terça-feira, 29 de outubro de 2013

Policiais em pé de guerra com Alckmin


Críticas da categoria englobam decisões tomadas nos protestos de junho e mudança na cúpula da Segurança
As manifestações de policiais por aumento salarial que tumultuaram a Assembleia Legislativa de São Paulo na semana passada expuseram um gargalo político que preocupa o governador Geraldo Alckmin (PSDB),  candidato a reeleição em 2014. Por mais que tente se aproximar da categoria, que representa um universo de 200 mil pessoas e encarna o debate sobre segurança pública, o tucano é considerado pela maioria das 17 entidades que representam as forças policiais como um adversário a ser batido.
As críticas são duras e partem de todos os escalões e partidos, inclusive de siglas da base aliada de Alckmin e do próprio PSDB. Os espectro das queixas vai além dos salários. Engloba as decisões tomadas nos protestos de junho e a mudança na cúpula da Segurança Pública.
O vereador paulistano Adriano Lopes Telhada (PSDB), conhecido como Coronel Telhada, é o principal representante dos tucanos na categoria. Apesar de ser do partido de Alckmin, sua avaliação sobre a segurança, um dos temas que deve estar no cento da campanha de 2014 no Estado, é bastante dura. "O combate ao crime organizado caiu bastante com a chegada do (secretário de Segurança Pública) Fernando Grella (que tomou posse em 2011 no lugar de Antonio Ferreira Pinto)", diz.
PCC. 
O "fogo amigo" surge justamente no momento em que uma pesquisa feita pelo PSDB para consumo interno registrou que a popularidade de Alckmin cresceu depois da revelação de que o PCC teria planejado sua morte devido à postura "dura" contra os bandidos. Isso credenciaria o discurso tucano de "coragem" no enfrentamento ao crime organizado e serviria de antídoto aos ataques da oposição, que aponta o crescimento do PCC durante os seguidos governos tucanos.
"O crime organizado de São Paulo é fruto do PSDB", diz o deputado estadual Edinho Silva, presidente do PT paulista.
Presidente do PSDB no Estado, o deputado federal Duarte Nogueira minimiza o mal-estar com a polícia. "São Paulo tem os melhores indicadores de combate ao crime do País. O governador deu aumento real para os policiais" afirma.
Chetè da polícia militar paulista em três governos tucanos - José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin- o coronel Álvaro Camilo, hoje vereador da capital pelo PSD, se consolidou como um dos principais líderes militares de oposição ao governo. Ele também reclama do novo secretário, mas com um argumento oposto ao de Telhada.
"Com a saída de Ferreira Pinto, priorizou-se o enfrentamento. Havia antes mais atenção com a polícia comunitária. Isso se perdeu. Houve aumento da letalidade", afirma Camilo.
Kassab.
 Interlocutores de Alckmin creditam ao ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que também deve concorrer ao governo em 2014, o bem sucedido movimento de unificar o discurso de uma categoria historicamente desunida no âmbito político.
Ele teria conseguido uma interlocução intensa com a Polícia Militar depois de colocar 156 coronéis em cargos chaves da prefeitura, o que inclui o comando de 30 subprefeituras da capital. Além disso, teria se aproximado dos dirigentes das entidades policiais e construído pontes para se aproximar de um eleitorado fiel estimado em pelo menos 1 milhão de pessoas.
Esse movimento teria ganhado densidade com a decisão do ex-secretário de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto de migrar para o PMDB para disputar uma vaga de deputado federal - no campo de oposição aos tucanos. Outro fator que preocupa dirigentes do PSDB é a pré-candidatura do deputado estadual Olímpio Gomes, ex-presidente da Associação Paulista dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, ao Palácio dos Bandeirantes pelo PDT, partido que orbita na área de influência do PSDB paulista. Sua presença no horário eleitoral gratuito e nos debates teria potencial de acuar o governador no tema da segurança pública.
Bate-rebate
"Essa gestão é insatisfatória" Angelo Crisuolo - Presidente da Associação dos Sargentos e Subtenentes do Estado de São Paulo
"Tirar as balas de borracha abateu a tropa. Se depender de mim, o governador não terá voto da categoria" Ricardo Jacob - Presidente da Associação dos oficiais militares do Estado de São Paulo
Medidas não acalmaram categoria

Prevendo uma rebelião política entre os policiais, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) adotou medidas para tentar se apro-ximar da categoria. No último dia 25 de setembro, ele apresentou dois projetos de lei que aumentam em 25,7% os salários de delegados, escrivães e investigadores da Polícia Civil.

Outra iniciativa foi dobrar o valor das indenizações aos familiares de policiais mortos no Estado. O teto do seguro passou a ser de R$ 200 mil. Para tentar diminuir o tom das críticas entre os PMs, anunciou a reestruturação do plano de carreira para acelerar as promoções. O tucano também autorizou, no dia 14, a remuneração nas jornadas extraordinárias de policiais, conhecidas como "escalas extras". Os PMs que trabalharem voluntariamente nos dias de folga receberão diária especial.

As entidades que representam os policiais não recuaram. "Essa gestão é insatisfatória", diz Angelo Crisuolo, presidente da Associação dos Sargentos e Subtenentes de São Paulo e filiado ao PV, partido da base de Alckmin. Ele revela que uma decisão do governador tomada depois das manifestações de junho teve um impacto devastador para a imagem do tucano: a proibição do uso de balas de borracha para coibir manifestações violentas - depois, o governo recuou e voltou a liberar os artefatos.

"Se depender de mim, o governador não terá nenhum voto na categoria", afirma o coronel Ricardo Jacob, presidente da Associação dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo, que representa um contingente de 25 mil policiais. Ele é filiado ao PRB, legenda que estará no palanque de Alckmin no ano que vem. "Tirar as balas de borracha abateu a tropa", diz Jacob.

Nota. 
O secretário de Segurança, Fernando Grella, rebate as críticas e  lamenta que algumas pessoas busquem explorar este tema apenas com o objetivo de obter benefícios eleitorais", diz nota enviada ao jornal O  Estado de São Paulo.

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