“Monopólio da mídia sufoca liberdade
de expressão”, afirmam movimentos sociais em protesto paralelo à
reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) que acontece em
São Paulo
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a “honorável sociedade
mafiosa” que congrega os donos dos grandes conglomerados de comunicação
do continente, foi alvo nesta segunda-feira (15), em São Paulo, de
críticas demolidoras e bem humoradas de militantes dos movimentos
sociais e pela democratização da comunicação.
Fotos: Roberto Parizotti |
Erguendo a faixa “Monopólio da mídia sufoca liberdade de expressão”, os
manifestantes apontaram como a mercantilização do jornalismo conduz a
uma espiral de dupla manipulação: pelo poder econômico e pelo poder
político, reverberando os interesses do sistema financeiro, das
transnacionais e das grandes empresas, seus grandes anunciantes.
“Quando os interesses econômicos e políticos coincidem, tanto mais
visível será a manipulação”, já nos alertava o jornalista Rui Pereira.
A atualidade do questionamento
é mais do que pertinente, como comprova o Sindicato dos Bancários de
São Paulo, que teve a edição do seu jornal apreendida há pouco mais de
duas semanas a pedido da coligação do candidato José Serra. A ordem de
busca e apreensão da Folha Bancária, que incluía até mesmo o
“arrombamento” da entidade, “se necessário”, foi solicitada pelo
candidato tucano sob a alegação de que a “matéria denigre a imagem” de
Serra.
A secretária geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas lembrou que enquanto
um órgão alternativo é silenciado, a população é bombardeada 24 horas
por dia por uma mídia que desinforma, reproduzindo tão somente os
interesses de uma pequena elite. “Graças aos investimentos dos
movimentos em seus próprios meios e à internet temos hoje maior
capacidade de comunicação, acabando com os estreitos limites impostos
pela mídia privada, extrapolando fronteiras e fazendo a disputa”,
declarou Raquel.
A secretária estadual de Comunicação da CUT-SP, Adriana Oliveira
Magalhães, destacou que diante de tantos e tão reiterados abusos contra
a liberdade de expressão, está na hora do governo federal submeter “a
consulta popular os 20 pontos do Marco Regulatório da Comunicação”.
Entre as prioridades, elencou Adrianinha, estão a regulamentação dos
artigos da Constituição Federal, como o que proíbe a formação de
monopólios e oligopólios, e o que garante o respeito à diversidade
regional e à produção independente. Enquanto isso, disse, os grandes
meios de comunicação “condenam os movimentos sociais, criminalizam o
MST e as centrais sindicais e não dão sequer direito de resposta”.
Conforme a líder cutista, a recente cobertura das eleições da Venezuela
é outra demonstração inequívoca de que “precisamos de outra
comunicação, de outra mídia”. “A cobertura de canais como a Globonews
foi totalmente discriminatória, uma propaganda da derrota de um governo
democrático”, ressaltou.
Cachorros guardiães
O prólogo do livro “Os novos cachorros guardiães”, de Sergei Alimi,
redator do Le Monde Diplomatique, é esclarecedor sobre o receituário da
manipulação utilizado pelos “profissionais da mentira” a serviço do
grande capital: “As manchetes que compõem, os qualificativos que
empregam, as fotos que ampliam, os enfoques e colaborações que elegem,
são bastante como para que a simples experiência empírica nos ensine
sobre o veneno que bebemos”.
Em virtude desta manipulação, cada um dos 12 cartazes levantados pelos
manifestantes – e posteriormente colados em frente ao hotel – expunha
temas “invisibilizados” pela mídia “alienante e alienada”: “Anatel
ignora que 92% das rádios comerciais de São Paulo opera com licença
vencida e fecha 100% das comunitárias”; “André Caramante está exilado
para se proteger das ameaças de morte que sofreu por matéria que
denunciava a Rota e o coronel Telhada”, eleito o segundo vereador mais
votado do PSDB na capital paulista. O governo do estado silencia sobre o
caso”; “Quase 90% da programação de TV é produzida no eixo Rio-São
Paulo, apenas 10,8% é dedicada à produção local”.
Membro da coordenação do FNDC e integrante do Coletivo Intervozes, João
Brant, frisou que a “liberdade pela qual lutamos é de todos e todas,
não a que fica confinada e aprisionada pelo monopólio da mídia”. Brant
citou o exemplo da Lei de Meios da Argentina, que obrigará o grupo
Clarín, no próximo 7 de dezembro, a devolver parte das suas licenças,
ampliando o número de vozes.
O coordenador do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, Altamiro
Borges, denunciou o “rabo preso” dos “450 donos, executivos e
jornalistas” reunidos no evento da SIP e os exortou a se pronunciarem
sobre os abusos cometidos contra a liberdade de expressão, como a
perseguição movida contra Julian Assange, fundador do Wikileaks, e a
invasão do Sindicato dos Bancários de São Paulo para impedir a
circulação do seu jornal.
Representando o MST - uma das entidades mais atingidas pela violência
da onda midiática de desinformação e calúnia - o jornalista Igor Felipe
defendeu “a desconcentração dos meios como essencial para abrir espaço
a uma sociedade mais democrática”. “Queremos liberdade de expressão e
liberdade de imprensa. Já as famílias reunidas no encontro da SIP
querem a comunicação como forma de garantir lucros e dominação” .
Para o professor Edmilson Costa, que representou o Partido Comunista
Brasileiro (PCB), “a SIP é a sociedade interamericana dos monopólios de
comunicação, que manipulam em favor dos interesses mais atrasados da
oligarquia, se convertendo na ponta de lança da discriminação”.
Mais do que um ataque à ditadura dos barões da mídia, os manifestantes
agiram em legítima defesa da democratização da comunicação. E como
enfoca Serge Alimi, “a este exercício elementar de autodefesa se chama
lucidez”.
No Brasil de Fato
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