26/02/2010 - 11:32h
Tucano ligado a Serra (Januário Montone, Secretário da Saude do município) assina nota condenando operação da PM na cracolândia. Kassab só ficou sabendo da nota depois. A Folha coloca o nome do Kassab criticando a polícia de Serra para destacar o desentendimento entre ambos (curioso quando moradores protestam contra Kassab pelas enchentes e a PM de Serra reprime os moradores, a Folha não coloca o nome de nenhum dos dois mandatários. Agora sim).
É um novo capítulo da “operação divórcio de Serra” (ver no final do post).
Não é que foi organizado para ser assim em cada detalhe, evidentemente. Até porque a realidade é mais forte que os atores da manipulação. Por isso, alguns desafinam. Por exemplo, o delegado que comandou a operação na cracolândia disse a Folha “São 19 anos sem uma providência; fomos lá e tomamos” (estranhamente o artigo com esta e outras alegações do delegado não está disponível na versão eletrônica da Folha). Ou seja, o delegado critica abertamente a falta de providências dos governos tucanos que comandam a PM faz 16 anos, o que inclui Alckmin, a nova “noiva” de Serra (ver embaixo o post “O divórcio de Serra”).
Ao mesmo tempo, a exposição pública de desencontros entre o governo estadual e a prefeitura, se por um lado ajuda a separar a imagem de Serra da figura de Kassab, -como a Folha procura destacar-, acaba afetando a idéia de “uma São Paulo cada vez melhor”, que o candidato tucano utiliza para alavancar sua campanha eleitoral e que pressupõe uma ação conjunta positivas dos governos estadual e municipal.
A seguir o artigo da Folha, depois a nota “O divórcio de Serra” e por último, os artigos do Estadão sobre a operação na Cracolândia. LF
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Gestão Kassab diz que polícia de Serra faz “pirotecnia” no centro
Em ação policial na cracolândia, 300 foram detidos; desse total, 33 foram acusados de tráfico e os demais, abandonados em base da GCM
Usuários deixados em base voltaram para a cracolândia; ação aumenta discriminação contra população vulnerável, afirma secretário de Kassab
Adriano Vizoni/Folha Imagem
Policial faz revista em suspeitos na região da cracolândia, em megaoperação na tarde ontem
EVANDRO SPINELLI E ROGÉRIO PAGNAN – FOLHA SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Classificada de “pirotécnica” pelo secretário da Saúde da gestão Gilberto Kassab (DEM), uma megaoperação da Polícia Civil do governo José Serra (PSDB) deteve ontem cerca de 300 pessoas na cracolândia, região degradada no centro.
Trinta e três pessoas foram indiciadas sob acusação de tráfico de drogas, diz a polícia. Os demais, viciados em crack, foram abandonados pela polícia em uma base da GCM (Guarda Civil Metropolitana) -sob o olhar de apenas dez agentes da guarda incumbidos de mantê-los ali, o grupo fugiu.
Em fila indiana, os viciados foram escoltados para a base da GCM por policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais) armados com espingardas calibre 12, fuzis, submetralhadoras e pistolas, tudo sob os olhares de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas -a imprensa foi informada da operação pela assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública.
No fim da tarde, sem terem sido oficialmente presos e sem ninguém para atendê-los ou encaminhá-los a unidades de saúde, os viciados “fugiram” e voltaram para a cracolândia.
Para Januário Montone -tucano, homem de confiança de Serra e secretário da Saúde de Kassab-, o que a polícia fez foi um “espetáculo pirotécnico de confinamento e posterior “libertação” dos usuários detidos, o que só aumenta a discriminação contra a população mais vulnerável e dependente, de moradores em condição de rua, usuários e dependentes de álcool e drogas”.
A Folha apurou que Kassab só tomou conhecimento do teor da nota de seu secretário da Saúde após ela ter sido enviada à imprensa. Hoje pela manhã, os dois participarão juntos da inauguração de uma unidade de saúde em Parelheiros (extremo sul de São Paulo).
O delegado Aldo Galiano Júnior, da 1º Seccional, disse que a operação era sigilosa, portanto não poderia ter informado com antecedência os agentes de saúde. Ele afirmou que avisou apenas seus superiores e que foram eles, por meio da assessoria de imprensa da secretaria, que convocaram os jornalistas.
Megaoperação
Para realizar a operação, cerca de cem policiais se concentraram no entorno da rua Helvétia, chamada atualmente de “nova cracolândia”. Foram abordadas 300 pessoas, 33 foram presas sob suspeita de tráfico e houve apreensão de 400 pedras de crack.
O problema começou porque os guardas civis não sabiam que os usuários de droga iriam para a base da corporação.
A intenção da polícia era deixar o grupo com cinco funcionários da Secretaria da Saúde do município, que ficam em uma base da GCM. Os funcionários da saúde, porém, deixaram o local e ficaram observando a ação à distância. Disseram que não poderiam agir com a polícia para não quebrar a relação de confiança mantida com os usuários de drogas.
Assim que a polícia saiu, os usuários deixaram o local correndo e em meio a algazarra. Os guardas municipais, em menor número, nada fizeram.
Colaborou o “Agora”
Leia a íntegra da nota do secretário da Saúde
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VALE A PENA LER DE NOVO
24/02/2010 – 14:32h
Serra prepara divórcio
Não se trata da vida privada do governador. O que Serra prepara é o “divórcio” público com Kassab.
A Folha, que tem o dom de detectar os desejos de Serra, nos dá hoje um “inside” do que esta por vir.
“Serra chegou ao evento acompanhado do secretário de Desenvolvimento e ex-governador paulista, Geraldo Alckmin. Kassab já estava no local.
Após responder aos jornalistas, Serra foi visitar a escola, enquanto Kassab concedia entrevista. O prefeito foi embora antes de o governador retornar.” (Folha SP – Explorar cassação é “ridículo”, diz Serra – 24/2/2010).
O intuito é evitar que cole a etiqueta que Kassab é o Pitta de Serra.
Se trata de uma reviravolta de toda a estratégia de Serra em relação ao DEM e que vinha aplicando com esmero -e certo êxito- desde que decidiu abandonar a prefeitura em 2006.
Na sua estratégia presidencial Serra fez do DEM e de sua reciclagem como partido “renovado”, o eixo de sua política de alianças e um instrumento de combate aos seus adversários internos.
Levou a frente está orientação incluso contra o candidato do próprio PSDB no pleito municipal de 2008 e tinha feito do único governador do DEM, José Roberto Arruda, o gestor moderno e eficiente que poderia ser seu vice em 2010. O DEM “moderno”, sem os “coronéis” do passado, forneceria também o tempo necessário na TV e seria complementado com os transfugas do próprio PMDB nos acertos regionais.
José Arruda sucumbiu da pior maneira possível para Serra: no xadrez.
Kassab, por sua vez, afunda na impopularidade pelo descaso com as enchentes e fica exposto publicamente pelo financiamento irregular de mais de 30% de sua campanha, por um lobby interessado na modificação do Plano Diretor da cidade.
Desta orientação central na estratégia de Serra, só fica agora a questão do tempo de TV. Pelo resto, as figuras do DEM são um peso, do qual o candidato tucano quer se desfazer o mais rapidamente possível.
No Rio, por exemplo, a aliança do candidato de Serra e do PSDB com a candidatura ao senado do demo Cesar Maia, começou a ser questionada.
Em São Paulo, protegido pela mídia na questão das enchentes, fez de Kassab o único responsável pelo desastre e claramente recusou-se a alavancar a candidatura do prefeito ao posto de governador.
Virando 180 graus, seu desafeto Alckmin virou a noiva paparicada e daqui em diante é com ele que Serra gostaria de ser identificado.
As notinhas que precederam este desfecho, indicando desacordo de Serra com Kassab na questão do aumento da tarifa de ônibus ou no IPTU, agora serão ampliadas para dissociar cada vez mais Serra de Kassab.
E como todo mundo sabe, Serra e Alckmin sempre foram muito unidos… e serão felizes for ever.
Pelo resto começa a ser cada vez mais premente arrumar um vice de fora do DEM, para mascarar a participação deste partido na coligação, mantida exclusivamente por conveniência de tempo de TV.
As pressões para fazer de Aécio o vice de Serra serão cada vez maiores, como uma questão de sobrevida, para não ver naufragar sua campanha à presidente.
Luis Favre
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Polícia prende 33 por tráfico na Luz
Maior operação da Polícia Civil apreendeu 500 pedras de crack
Bruno Tavares, Marcelo Godoy – O Estado SP
SEM ATENDIMENTO – Cerca de 300 usuários de crack também foram abordados, revistados e postos em fila indiana na Rua Helvétia
A maior ação feita até hoje pela Polícia Civil de São Paulo na cracolândia levou para a cadeia 33 pessoas acusadas de associação para o tráfico de drogas. Esse foi o resultado da Operação Cidade Luz. As prisões só foram possíveis porque os investigadores vigiaram o movimento de venda de crack a céu aberto nas Alamedas Dino Bueno e Barão de Piracicaba e Rua Helvétia, no centro de São Paulo.
“Apreendemos cerca de 500 pedras da droga”, afirmou o delegado Aldo Galiano Junior, que comandou a operação. As investigações começaram há 15 dias. Primeiro, a polícia identificou os traficantes. Depois, durante cinco dias, a polícia filmou os bandidos em ação. Muitos apareciam em companhia de seguranças e de aviões, a maioria formada por usuários de crack que recebem a droga em pagamento pelo serviço de entrega do entorpecente.
Os policiais alugaram um quarto de hotel para fazer as imagens. Também se disfarçaram de camelôs e de mendigos. Uma câmera foi montada em um carro que tinha os vidros protegidos por película escura. Depois de identificar cerca de 60 pessoas – entre traficantes e seus empregados -, os homens da 1ª Delegacia Seccional e do Grupo de Operações Especiais foram prender os acusados.
A ação era para começar às 11 horas de ontem. Acabou adiada até a tarde. Em vários momentos, carros da PM, que faziam o patrulhamento da cracolândia espantavam usuários e traficantes quando passavam pela Rua Helvétia. Eram 14h30 quando uma centena de policiais civis armados com espingardas, fuzis e pistolas apareceram simultaneamente nas três ruas.
Cerca de 300 pessoas foram cercadas pelos policiais nas ruas. Todas foram reunidos nas calçadas da Rua Helvétia e da Alameda Dino Bueno. Em pouco tempo se formou cena de megabatida. Todos – traficantes, empregados e usuários – foram obrigados a ficar de pé, com o rosto voltado para a parede e com as mãos para cima enquanto eram revistados.
Um dos hotéis, para onde um suspeito correu, foi revistado pelos policiais. Cerca de sete hóspedes foram detidos usando e vendendo crack nos quartos. Entre os detidos estava Leandro Leite do Nascimento. “Tava aqui desde ontem. Vim pra usar, para não fazer isso na frente da minha mulher e do meu filho.” Nascimento contou aos policiais que já havia estado preso por roubo, mas negou traficar. No quarto em que estava com um jovem a polícia achou pedras de crack e cachimbos.
A ação da polícia continuou até as 16 horas na cracolândia. Todos os acusados que apareciam nas filmagens e outros suspeitos de tráfico foram levados para 1ª Delegacia Seccional – ao todo, 59 homens e 17 mulheres.
Quem não foi para a delegacia partiu em fila indiana, a pé, sob escolta policial, até um posto da Operação Centro Legal, da Prefeitura. Eram cerca de 300 pessoas, a maioria usuária de crack. Ficaram lá menos de 30 minutos e voltaram às mesmas ruas de onde haviam saído.
‘Noias’ chegam à base e agentes de saúde fogem
Funcionários da Prefeitura vão para abrigo de ponto de ônibus; secretário da Saúde critica ‘pirotecnica’ policial
A operação deflagrada na cracolândia provocou uma “fuga” dos agentes da Prefeitura destacados justamente para atender os usuários. A blitz policial tinha o objetivo de capturar homens e mulheres flagrados nos últimos dias vendendo crack na região. Além de retirar os traficantes de circulação, a Polícia Civil deteve quase 300 usuários. Mas, por falta de funcionários, todos acabaram liberados sem nenhum atendimento.
À medida que eram pegos, usuários seguiam de mãos dadas para a base da Ação Integrada Centro Legal, onde deveriam ser recebidos por agentes municipais, conforme prevê parceria firmada em agosto entre Estado, Prefeitura, Judiciário e Ministério Público.
Os agentes que davam plantão no local desapareceram. “Quando eles perceberam que a polícia estava trazendo os “noias” para cá, deram linha”, disse um guarda-civil metropolitano (GCM).
Enquanto policiais tentavam acalmar os usuários, os sete agentes se escondiam debaixo da cobertura de um ponto de ônibus. Perguntados sobre o porquê da fuga, um deles respondeu: “Não podemos dar declarações. Procure a Assessoria de Imprensa.” Diante da insistência da reportagem, uma mulher se explicou. “Não estávamos sabendo de nada. É uma operação da polícia e não temos nada a ver com isso.”
Outro funcionário da Prefeitura afirmou que a equipe não podia ter seu trabalho vinculado à ação policial. “É um risco para a gente. Se recebemos alguém trazido pela polícia, eles podem achar que fomos nós quem avisamos”, explicou.
O delegado Aldo Galiano Junior, da 1ª Seccional, disse que avisou o secretário municipal de Segurança Pública, Edson Ortega, da operação. “A Prefeitura é nossa parceira em todas as ações na cracolândia.”
O secretário municipal de Saúde, Januario Montone, emitiu nota ontem na qual criticou a operação “pirotécnica” da Polícia Civil. “Foi uma ação de total e inteira responsabilidade das autoridades policiais, sem qualquer planejamento conjunto ou conhecimento e preparação da área de saúde.”
Montone explicou que os viciados foram confinados em um posto da GCM usado como ponto de apoio dos agentes. “Quero manifestar meu repúdio ao espetáculo pirotécnico de confinamento e posterior “libertação” dos usuários detidos”, disse.
A Prefeitura informou, em nota, que desde a criação do Centro Legal foram feitas 64.957 abordagens, 3.141 encaminhamentos e 190 internações. Desde 2008, agentes de Saúde da Família e assistentes sociais fazem abordagens diárias na cracolândia. B.T. e M.G.
Confira o vídeo com detalhes da operação feita pela polícia no centro de SP
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