Fonte:
O POVO Online/OPOVO/Opinião
Valton de Miranda Leitão*
O preconceito exprime uma questão que perpassa a história humana como ingrediente do funcionamento mental individual e coletivo. A sedimentação desse processo numa determinada cultura envolve um intricado mecanismo sociológico e psicológico.
A mentalidade cultural árabe desenvolveu historicamente profundo preconceito contra a mulher, enquanto no Brasil isto se manifesta mais levemente como machismo.
O racismo nasceu quando povos bárbaros como os vikings, louros de olhos azuis, ou os hunos, do sanguinário Átila, apelidado “o flagelo de Deus”, massacravam e estupravam os povos morenos do Mediterrâneo e os negros africanos. Os judeus eram considerados historicamente povo degenerado física, moral e intelectualmente. Após a Diáspora, passaram a se detestar entre si, divididos entre os inferiores esquenazi e os superiores sefardin, segundo julgamento da própria mentalidade cultural judaica. Portanto, o preconceito, o racismo e a ideia de degenerescência estão umbilicalmente ligados.
Quando o hitlerismo planejou e executou o bárbaro extermínio do povo judeu, foi apoiado por cientistas e intelectuais do mais alto nível, incluindo o filósofo Heidegger. Antropólogos como Chamberlain afirmavam que a conformação craniana dos dolicocéfalos denotava a base cerebral da raça superior. Inaugurou-se no nazismo a inversão da visão lombroseana, pois para Lombroso o criminoso tinha conformação craniana específica. O indivíduo que vive mais na imaginação do que na realidade transforma facilmente tais absurdos em crenças, desprezando solenemente os fatos.
Depois do nazismo, o caso mais grave de mentalidade cultural preconceituosa resultando em violento extermínio da outra comunidade ocorreu na guerra entre bósnios e croatas. O mais incrível dessa situação é que bósnios e croatas têm a mesma origem étnica e praticam a mesma religião, porém os bósnios se consideram superiores, intelectual e culturalmente.
Durante as recentes hostilidades, os bósnios inventaram a tortura chamada “gravata croata”, em que o infeliz era pregado num poste e tinha a língua puxada para fora por um orifício feito na traquéia, morrendo asfixiado com seu próprio sangue.
Freud denominou esse fenômeno de narcisismo da diferença, que se manifesta, por exemplo, no ódio do espanhol pelo português, ou do alemão do norte contra o do sul. O narcisismo individual e grupal tem uma indisposição contra o outro, seja pela raça seja por qualquer outra diferença sensorial ou física.
Paulistas originários do bandeirantismo desqualificam a nordestinidade originária do vaqueirismo como se ambos não fossem igualmente brutos e valorosos. A sorte de São Paulo foi a industrialização precoce, que por outro lado trouxe o malefício do capitalismo conservadorista, dominando a mentalidade daquela corajosa gente e predispondo ao individualismo.
O Brasil crescerá pela integração da sudestinidade e da nordestinidade, cujos valores humanos, intelectuais e científicos devem ser apreciados na história do seu povo.
*Valton de Miranda Leitão
valtonmiranda@ gmail.com
Psicanalista
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