A Operação Monte Carlo da Polícia Federal continua causando estragos. O
ex-demo Demóstenes Torres morreu politicamente. Sua cassação já é dada
como certa. O governador tucano Marconi Perillo está cada vez mais
enrolado. E o deputado Carlos Leréia faz ameaças ao PSDB para não ser
rifado. O fato novo, agora, é o possível envolvimento do governador Beto
Richa, do Paraná, com a máfia de Carlinhos Cachoeira. A revista Época
desta semana traz uma reportagem que aranha a imagem do ambicioso
tucano.
Os tentáculos do mafioso
Segundo a matéria, intitulada “Negócios que não param de jorrar” e
assinada por Andrei Meireles, Murilo Ramos e Leonel Rocha, “o bicheiro
Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, começou a vida
no ramo de jogos ilegais. Com a ajuda de políticos e policiais e o uso
de recursos do submundo, ele se tornou um homem próspero, com negócios
nos ramos farmacêutico e da construção civil. Seu braço nessa área era a
construtora Delta”.
Através destas empresas, Cachoeira estendeu seus tentáculos criminosos
por vários estados. A revista Época não cita São Paulo, onde a Delta
também firmou contratos milionários na gestão de José Serra. O motivo do
esquecimento é óbvio. Mas ela menciona outros estados da região
centro-oeste. Dá destaque para o Mato Grosso, onde o mafioso utilizava
como fachada a Construtora Rio Tocantins (CRT). No final da reportagem,
porém, ela inclui o Paraná como um dos alvos da cobiça do mafioso.
"O caboclo gosta de um jogo"
A partir do depoimento do delegado Matheus Mella Rodrigues, responsável
pela Operação Monte Carlo, em sessão secreta da CPI do Cachoeira na
semana passada, a revista Época informa que a Polícia Federal listou 81
pessoas, “que mantinham contatos com integrantes da organização
criminosa ou seriam cortejados por eles. Entre os listados está o
governador do Paraná, Beto Richa (PSDB)”. Vale a pena conferir os
trechos finais da reportagem, que podem abater mais um tucano de alta
plumagem:
*****
Em 23 de agosto de 2011, Lenine Araújo, um dos principais
colaboradores de Cachoeira, e Miguel Marrula (DEM), ex-vereador de
Anápolis, em Goiás, falam da pretensão de Cachoeira de expandir sua
atuação no Paraná. “Meu primo é muito… do vice-governador de lá, sabe? E
quer levar o Carlinhos Cachoeira para conhecer o Beto Richa, lá, e a
gente pode aproveitar alguma coisa nisso, você concorda?”, diz Marrula a
Araújo. “Ele (Richa) é da família nossa. Você pensa num caboclo que
gosta de um jogo...” Durante audiência na CPI, ficou claro que o primo a
quem Marrula se refere é Amin Hannouche (PP), prefeito de Cornélio
Procópio, no Paraná. Amin tem pretensões de ser o candidato a
vice-governador de Beto Richa na eleição de 2014.
Marrula diz que, apesar de pequeno, o grupo ligado ao primo é forte.
“Está com a faca e o queijo na mão porque o pessoal de lá, o secretário
de Segurança, nós que colocamos… é gente da minha casa. É gente do meu
primo”, afirma. O secretário de Segurança do Paraná, Reinaldo Almeida
César Sobrinho, seria o personagem da conversa entre Marrula e Araújo.
Sobrinho foi presidente da Associação de Delegados Federais e assessor
do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O delegado Sobrinho
afirmou a Época que não conhece Marrula nem Cachoeira. Disse, ainda, que
conheceu o prefeito de Cornélio Procópio meses depois de ter assumido a
Secretaria de Segurança e nega interferência dele em sua nomeação.
Antes mesmo da Operação Monte Carlo, a cúpula da Segurança Pública no
Paraná já fora atingida por suspeitas de relações com jogo ilegal. Em
novembro do ano passado, o então comandante da Polícia Militar no
Estado, Marcos Scheremetta, foi afastado depois de dizer que conversava
com os chefões do jogo do bicho no Estado. Scheremetta disse que seu
pai, que já morreu, costumava trabalhar com o jogo ilegal. Scheremetta
afirmou também que nunca escondeu essas informações do governador e do
secretário de Segurança.
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