quinta-feira, 15 de maio de 2014

Altamiro Borges: Mídia corporativa deveria abrir mão de publicidade oficial para ver quem é “chapa branca”

Viomundo - publicado em 15 de maio de 2014 às 0:51

por Conceição Lemes


Começa nesta sexta-feira, em São Paulo, o 4º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitaispromovido pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Movimento dos Sem Mídia (MSM) e Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom).

A abertura será às 9h, seguindo-se o debate Mídia, poder e contrapoder (abaixo, na íntegra, a programação, local, inscrições).

Às 11h30, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falará sobre o papel da mídia tradicional, as eleições de 2014 e a importância do ativismo digital.

Nós conversamos com o jornalista e blogueiro Altamiro Borges, presidente do Barão de Itararé, sobre o encontro.

Viomundo – É a segunda vez que o ex-presidente Lula participa de um Encontro Nacional de Blogueiros. A primeiro foi em junho de 2011 no II BlogProg, em Brasília. Ao nos prestigiar o que ele quer dizer? 

Altamiro Borges --  O Lula é vítima de um enorme preconceito das elites, um preconceito de classe. Para as elites, trabalhador é para trabalhar. Não é para pensar e, muito menos, para governar uma nação da importância do Brasil.
A mídia expressa essa visão preconceituosa de classe. Ela é, como já ensinou o intelectual revolucionário italiano Antonio Gramsci, o verdadeiro partido do capital. Ela atacou Lula, sem dó nem piedade, durante seus oito anos de governo. Continua perseguindo-o, de forma implacável.
Lula, o operário, é muito mais sagaz e inteligente do que o “Príncipe da Sorbonne”, do que o intelectual elitista FHC. Ele enxergou rapidamente a importância da internet e apostou na criação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
Ele percebeu a importância do ativismo digital como contraponto ao pensamento único do partido da mídia.
Como ele gosta de dizer, nunca antes na história do país um presidente recebeu um grupo de blogueiros para uma entrevista coletiva exclusiva, em pleno Palácio do Planalto. Os vaidosos “calunistas” da mídia monopolizada espumaram de raiva.
Depois, ele foi ao II BlogProg, em Brasília. Sua presença foi muito importante. Garantiu maior legitimidade a um movimento nascente, que estava apanhando duro da velha imprensa.
Desde o início deste ano, quando fizemos o convite, ele, no ato, sinalizou positivamente e, agora, confirmou sua presença. Lula está disposto a comprar a briga com os barões da mídia e sabe da importância da blogosfera crítica e independente.

Viomundo – Do nome do primeiro encontro, em 2010, para o do quarto, este ano, caiu o “progressistas” e entrou “ativistas digitais”. O que significa essa mudança?

Altamiro BorgesO nome progressista surgiu espontaneamente na preparação do primeiro encontro. Não foi algo muito debatido, não houve nem registro em cartório do nome. Ele pintou e foi ficando. Teve gente que propôs blogueiros de esquerda, blogueiros socialistas, blogueiros esquerdistas e outros nomes.
Ficou blogueiros progressistas e a sigla BlogProg. Na minha opinião, a questão do nome não é tão importante para um movimento horizontal, em rede, sem estruturas mais rígidas.
Quanto à inclusão do termo “ativistas digitais”, ele foi definido no terceiro encontro, na Bahia, em 2012. A ideia seria completar toda esta galera, principalmente jovem, que está nas redes sociais. Não tem blog, mas tem um papel decisivo na luta de ideias.
Acho que acertamos. O papel do ativismo digital na jornada de junho de 2013 é prova do aumento da influência do ativismo digital no Brasil e da sua capacidade de mobilização.

Viomundo – Entre o primeiro e o quarto encontro o que mudou?

Altamiro Borges — Acho que a blogosfera passou a jogar um peso maior no debate de ideias na sociedade brasileira. Ela hoje tem mais força e legitimidade para fazer o contraponto ao pensamento único emburrecedor da mídia monopolizada. Tanto que a blogosfera incomoda os barões da mídia.
A recente entrevista coletiva com o ex-presidente Lula é prova disso. Jornalões, revistonas e “calunistas” das emissoras de tevê — que mamam nas tetas do Estado, abocanhando fortunas de verbas publicitárias — ficaram histéricos. Atacaram com virulência a blogosfera.
Penso, também, que a blogosfera ajudou no debate sobre a urgência da democratização da comunicação no Brasil.
Os blogs se somaram à luta pela regulação democrática da mídia, que hoje ganhou contornos mais definidos com o projeto de lei de iniciativa popular elaborado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
Esse debate hoje envolve diversos setores da sociedade, a esquerda social e política, e conta com a adesão da blogosfera. Pena que o governo Dilma não se alertou para importância estratégica deste tema.
O Brasil, hoje, é a vanguarda do atraso no mundo no debate sobre a regulação democrática da mídia. Até a chavista Rainha Elizabeth II, do Reino Unido, aprovou recentemente uma lei sobre o assunto. A presidente Dilma vai apanhar bastante nas eleições deste ano por sua postura omissa e acovardada sobre o tema.

Viomundo —  Qual o objetivo principal do 4º Encontro Nacional?

Altamiro Borges — É reunir os blogueiros e blogueiras para trocar ideias, experiências, e tentar traçar algum plano de ação conjunta.
A blogosfera é muito diversificada e plural — e esta é sua grande virtude.
Cada blogueiro é uma sentença. As opiniões são díspares e até antagônicas. Não dá para pensar em algo centralizado, verticalizado. O grande esforço dos encontros é o de procurar pontos de unidade nesta enorme diversidade.Os três encontros anteriores conseguiram resolver bem esta equação. O desafio está lançado para o IV BlogProg.

Viomundo — Na sexta-feira, o Encontro Nacional promoverá um Seminário Internacional que se propõe a dar continuidade aos debates do 1º Encontro Mundial de Blogueiros realizado em outubro de 2011, em Foz do Iguaçu (PR). Gostaria que falasse um pouco dos temas e dos participantes do seminário.

Altamiro Borges – Essa parte será muito rica. Trataremos de uma questão crucial, poder e mídia.  Teremos a presença de importantes especialistas no tema:
Ignacio Ramonet, fundador do jornal Le Monde Diplomatique.
Pascual Serrano, criador do site Rebelion, um dos mais acessados no mundo
Andrés Conteris, integrante do movimento Democracy Now e do Occupy Wall Street (EUA)
Osvaldo Leon, fundador do site América Latina Informações (Alai)
Iroel Sanchéz, blogueiro cubano
Também participarão dois intelectuais brasileiros: o sociólogo e blogueiro Emir Sader e o professor Dennis Moraes, da Universidade Federal Fluminense.
Acho que será possível construir um painel rico sobre o perfil da mídia no mundo e o papel jogado pelo ativismo digital.

Viomundo – A propósito. No artigo que você fez confirmando a presença de Lula no IV BlogProg, teve leitor que, nos comentários do Viomundo, chamou o encontro de petistas, de chapa branca. O que acha?

Altamiro Borges — Com todo o respeito, quem fala isso anda lendo muito a revista Veja, aquele “detrito de maré baixa”, conforme definição do Paulo Henrique Amorim.
É só acompanhar com mais atenção os blogs para ver que há muita diversidade neste campo. Tem gente que bate duro no governo, não perdoa a sua timidez na implantação de reforma estruturais no país e sua ausência de debate político na sociedade.Tem gente que pega mais leve com o governo, que o defende diante dos ataques da direita nativa e da sua mídia venal.
Os próprios encontros dos blogueiros refletem essa realidade. Há gente orgânica, filiada a partidos políticos, e muita gente inorgânica. A virtude deste movimento, como já disse, é conseguir construir a unidade na diversidade, é respeitar as opiniões divergentes, é não confundir polêmica com pugilato.
Quanto ao rótulo de chapa branca, quem recebe bilhões em anúncios dos governos federal, estaduais e municipais são exatamente esses “calunistas” que detestam os blogueiros críticos.
Tenho uma sugestão para esses “calunistas”: vamos suspender todos os anúncios públicos a mídia tradicional para ver quem é chapa branca. Muito jornalista adestrado, que chama o patrão de companheiro, vai perder o emprego sem essa boquinha pública.
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