FHC prega que o "poderio do governo sobre a pequena mídia é crescente". Esquece que venceu pleitos com apoio da mídia golpista |
“O poderio do governo (de Dilma Rousseff), sobretudo sobre a pequena
mídia, é crescente.” Palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
no Instituto FHC na terça-feira 15. Autor de alguns livros acadêmicos
de sociologia lidos por um punhado de gatos pingados há mais de três
décadas, FHC continua sendo “a principal referência intelectual” da
oposição partidária (leia PSDB) e dos seus simpatizantes (leia elites),
escreveu Marcos Coimbra, colunista de CartaCapital.
Nesse trono dos intelectuais da direita, FHC esmera-se em semear
contradições mil. Eis mais uma vez a acima citada (e haverá outras
abaixo): o poder da pequena mídia é crescente. O ex-presidente esqueceu
que foi eleito em grande parte graças à mídia conservadora, e
principalmente pela tevê Globo, cria da ditadura? Naquela
primeira eleição em 1994, o candidato de Roberto Marinho era FHC. O
povo, ainda despreparado para votar no torneiro mecânico, votou no
intelectual de gravata.
Em seguida, os supostos experts em economia da tevê global e de todos aqueles semanários conservadores como Veja e mais os diários Folha, Estado, Globo
etc. inventaram que o presidente sociólogo foi o criador do plano real –
e assim ele tirou o Brasil do buraco. A mídia internacional,
especialmente a anglo-saxônica, comprou a versão dos colegas canarinhos.
Vale acrescentar o seguinte: essas revistas e jornalões, assim como a
tevê da família Marinho, estiveram por trás do golpe de Estado de 1964 e
do golpe dentro do golpe.
Pergunta: o sociólogo presidente, que ganhou fama mundial com sua Teoria
da Dependência, teve suposta formação marxista, e se autoexilou na
França (ele poderia ter ficado aqui sem nenhum temor), reconhece como se
contradiz? Apoiado pelas elites e uma mídia que distorce fatos, FHC
agora culpa Dilma, que se opôs de verdade contra a ditadura, por ser
defendida por uma “pequena mídia”. Pior seria como a defende o pessoal
da blogosfera? Blogosfera, diga-se, também povoada por reacionários e
mesmo assim Veja quer censurá-la. Um adendo já manjado, mas é bom
repeti-lo para podermos refletir sobre o nível do jornalismo canarinho:
o chefe da sucursal da Veja em Brasília trabalhou em parceria
com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, agora atrás das grades, para
produzir furos contra a esquerda. Os dois trocaram 200 telefonemas. O
que leremos nas transcrições dessas “entrevistas”?
Provavelmente não leremos nada. A mídia que FHC aprova fecha-se em copas para que Roberto Civita, o dono da Veja, não compareça à CPI do Cachoeira. E o bicheiro de Goiás que corrompeu deputados e governadores gostaria de contar tudo…
De corrupção, aliás, FHC entende. Ele não disse, em outra manchete de
jornalão tucano, que o governo de Dilma roubou mais que os seus dois
governos? Dito de outra forma, os governos de FHC também roubaram, mas
menos. É algo como dizer: você matou 100 pessoas, eu somente 25.
Convenhamos: faro para o que interessa à mídia FHC tem. É preciso falar
de corrupção. O assunto, como diz Vladimir Safatle, colunista da CartaCapital, é “grave” e temos de lidar com ele. Mas e os outros assuntos? Por exemplo, como vai a social-democracia hoje?
Não espere a resposta de FHC, o líder intelectual da oposição. Na
verdade, o Partido da Social-Democracia Brasileiro (PSDB) nunca foi
social-democrata. E nem seu fundador-mor. Alguns meses atrás FHC disse a
algum jornalão que ele deveria ser julgado pelo seu legado, não pela
sua linhagem ideológica. De qualquer forma, essa linhagem ideológica é
límpida como as águas do Mediterrâneo.
Mais recentemente, num artigo intitulado “Política e moral”, no qual FHC
analisa um recente livro do seu amigo sociólogo Alain Touraine, os
partidos estariam “petrificados”. “Lideranças respeitadas podem
despertar a confiança perdida.” Indagou Marcos Coimbra: “Será que ele
está se oferecendo para o papel?”
Claro que sim.
Fernando Henrique Cardoso se apresenta como apóstolo da pós-política
para debater a corrupção, e em particular o Mensalão. (Será que FHC leu A Privataria Tucana, de Amaury Jr.?) E assim o ex-presidente quer despolitizar ainda mais quem o ouve.
Enquanto isso, os franceses elegeram para a Presidência François Hollande, um socialista.
Social-Democrata de verdade, Michel Rocard, o mais popular premier da V República da França, disse a CartaCapital:
“Podemos dizer que agora nos aproximamos da social-democracia na
França… De qualquer forma, a esquerda francesa está tomando uma
responsabilidade na economia de mercado”.
Em outro encontro com Rocard, o ex-premier observou: “Importante não é o balé dos indivíduos, mas sim as correntes coletivas”.
FHC é apenas um bailarino.
Gianni CartaNo CartaCapital
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