.
Mas o que a mídia tradicional busca é apenas uma reserva de mercado. E demonstra medo crescente diante da força da internet.
O resto é conversa fiada.
Fonte: Brasil 247
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