sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Como Serra construiu seu próprio isolamento

Do Brasil 247 - 12/10/2012   às 06:36

Edição/247: serra cabisbaixo
Edição/247: serra cabisbaixo

Agenda estreita de segundo turno: mensalão, kit gay e coronel Telhada; impossibilidade de atrair Gabriel Chalita, a quem perseguiu em seus tempos de governador, e Celso Russomano, alvo de cartilha serrista de desconstrução; captura de aliados como Paulinho "1%" da Força, o incendiário Pastor Malafaia e o novato Luiz D'Urso; pouca ação do governador Geraldo Alckmin e desinteresse do prefeito Gilberto Kassab; desconfiança no ninho partidário; José Serra não está mesmo fazendo tudo certo para sair tudo errado para ele?


247 – De acordo com as regras clássicas para uma vitória em segundo turno eleitoral, o candidato do PSDB está fazendo tudo certo para que tudo saia errado para ele mesmo.

Enquanto o adversário Fernando Haddad conquistou com naturalidade o apoio do Gabriel Chalita de 13,6% dos votos em primeiro turno, Serra fechou com Paulinho "1%" da Força. Diante do PT unido, o PSDB de Serra se mantém fragmentado, com lideranças como os deputados federais José Aníbal e Ricardo Trípoli recalcitrantes em carregar a bandeira do candidato. O próprio governador Geraldo Alckmin atua com grande discrição e pouca eficiência até aqui a favor de Serra, tendo no máximo conseguido atrair para a candidatura o apoio do PTB do ex-candidato a vice Luiz D'Urso. O titular Celso Russomando, do PR, dono de 24% dos votos do primeiro turno, foi alvo de uma cartilha serrista de desconstrução e optou por uma neutralidade de viés belicoso, pregando o voto de protesto que pode ser o nulo ou em branco.

O grande parceiro de Serra nos últimos tempos  pouco tem como ajudar. O prefeito Gilberto Kassab pode saborear um bom desempenho do seu PSD no plano nacional, mas prossegue com índices decadentes de popularidade em São Paulo. Se se considerar que Haddad, Russomano e Chalita fizeram oposição à sua administração na primeira volta da eleição, o julgamento das urnas deixaria Kassab e seu escudeiro Serra com 30% dos votos contra 56% da trinca somada. Quase o dobro. Isso significa que, caso bote muito a cara a favor de seu candidato, o prefeito poderá agregar mais rejeição do que admiração para ele. Como Serra já avança para quase 45% de antipatias, é mais prudente manter a distância.E melhor para Kassab. O prefeito sabe, é claro, que quanto menos combater Haddad, melhor estará para negociar com o governo da presidente Dilma depois. Além de limpar um pouco sua barra com o ex-presidente Lula, de quem abusou de toda cortesia para voltar a Serra num momento em que Lula precisava dele para tirar Haddad do isolamento. A situação se inverteu.

No debate verbal, Serra parece rumar para um gueto. Ele falou, em seu primeiro discurso (com Kassab ao seu lado, mas não Alckmin), em valores, baixando a carta da moralidade, mas antigas relações com personagens como Gregório Marin Apreciado, Ricardo Sérgio de Oliveira e Paulo Preto, narradas no livro Privataria Tucana, podem produzir um contra-ataque tão ou mais poderoso que seus disparos. Além disso, o próprio Haddad, a cada vez que é alvo de estocadas sobre o mensalão do PT, defende-se atacando o também chamado mensalão do PSDB, com origem em Minas Gerais e até anterior ao condenado pelo STF. No máximo, ficarão elas por elas – além de o tema, avaliaram os especialistas, não ter surtido o efeito esperado em primeiro turno, a ponto de Haddad não ter sido desconstruído por ele.

Avançando por outro caminho estreito, Serra se deixou cercar por apoiadores estridentes como o Pastor Malafaia. Líder pentecostal, ele tecla a nota do chamado kit gay, distribuido e em seguida recolhido pelo Ministério da Educação, em escolas públicas. Caso de um ano atrás. Algum contigente expressivo vai mesmo votar em Serra em razão desse episódio? Ou a numerosa comunidade GLBT de São Paulo, cidade que realiza uma das maiores paradas gays do mundo, pode ser unir de uma vez em torno do outro candidato?

Com um ex-comandante da Rota acusado de mais de 30 mortes em sua chapa de vereadores, o coronel Paulo Adriano Telhada, eleito como quinto mais votado, com 89 mil votos, Serra o defendeu como respeitador dos direitos humanos. O slogan do aliado foi 'bandido bom é bandido morto'. Dentro de um partido que tem em sua primeira geração expressões como o ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz José Gregori, que, de resto, acompanhou Serra em seu voto no Colégio Santa Cruz, o discurso simplista parece ter mais força para atrapalhar do que para ajudar. Ou carregar de vez, ou mais profundamente, os tucanos para a direita do espetro político, e assumir a face mais atrasada de seus compromissos.

Haddad terá em seu palanque a presidente Dilma Rousseff no auge da sua popularidade. Ao lado dela estará o patrono da candidatura, Luiz Inácio Lula da Silva com seus índices de imagem ótima e boa ainda maiores que os de Dilma. De quebra, a estrela da ministra da Cultura, Marta Suplicy, superstar na populosa periferia de São Paulo.

Serra vai atrair quem? O ex-presidente Fernando Henrique sairá de seu apartamento para efetivamente 'amassar barro' com Serra? Não. Alckmin, neste momento de crise na segurança pública, e Kassab fraco têm mesmo gordura de prestígio para levantar a fogueira de Serra? Sabe-se, igualmente, que não. Entre as lideranças nacionais que podem ajudar, ainda que só com palavras, quem vai se escalar? O senador Aécio Neves? Ein?

Uma pergunta sugere resposta afirmativa: Serra está só?

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