Neste ano, o Brasil fará uma escolha entre projetos de governo para os próximos quatro anos. Pelo andar da carruagem, a escolha acontecerá entre os projetos de conservadores e de progressistas, na minha visão das ideologias dos dois principais grupos políticos que disputam a sucessão presidencial.
À meu juízo, conservador é aquele que defende que o Estado não seja o indutor de crescimento por meio de investimentos em todos os campos, que se abstenha de regular a atividade econômica e que defende que o “mercado se auto-regule”, além de ser contrário a investimentos de verdade em programas sociais.
O progressista, entendo que atribui ao Estado o papel fundamental de induzir a economia através de seus investimentos e participação direta nas atividades econômicas, e que aposta em inclusão social como forma de construção de um mercado de consumo de massas ao dotar os programas sociais de intensos investimentos públicos.
Os conservadores negam que a característica deles seja a que digo. Entretanto, como no Terceiro Mundo sempre pautaram o debate político com seus meios de comunicação e seus maiores recursos financeiros, cunharam dois termos para governantes que atuam por cada uma das formas aqui elencadas: “populista” e “estadista”
Indo ao dicionário, constata-se a definição corrente de cada um desses termos e se descobre uma significativa diferença entre eles, pois, gramaticalmente, inserem-se em duas categorias distintas: estadista é substantivo e populista é adjetivo derivado do substantivo populismo, cujo sufixo denota anomalia.
Vejamos as definições do dicionário Houaiss.
Estadista
Acepções
substantivo de dois gêneros Acepções
1 Pessoa versada nos princípios ou na arte de governar
2 Pessoa ativamente envolvida em conduzir os negócios de um governo ou moldar a sua política; homem de Estado
3 Pessoa que exerce liderança política com sabedoria e sem limitações partidárias
Populismo
Acepções
■ substantivo masculino
1 simpatia pelo povo
2 Rubrica: literatura.
Corrente estética e literária que busca assuntos e temas para suas obras junto ao povo mais simples, que ali é retratado com simpatia
3 Rubrica: política.
Denominação atribuída a diversos regimes políticos que surgiram na América Latina depois da crise de 1929, esp. na Argentina, com Juan Domingo Perón, e, no Brasil, com Getúlio Vargas, rompendo com as instituições democráticas, e cujas realizações concretas mais importantes foram: a diminuição do peso relativo das antigas oligarquias, esp. as rurais, a criação de legislação trabalhista que assegurou direitos aos trabalhadores, esp. os urbanos, a rápida industrialização, o nacionalismo como marca da política econômica nacional, o estatismo na economia, o crescimento da classe média
4 Rubrica: política.
Regionalismo: Brasil. A partir de 1980, doutrina e prática política, de esquerda ou de direita, que prega a defesa dos interesses das camadas não privilegiadas da população, mas que freq. se limita a ações de cunho paternalista, angariando dessa forma o apoio popular [Freq., o povo aglutina-se em torno da figura de um líder carismático. Obs.: cf. demagogia e demagogismo 5 Rubrica: política. Ação de natureza populista Ex.: esse governo precisa deixar de populismos e começar a governar de verdade
Cortemos para a natureza dos dois principais projetos de governo que disputarão a sucessão presidencial. Tais projetos trazem, queiram ou não alguns, duas marcas bem distintas: a do governo Fernando Henrique Cardoso e a do governo Lula.
Pergunta: a qual titular de cada governo se deve atribuir a titulação de estadista e a de populista?
Como se viu nas definições de cada um dos termos, o conceito de populismo é algo difuso. Mas, se nos prendermos aos aspectos enaltecedor de estadista e pejorativo de populista, teremos que analisar as condutas dos dois governantes supra mencionados, ainda que a imprensa conservadora trate o governante tucano como “estadista” e o petista, como “populista”.
Mas se o estadista é aquele que governa acima dos próprios interesses políticos e se o populista é o que prioriza seus interesses políticos ao governar, analisando as condutas de FHC e de Lula em seus respectivos períodos poderemos definir quem é quem.
No caso do ex-presidente tucano, voltemos a 1998. Era ano eleitoral como este. A economia tinha sérios problemas decorrentes da manutenção de uma taxa de câmbio fixa pelo governo desde 1994.
A paridade entre o dólar e o real deixara o Brasil sem reservas em dólar, gerando desconfiança da comunidade internacional de que o país teria como honrar suas dívidas na moeda americana, dividas que haviam explodido nos últimos anos.
Era preciso desvalorizar o real, portanto, pois naquele 1998 a situação chegara ao limite e já começava a haver fuga de capitais estrangeiros que, até então, vinham financiando os sucessivos déficits da balança comercial entre importações e exportações devido ao câmbio irreal.
FHC postergou a desvalorização do real até depois das eleições, durante as quais acusou o adversário Lula de pretender desvalorizar a moeda, caso fosse eleito, garantindo que só a própria reeleição impediria uma medida que seria dolorosa sobretudo porque a sociedade se endividará em moeda americana porque estava artificialmente “barata”.
Nas primeiras semanas do ano seguinte, pouquíssimo tempo depois de uma eleição em que FHC se reelegeu prometendo não desvalorizar o real, ele fez aquilo de que acusara o adversário de pretender fazer, com conseqüências desastrosas para a economia devido à intempestividade com que ocorreu a maxidesvalorização de 1999.
Outro corte, agora para o presente, no governo Lula. Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, para 9,50%. Foi uma “paulada”, como previra o presidente do Banco Central.
Surgem, pois, duas questões:
1 – Por que aumentar a taxa de juros?
2 – Por que um populista toma uma medida impopular em ano eleitoral?
Os juros precisam aumentar porque a economia está se aquecendo de uma forma que já começa a provocar escassez de vários produtos e serviços, o que, de acordo com a imutável lei da oferta e da procura, fará subir os preços porque há mais gente querendo tais produtos e serviços do que oferta deles.
Já sobre a pergunta número dois, podemos concluir que quem toma medida impopular em ano eleitoral não está cumprindo a definição do dicionário para populista, pois não está governando pensando em seus interesses políticos.
Por todo o exposto, não me parece errado dizer que o populista é FHC e o estadista, é o presidente Lula.
Escrito por Eduardo Guimarães às 11h40Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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