Ignomínia
O manda-chuva do PPS, deputado federal Roberto Freire, considerou, em mensagem no Twitter, uma "ignomínia" o fato de a presidente Dilma Rousseff ter determinado que as cédulas em circulação no país passassem a levar a inscrição "Lula seja louvado". O deputado, um dos mais vigorosos inimigos do regime que classifica como "lulodilmista",
nem havia percebido que a ordem da presidente foi noticiada por um site
que só tem informações falsas. Os títulos das notas não deixam nenhuma
margem de dúvida: "Dilma Rousseff anuncia a privatização de parte da
população brasileira", "Cientista que conseguiu colorir as nuvens revela
fórmula mágica utilizada", "Crime organizado divulga a agenda de
assaltos para o mês de maio em todo o Brasil" - e por aí vai.
Freire pagou o mico do ano. Seu twitter virou um clássico. Em matéria de
idiotice dificilmente será superado tão cedo. Recebeu uma quantidade
imensa de mensagens que o gozavam e ainda perdeu tempo em bater boca com
o pessoal que queria apenas azucriná-lo.
O substantivo feminino "ignomínia", segundo definição do
dicionário Aulette, significa "desonra extrema, infâmia; atitude ou
estado que caracteriza desonra ou degradação".
Freire, obviamente, sabe muito bem o que é ou não ignominioso.
Antes de presidir o PPS (Partido Popular Socialista) e antes de virar
esse político que demonstra ter ódio do PT (Partido dos Trabalhadores),
de Lula, de Dilma, de tudo o que se relaciona com o atual e os dois
governos anteriores, e extrema afinidade ideológica com os setores mais
reacionários da política brasileira, como o DEM e o PSDB, Freire
comandou o PCB (Partido Comunista Brasileiro, o "Partidão"), foi candidato à presidência da República pela sigla e apoiou Lula no segundo turno contra Collor.
Seu maior feito, porém, se deu em 1992, quando liquidou com o Partidão
para fundar aquele que pretendia que fosse seu sucessor, esse PPS que
hoje trabalha como dócil linha auxiliar dos neoudenistas e retrógrados
em geral.
Não foi pouca coisa o que o atual deputado federal fez naquela ocasião.
Queiram ou não, entre erros e acertos, o Partidão está inscrito num
lugar de destaque na história do Brasil. Por ele passaram lideranças
como Luís Carlos Prestes, Agildo Barata, João Amazonas, Maurício
Grabois, Carlos Marighella, Diógenes de Arruda Câmara, Gregório Bezerra e
tantos outros que dedicaram suas vidas à construção de um país mais
igualitário, onde o povo fosse o protagonista das ações e não simples
mão de obra barata para os senhores da Casa Grande.
A ação conduzida pelo deputado Roberto Freire em 1992 pôs fim a uma
página gloriosa do grande livro que a sociedade brasileira vem
escrevendo século após século.
Hoje, 20 anos depois de ter destruído o Partidão, ainda está vivo o
sentimento de que aquilo sim foi uma ignomínia, um ato que desonrou toda
uma tradição de lutas e sacrifícios de várias gerações.
Pelo que fez, Freire não deveria ter recebido só as centenas de
mensagens bem humorados que entupiram seu Twitter em plena
segunda-feira. Ele merece mais, muito mais.
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