O imperdível artigo de Mino Carta, na edição desta semana de
Carta Capital:
Pergunto aos meus intrigados botões por que a mídia nativa
praticamente ignorou as denúncias do livro de Amaury Ribeiro Jr., A
Privataria Tucana, divulgadas na reportagem de capa da edição passada de
CartaCapital em primeira mão. Pergunto também se o mesmo se daria em
países democráticos e civilizados em circunstâncias análogas. Como se
fosse possível, digamos, que episódios da recente história dos Estados
Unidos, como os casos Watergate ou Pentagon Papers, uma vez trazidos à
tona por um órgão de imprensa, não fossem repercutidos pelos demais.
Lacônicos os botões respondem: aqui, no Brazil-zil-zil, a aposta se dá
na ignorância, na parvoíce, na credulidade da plateia.
Ou, por outra: a mídia nativa empenha-se até o ridículo pela
felicidade da minoria, e com isso não hesita em lançar uma sombra de
primarismo troglodita, de primeva indigência mental, sobre a nação em
peso. Não sei até que ponto os barões midiáticos e seus sabujos percebem
as mudanças pelas quais o País passa, ou se fingem não perceber, na
esperança até ontem certeza de que nada acontece se não for noticiado
por seus jornalões, revistonas, canais de tevê, ondas radiofônicas.
Mudanças, contudo, se dão, e estão longe de serem superficiais. Para
ficar neste específico episódio gerado pelo Escândalo Serra, o novo
rumo, e nem tão novo, se exprime nas reações dos blogueiros mais
respeitáveis e de milhões de navegantes da internet, na venda
extraordinária de um livro que já é best seller e na demanda de milhares
de leitores a pressionarem as livrarias onde a obra esgotou. A editora
cuida febrilmente da reimpressão. Este é um fato, e se houver um Vale
de Josaphat para o jornalismo (?) brasileiro barões e sabujos terão de
explicar também por que não o registraram, até para contestá-lo.
Quero ir um pouco além da resposta dos botões, e de pronto tropeço em
-duas razões para o costumeiro silêncio ensurdecedor da mídia nativa. A
primeira é tradição desse pseudojornalismo arcaico: não se repercutem
informações publicadas pela concorrência mesmo que se trate do
assassínio do arquiduque, príncipe herdeiro. Tanto mais quando saem nas
páginas impressas por quem não fala a língua dos vetustos donos do
poder e até ousa remar contracorrente. A segunda razão é o próprio José
Serra e o tucanato em peso. Ali, ai de quem mexe, é a reserva moral do
País.
Estranho percurso o do ex-governador e candidato derrotado duas vezes
em eleições presidenciais, assim como é o de outra ave misteriosa,
Fernando Henrique Cardoso, representativos um e outro de um típico
esquerdismo à moda. Impávidos, descambaram para a pior direita, esta
também à moda, ou seja, talhada sob medida -para um país- que não passou
pela Revolução Francesa. Donde, de alguns pontos de -vista, atado à
Idade Média. O movimento de leste para oeste é oportunista, cevado na
falta de crença.
Não cabe mais o pasmo, Serra e FHC tornaram-se heróis do
reacionarismo verde-amarelo, São Paulo na vanguarda. Estive recentemente
em Salvador para participar de um evento ao qual compareceram Jaques
Wagner, Eduardo Campos e Cid Gomes, governadores em um Nordeste hoje em
nítido progresso. Enxergo-o como o ex-fundão redimido por uma leva
crescente de cidadãos cada vez mais conscientes das -suas possibilidades
e do acerto de suas escolhas eleitorais. Disse eu por lá que São Paulo
é o estado mais reacionário da Federação, choveram sobre mim os
insultos de inúmeros navegantes paulistas.
Haverá motivos para definir mais claramente o conservadorismo
retrógado de marca paulista? E de onde saem Folha e Estadão, e Veja e
IstoÉ, fontes do besteirol burguesote, sempre inclinados à omissão da
verdade factual, embora tão dedicados à defesa do que chamam de
liberdade de imprensa? Quanto às Organizações Globo e seus órgãos de
comunicação, apresso-me a lhes conferir a cidadania honorária de São
Paulo, totalmente merecida.
Do Blog TIJOLAÇO.COM
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