sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O incrível conhecimento de física do Ministro Fux

Comentário: de um sujeito que cita filme de ação para embasar seu voto é de se esperar que nem sequer ler e interpretar um livro saiba, mesmo.
Olá Nassif,
Essa viagem foi realmente muito valorizada hoje no STF. Mas teve uma passagem que gostaria de comentar.
Não sei se mais alguém percebeu. Eu quase morri de rir; pra não chorar!!
No seu voto, Fux demonstrou proximidade de Gilmar ao dizer que tinha dele recebido um presente: o livro "O andar do bêbado: como o acaso determina nossas vidas" de Leonard Mlodinow (Zahar, 2009). Foi patética a fala que se seguiu.
Citando um livro que trata de probabilidade e aleatoriedade, tentou dar base científica ao torto raciocínio estatístico da denúncia. O revisor tinha apresentado um estudo anteriormente que mostrava a não correlação entre os repasses dos recursos e o apoio em votações. Talvez por isso o ministro Fux tenha citado o livro para dizer que o mesmo lhe ensinara que "nada é por acaso".
Deveria ter ficado calado, pois o livro diz exatamente o contrário: quase tudo é por acaso!! Para dizer o que disse, não leu sequer a orelha.
Trechos do livro que o ministro não leu ou, se leu, não entendeu bulhufas:
"O fato de que a intuição humana é mal adaptada a situações que envolvem incerteza já era conhecido nos anos 1930 ..."
"Nadar contra a corrente da intuição é uma tarefa difícil."
" ... pesquisas mostraram que, em situações que envolvem o acaso, nossos processos cerebrais costumam ser gravemente deficientes."
"Também trata do modo como tomamos decisões e dos processos que nos levam a julgamentos equivocados e decisões ruins quando confrontados com aleatoriedade e incerteza".
"Como veremos, a mente humana foi construída para identificar uma causa definida para cada acontecimento, podendo assim ter bastante dificuldade em aceitar a influência de fatores aleatórios ou não relacionados".
"Os processos aleatórios são fundamentais na natureza e onipresentes em nossa vida cotidiana; ainda assim, a maioria das pessoas não os compreende nem pensa muito a seu respeito."
Dá uma olhada nos capítulos:
"1. Olhando pela lente da aleatoriedade – O papel oculto do acaso ... quando um rato consegue ter um desempenho melhor que seres humanos.
2. As leis das verdades e das meias verdades – ... por que uma boa história tem menos chance de ser verdadeira que uma explicação pouco convincente.
...
6. Falsos positivos e verdadeiras falácias – ... erros na probabilidade condicional, de exames médicos ao julgamento de O.J. Simpson e a falácia da acusação."
Não me lembro em que parte do livro, já li há alguns meses, mas a certa altura o autor relata alguns dos erros mais comuns durante uma investigação, científica ou não. Diz ele que um dos maiores desses erros é buscar apenas os elementos que sustentam as hipóteses. O caminho, segundo ele,  e eu concordo, deve ser o contrário: aquele que busca incansavelmente derrubar a hipótese; pois, se ao final, ela permanecer de pé é porque ela realmente tem mais probabilidade de ser verdadeira.
Acho que ficou demonstrado que sequer a orelha e o índice o ministro Fux leu. E se leu ... ou tá de má fé, o que não quero acreditar, ou não conseguiu entender o que leu, o que não posso acreditar, pois é o livro que trata de estatística mais simples de se entender que já li.
Um abraço de um leitor diário.

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