Não houve praticamente resistência, até porque quase não havia setores
da esquerda com organização militar e a maioria nem estava politicamente
preparada.
por Emir Sader - Carta Maior:
O golpe militar foi um choque muito maior do que o esperado, mesmo pelos que anunciavam que o governo do Jango seria interrompido por uma ação golpista dos militares. Era uma geração que não conhecia praticamente ditadura, salvo alguns comunistas remanescentes do período getulista, que mesmo assim teve um caráter diferente.
Afora algumas ilusões, rapidamente desfeitas, de que haveria um esquema militar nacionalista que resistiria dentro das FFAA ao golpe, ou da expectativa de que os Grupos dos Onze, organizados pelo Brizola e por alguns grupos de esquerda pudesse retomar a resistência de 1961 ao golpe, os militares se impuseram rapidamente. A ação rápida de ocupação dos centros fundamentais de poder e a colocação do Jango fora de qualquer espaço possível de busca de resistência, consolidou rapidamente o golpe militar.
A esquerda predominante até ali – comunistas e nacionalistas – foi quem foi mais ficou surpreendida. Luis Carlos Prestes havia declarado em Recife, poucos dias antes, que eles “estavam no governo, lhes faltava o poder”.
Não houve praticamente resistência, até porque quase não havia setores da esquerda com organização militar e a maioria nem estava politicamente preparada para o golpe. A ocupação dos sindicatos, das sedes das entidades estudantis, dos rádios, foi fulminante, deixando a esquerda sem ação e sem voz. As expectativas de que o Brizola repetisse algo similar a 1961 se desvaneceram logo.
O PCB foi o lugar dos maiores debates, porque era a linha oficial do partido que estava em questão, com a ruptura do processo democrático. Porque não era apenas o desvanecimento da ideia de que haveria um esquema militar nacionalista que garantiria o poder do Jango, mas também o de que uma “burguesia progressista” apoiava o governo.
As FFAA apareceram rapidamente unificadas, reprimindo
os setores dissidentes e o grande empresariado apareceu apoiando em
massa o golpe e a ditadura. Os supostos básicos da linha do PCB se
esfumaram rapidamente.por Emir Sader - Carta Maior:
O golpe militar foi um choque muito maior do que o esperado, mesmo pelos que anunciavam que o governo do Jango seria interrompido por uma ação golpista dos militares. Era uma geração que não conhecia praticamente ditadura, salvo alguns comunistas remanescentes do período getulista, que mesmo assim teve um caráter diferente.
Afora algumas ilusões, rapidamente desfeitas, de que haveria um esquema militar nacionalista que resistiria dentro das FFAA ao golpe, ou da expectativa de que os Grupos dos Onze, organizados pelo Brizola e por alguns grupos de esquerda pudesse retomar a resistência de 1961 ao golpe, os militares se impuseram rapidamente. A ação rápida de ocupação dos centros fundamentais de poder e a colocação do Jango fora de qualquer espaço possível de busca de resistência, consolidou rapidamente o golpe militar.
A esquerda predominante até ali – comunistas e nacionalistas – foi quem foi mais ficou surpreendida. Luis Carlos Prestes havia declarado em Recife, poucos dias antes, que eles “estavam no governo, lhes faltava o poder”.
Não houve praticamente resistência, até porque quase não havia setores da esquerda com organização militar e a maioria nem estava politicamente preparada para o golpe. A ocupação dos sindicatos, das sedes das entidades estudantis, dos rádios, foi fulminante, deixando a esquerda sem ação e sem voz. As expectativas de que o Brizola repetisse algo similar a 1961 se desvaneceram logo.
O PCB foi o lugar dos maiores debates, porque era a linha oficial do partido que estava em questão, com a ruptura do processo democrático. Porque não era apenas o desvanecimento da ideia de que haveria um esquema militar nacionalista que garantiria o poder do Jango, mas também o de que uma “burguesia progressista” apoiava o governo.
A discussão era sobre o balanço da linha politica e os equívocos que tinham levado ao golpe e sobre como atuar no novo período. A direção apontava para a resistência democrática nos espaços legais, juntando-se aos políticos tradicionais que se articulavam na oposição legal – JK, Adhemar de Barros, Carlos Lacerda, enquanto surgia uma forte oposição a essa orientação, que pregava a luta armada.
Os setores de oposição tinham duas alas principais, ambas dirigidas por dirigentes do PCB. Uma, que pregava a resistência armada vinculada à construção de um partido revolucionário – conduzida por Mario Alves, Jacob Gorender e Apolonio de Carvalho, que desembocaria na fundação do PCBR. A outra, liderada por Carlos Marighella, que propunha diretamente o foco guerrilheiro, conforme a interpretação que Regis Debray tinha dado da experiência cubana no seu livro “Revolução na revolução?”, amplamente divulgado no Brasil naquele momento.
Enquanto o PCB sobrevivia, mas mortalmente ferido pela perda das suas bases fundamentais de apoio, a começar pela estrutura sindical, mas também ferido pela derrota da linha que tinha orientado o partido durante todo o período.
Nos outros setores da esquerda, a discussão era pautada pela alternativa do foco guerrilheiro, que tinha detrás de si a vitória da Revolução Cubana – e sua versão dada por Debray – e a extensão das guerrilhas em outros países do continente – Venezuela, Peru, Guatemala, principalmente. Os que buscavam combinar as teses leninistas da construção do partido com a resistência armada – como o PCBR, a Polop – tinham muita dificuldade, diante da atração que a proposta do foco – protagonizada pela ALN e pela VPR – representava.
Esta linha triunfou no conjunto da esquerda e favoreceu um acirramento dos enfrentamentos, em condições de que a esquerda não tinha apoio de massas para enfrentá-lo. Em pouco tempo a ditadura conseguiu derrotar militarmente a oposição clandestina e se abriu o período, em 1970/71, da hegemonia das correntes liberais na oposição à ditadura – que viriam triunfar e impor suas características à transição democrática.
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