Situações como a que ocorreu na Rússia não são raras, mas não se podem prever.
Traço de gases de combustão deixados pelo meteoro Reuters |
Foi um “meteoro” ou “meteorito” o que caiu na Rússia esta sexta-feira,
provocando centenas de feridos? Ambos, explica Rui Jorge Agostinho,
director do Observatório Astronómico de Lisboa.
Na terminologia científica, há três nomes para um corpo celeste como
aquele. Quando ainda está a navegar no espaço, diz-se “meteoróide”. No
momento em que atinge a atmosfera terrestre, passa a “meteoro” – que é o
nome que se dá não à partícula em si, mas ao rasto luminoso que deixa
no céu, devido à combustão causada pelo atrito com o ar.
Muitos meteoros não passam disso, com o corpo que veio do espaço a
desintegrar-se na atmosfera. Mas se alguns resíduos chegam ao chão e são
encontrados, então a estes chamam-se “meteoritos”.
“Obviamente que neste caso há meteoritos”, afirma Rui Agostinho, com
base nas imagens até agora divulgadas do episódio na Rússia.
A esmagadora maioria dos meteoritos que chegam à Terra provêm da cintura
de asteróides que existe entre Marte e Júpiter. Quando os asteróides
chocam entre si, explica Rui Agostinho, muitas vezes ejectam material
desta cintura para o interior do sistema solar. Algumas destas
partículas podem chegar à Terra, como ocorreu na Rússia.
Partículas como estas viajam a velocidades hipersónicas. Segundo as
autoridades russas, o meteoro desta sexta-feira terá entrado na
atmosfera a 30 quilómetros por segundo, quase 90 vezes a velocidade do
som. Sob o atrito do ar, o meteoro trava até atingir a barreira do som.
“Neste momento dá-se uma explosão sónica”, afirma Rui Agostinho.
Foi a onda sonora desta explosão que causou a maior parte dos danos na Rússia, sobretudo vidros partidos.
O episódio ocorrido na Rússia não é raro. “Objectos com aquele tamanho
até são relativamente frequentes. Mas nem todos chegam até ao chão”,
afirma Rui Agostinho. Situações semelhantes podem ocorrer em qualquer
parte do mundo, com consequências distintas caso se dêem sobre o mar ou
regiões despovoadas, ou em áreas urbanas.
Não são eventos previsíveis, como as chuvas de estrelas cadentes, que estão associadas à passagem de cometas.
O caso da Rússia não estará associado à aproximação do asteróide DA14,
com 45 metros de diâmetro e que poderá ser visto com binóculos ou
telescópios esta sexta-feira, quando passar a 35.000 quilómetros da
Terra. “Não há ligação com isso. A órbita do DA14 é muito estável”, diz
Rui Agostinho, que dará uma palestra esta sexta-feira sobre os
asteróides, às 21h, no Observatório Astronómico de Lisboa. A palestra
poderá ser seguida em directo na Internet e o Observatório terá as
portas abertas, embora as condições do tempo possam prejudicar a
visualização do DA14.
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