Ligação
interceptada pela Operação Monte Carlo fornece mais indícios sobre a
proximidade do esquema do contraventor Carlos Cachoeira e a revista
Veja. Esta ligação, na qual Cachoeira relata encontro com Policarpo
Júnior, já havia sido divulgada pela imprensa, porém, omitiu-se a maior
parte dela. De acordo com o bicheiro, o editor da Veja queria sua
ajuda para provar que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, havia
ajudado a Delta a “entrar em Brasília” durante a gestão do ex-governado
do Distrito Federal, José Roberto Arruda.
Brasília
- Uma conversa telefônica entre o contraventor Carlos Cachoeira e do
então diretor da construtora Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu,
interceptada às 14:43 do dia 10 de maio de 2011 durante a Operação
Monte Carlo da Polícia Federal (PF), fornece mais indícios sobre a
proximidade da quadrilha investigada e da revista Veja.
Trechos desta gravação já foram divulgados pela imprensa há quase um mês atrás, entretanto de forma seletiva, como fez esta reportagem do G1
. Nela, o veículo destaca apenas o trecho em que Cachoeira diz a
Claudio Abreu que "plantou" na imprensa – sem citar o nome da revista e
do jornalista - informações contra o ex-diretor-geral do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot:
"Eu
plantando em cima dele igual o que eu plantei do Pagot aquela hora.
Ele anotou tudo, viu. Tá uma beleza agora. O Pagot tá (...) com ele".
Entretanto, no áudio da conversa,
ao qual a reportagem de Carta Maior teve acesso, Cachoeira relata ao
ex-diretor da Delta outros assuntos tratados com o editor da revista
Veja em Brasília, Policarpo Júnior, em encontro realizado horas antes.
De
acordo com o bicheiro, o editor da Veja queria sua ajuda para provar
que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, havia ajudado a Delta a
“entrar em Brasília” durante a gestão do ex-governador do Distrito
Federal, José Roberto Arruda. Policarpo ainda teria afirmado que o
acordo foi fechado em uma reunião em Itajubá e que estaria atrás de um
flagrante da entrega de “dinheiro vivo”. Por sua vez, Cachoeira teria
dito a Policarpo que “não existiu essa reunião”.
Cláudio afirmou que as informações eram “furadas”:
“Na
hora que eu estiver com você eu vou te contar porque o nosso chefe
teve uma vez só com o cara, vou te contar como e porque que conhece o
cara, tem nada a ver com a gente.”
Perguntado
por Cláudio se Policarpo iria “alivar”, Cachoeira respondeu que o
editor da Veja “não alivia nada, mas também não te põe em roubada”.
Duas frases do contraventor, pouco depois, tranqüilizam o diretor da
Delta:
“Garanto pra você que ele esqueceu.”
“O Policarpo, ele confia muito em mim, viu?”
“O Policarpo, ele confia muito em mim, viu?”
De fato, nada foi publicado pela Veja neste sentido até então.
Antecedentes
No final de semana anterior, a revista Veja publicou a reportagem “O segredo do sucesso”, assinada por Hugo Marques, relacionando o crescimento da empresa Delta com os serviços de consultoria de José Dirceu.
Os
documentos da operação Monte Carlo revelam que desde o dia 7 de maio a
quadrilha de Cachoeira trocava telefonemas, preocupada com a
reportagem, e discutia estratégias. Em uma ligação no dia 8 de maio, às
19:58, Cachoeira disse a Cláudio Abreu que o senador Demóstenes Torres
trabalharia nos bastidores do Senado para abafar a reportagem.
Em
outra ligação, no dia 11, às 09:59, Idalberto Matias de Araujo, o
Dadá, tido pela PF como braço direito de Cachoeira, conta ao bicheiro
que conversou com o repórter da Veja, Hugo Marques, que lhe revelou que
o alvo de sua reportagem era “Zé Dirceu e não a Delta”.
Sobre Lula
Outro
indício da proximidade entre o esquema de Cachoeira e a revista Veja
está no final da gravação iniciada às 14:43 do dia 10 de maio de 2011.
Cachoeira e Cláudio Abreu citam um homem apelidado de “Lula” que não seria bem visto por Policarpo e “não entra bem na Veja”:
“Não sei se é uma boa deixar, utilizar ele dentro da Veja não. É só entrar, é tran...(ligação cortada) ...é...”
Pela
análise dos documentos da operação Monte Carlo, o Lula com o qual
integrantes do esquema de Cachoeira mantiveram contato é Luís Costa
Pinto, também citado como “Lulinha” em outros trechos da investigação.
Ele já trabalhou no Jornal do Commercio, na Revista Veja, O Globo, Folha
de São Paulo, Correio Braziliense e Revista Época. Há alguns anos
passou a se dedicar à atividade de consultoria privada de comunicação e
análise política.
Em 2010, Luís
Costa Pinto coordenou a comunicação e a formulação de estratégia da
campanha de Agnelo Queiroz (PT) ao governo do Distrito Federal.
Leia a transcrição aqui:
Claudio: Oi
Cachoeira: Claudio, pode falar aí?
Cláudio: Fala
Cachoeira:
Aquela hora eu tava com Policarpo, rapaz, antes do almoço ele me
chamou para conversar. Mil e uma pergunta, perguntou se a Delta tinha
gravação, defendi pra caralho vocês, viu. Mas não fala para o Lula não.
Cláudio: Tá, pode deixar. Quem chamou?
Cachoeira:
Policarpo, po. Aquela hora que você me ligou, você lembra que eu te
fiz umas perguntas do Pagot? Enfiei tudo no rabo do Pagot, aquela hora o
Policarpo tava na minha frente.
Cláudio: Ah ta. Mas eu não ia falar pro Lula que tava com você.
Cachoeira: Fiquei com medo de você falar, por isso que eu não falei
que ia ta com ele. Que ele ia almoçar com o Lula, então o Lula ia falar
pra ele, e eu não gosto, gosto disso preservado, (ininteligivel).
Cláudio: Pois é, o...(ininteligível, parece “segredo”) cê falou pro Policarpo?
Cachoeira: Não, moço. Mil e uma histórias, me contou. Rapaz, falei
“vocês erraram, Zé Dirceu não tava”. “Tem sim e eu to atrás de uma
coisa só, ô Carlin”, é... teve uma reunião em Itajubá do Fernando com o
Zé Dirceu e o Arruda, os três juntos,viu? Itajubá. Foi aí que fechou
para Delta entrar em Brasília. Foi pedido. O Zé Dirceu pediu para o
Arruda para o Fernando entrar em Brasília.
Cláudio: Ah... Essa informação ta totalmente furada, eu conheço bem a
história. Não tem nada disso, cara. O que é? Esses caras tão indo por
um caminho que tem nada a ver. A hora que eu encontrar com você eu vou
te contar porque a relação, vou te falar.
Cachoeira: Cê me fala depois, mas não fala para ninguém que eu to
conversando com...eu posso ajudar demais, mas por fora ta? Eu plantando
em cima dele igual o que eu plantei do Pagot aquela hora. Ele anotou
tudo, viu. Uma beleza agora, Pagot ta fudido com ele.
Cláudio: Pois é, pô. E vai sair mais alguma coisa?
Cachoeira: Ele ta, o Lula, mas num fala pro Lula não, mas o Lula deve
contar a mesma história, ta? Essa de Itajubá. E com o Lula quem marcou
não foi o... Júnior, Policarpo, o Lula que ligou para ele para marcar o
almoço.
Cláudio: Uai, quem que marcou o almoço deles?
Cachoeira: O Lula ligou para o Policarpo para marcar. Você tinha me falado que o Policarpo que ligou pro Lula.
Cláudio: Ah, sei lá. Mas hein, me fala uma coisa aqui. O cara vai aliviar pra cima da gente?
Cachoeira:
Não, não fala que eu te falei ta? Mas a história ta em cima de
Itajubá, ta na reunião, que aquilo lá já deu, esquece ô Claudio,
esquece, falei mil e uma coisa. É perguntou se tinha fita, a história
que ta lá na Veja, sabe até o local que foi, o encontro do pessoal do
Agnelo com o Fernando, é... que foi gravado dando dinheiro vivo. Eu
falei “ô Policarpo, você acredita mesmo nisso?” Ele: “acredito”. Então,
“pelos meus filhos eu to falando pro cê, não existiu essa reunião,
esqueça, esqueça”, entendeu?
Cláudio: Pois é, ta vendo como as informações são furadas. Na hora que
eu estiver com você eu vou te contar porque o nosso chefe teve uma vez
só com o cara, vou te contar como e porque que conhece o cara, tem
nada a ver com a gente, tem nada a ver.
Cachoeira:
E ele tem tanta confiança em mim que é (inintelígivel) verdade, sabe,
minha pra ele, que eu sei que é um cara que, tipo assim: o Policarpo é o
seguinte, ele não alivia nada, mas também não te põe em roubada,
entendeu? Eu falei, eu sei, ó: “inclusive vou te apresentar depois,
Policarpo, o Cláudio, eu sou amigo”, eu falei que era amigo do cê de
infância. “Então, ele trabalha na sua empresa”, falou assim, “vai me
contar que você tem ligação com ele”. Sabia de tudo. “Eu não vou
esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”.
“Agora, eu te falo que não tem nenhuma ordem, eu lido com isso 24 horas,
eu nunca ouvi falar dele na empresa lá, e o cara sabe de tudo, ligação
com Zé Dirceu. Esqueça”. Aí ele virou e falou assim “enfim, então,
isso aí você não sabe, foi numa reunião em Itajubá’, entendeu?
Cláudio: Ham, pode falar para ele também esquecer isso aí, esquecer, esquece, cara. Vou te contar depois. É...
Cachoeira:
Mas a história é essa, viu, o cara veio doidinho atrás da fita onde
tava o Fernando dando dinheiro pro povo do Agnelo, foi filmado,
(inteligível) a história até ele falou diferente, outra história.
Cláudio: Mas esqueça isso, tem nada disso não.
Cachoeira: Cê me garante? Eu “garanto, rapaz”. Você confia nele? “Confio”. Garanto pra você que ele esqueceu. Mas ele veio sequinho falando que aquilo era a verdade.
Cachoeira: Cê me garante? Eu “garanto, rapaz”. Você confia nele? “Confio”. Garanto pra você que ele esqueceu. Mas ele veio sequinho falando que aquilo era a verdade.
Cláudio:
Pois é, ta vendo, ele contava um negócio desse aí, porque o cê mesmo
sabe qual que é a verdade. Aí o cara falando dessa história, sabe até o
local onde foi nós com o Agnelo, ta vendo? Tem nada a ver, porra.
Cachoeira:
Ele falou que tem uma fonte aí que falou isso para ele, mas isso é
fonte falsa, fonte furada, ô, ô, esqueça isso, tá bom? O Policarpo, ele
confia muito em mim, viu? Vô ter que mostrar a mensagem que ele mandou
antes, 10 horas da manhã para mim encontrar aqui em Brasília, eu tava
aqui fui me encontrar com ele. Aí vou te mostrar depois, mas aí ele não
pode saber que eu falei isso pro cê não, ta? Guarda aí, nem o Lula,
não conta pro Lula não, se não o Lula acaba espalhando.
Cláudio: Tá. Cê quer encontrar com o chefe?
Cachoeira: Não, com o governador?
Cláudio: Com o Fernando, pô.
Cachoeira:
Precisa não, fala pra ele que nós tamo olhando tudo, ta? Outra coisa,
eu não senti que o (corte na ligação) gosta muito do Lula não, ta?
Cláudio: É né?
Cachoeira:
O Lula, eu to descobrindo umas coisas aqui, o Lula manda muito no
Correio Braziliense, viu? Entra. Entra no Correio, sabe tudo. Então, a
Veja, assim, um pé atrás com ele, né? Ele atacou a Veja uma época aí.
Você sabe da história, então? Ele não entra bem na Veja não, viu? Não
sei se é uma boa deixar, utilizar ele dentro da Veja não. É só entrar, é
tran...(ligação cortada) ...é...?
Cláudio: Ta ok. Ta ok.
Cláudio: Ta ok. Ta ok.
Cachoeira: Policarpo mesmo não é muito fã não, mas não fala que eu te falei isso não, nem pro Fernando, ta?
Um comentário:
nada como um dia atraz do outro,ne? o demostenes,que pediu a expulsão do arruda do DEM,era o homen do cachoeira,uma vestal. O durval,o amigo do roriz que derrubou o arruda,agora admite que o dinheiro que distribuia era no governo do roriz,e ate a cena da meia era de 2006,no governo do padrinho dele. Estão caindo todos os falsos herois.
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