Passada uma semana das reações apaixonadas, chegou a hora de perguntar
serenamente: e agora, racismo brasileiro, podemos finalmente construir
uma nação? Podemos começar a ensaiar os primeiros passos de uma futura
igualdade social, a partir dessa primeira garantia de igualdade racial
na educação, que o STF fez virar letra de lei? Ou vamos continuar
esperneando pelos editoriais dos jornalões, nas baladas chics, nas redes
sociais, ou nas mesas de bar contra uma decisão que lavou a alma do
país?
Sinceramente, racismo, eu espera um placar de 6 a 4 e já estaria de bom
tamanho.Mas o supremo nos mostrou que, apesar de ter um bom número de
ministros-conservadores, estes se mostraram pessoas inteligentes e bons
leitores do Brasil. Eles sabiam impossível continuar um apartheid de
quatro séculos sustentado pelo cinismo, pela desfaçatez e pela
crueldade do olvido.No voto de alguns, eu vi a completa destruição do
argumento de “morte do mérito” que a elite euro-descendente brandia para
condenar as cotas. Ora, como se podia falar em mérito quando, ao longo
da história, houve uma reserva de mercado das coisas boas para um
segmento e a sonegação de todos os bons caminhos para a outra parte?
Escolas boas, empregos bons, contas correntes ótimas; para o outro lado,
escravidão, abolição sem cidadania, péssima educação, favelas e
cadeias. Ganhar assim era fácil demais, não?
O outro argumento, o de que cotistas não teriam condições de
“acompanhar” o ritmo das aulas no ensino superior, esses dez anos de
ações afirmativas desmoralizaram totalmente. Reitores de universidades
que adotaram as cotas são unânimes em declarar que afrodescendentes e
indígenas tornaram-se os melhores alunos, ou sempre estiveram entre os
melhores de suas instituições! Sinal de que nunca faltou inteligência ou
capacidade de aprender: faltava, sim, oportunidade.
10 x 0! Que placar! Nem a seleção de 1958 ou a de 1970 conseguiriam nos
dar, no futebol, um placar tão expressivo. Como nos privaram
secularmente não só do conhecimento como também do trabalho digno(uma
coisa leva à outra), temos, desde já, duas novas batalhas à vista: a
primeira, para implantar a decisão do STF em todas as universidade
públicas que se recusavam a fazê-lo; a segunda, pela implantação do
sistema de cotas no serviço público, através dos concursos.Isso não é
pedido: é cobrança de dívida! Em tempo: essas palavras, racismo
brasileiro, não são minhas: são do Supremo Tribunal Federal do
Brasil.Vai encarar?
De qualquer modo, quem perde – e perde feio – tem todo o direito de espernear. Podem ficar à vontade.
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