A revista que arrendou uma quadrilha para produzir 'flagrantes' que
dessem sustentação a matérias prontas contra o governo, o PT, os
movimentos sociais e agendas progressistas teve a credibilidade ferida
de morte com as revelações do caso Cachoeira. VEJA sangra em praça
pública. Mas na edição desta semana, tenta um golpe derradeiro naquela
que é a sua especialidade editorial: um grande escândalo capaz de
ofuscar a própria deriva. À falta dos auxilares de Cachoeira, recorreu
ao ex-presidente do STF, Gilmar Mendes, que assumiu a vaga dos
integrantes encarcerados do bando para oferecer um 'flagrante' a VEJA.
Desta vez, o alvo foi o presidente Lula. A semanal transcreve diálogos
narrados por Mendes de uma inexistente conversa entre ele e o
ex-presidente da República, na cozinha do escritório do ex-ministro
Nelson Jobim. Gilmar Mendes --sempre segundo a revista-- acusa Lula de
tê-lo chantageado com ofertas de 'proteção' na CPI do Cachoeira. Em
troca, o amigo do peito de Demóstenes Torres (com quem já simulou uma
escuta inexistente da PF) deveria operar para postergar o julgamento do
chamado 'mensalão'.
Neste sábado, Nelson Jobim, insuspeito de qualquer fidelidade à
esquerda, desmentiu cabalmente a versão da revista e a do magistrado.
Literalmente, em entrevista ao Estadão, Jobim disse: 'O quê? De forma
nenhuma, não se falou nada disso. O Lula fez uma visita para mim, o
Gilmar estava lá. Não houve conversa sobre o mensalão; tomamos um café
na minha sala. O tempo todo foi dentro da minha sala (não na cozinha); o
Lula saiu antes; durante todo o tempo nós ficamos juntos", reiterou.
A desfaçatez perpetrada desta vez só tem uma explicação: bateu o
desespero; possivelmente, investigações da CPI tenham chegado perto
demais de promover uma devassa em circuitos e métodos que remetem às
entranhas da atuação de Mendes e VEJA nos últimos anos. Foram para o
tudo ou nada no esforço de mudar o foco e crir um fato consumado a
precipitar o julgamento do chamado 'mensalão'. Jogaram alto na
fabricação de uma crise política e institucional. O desmentido de Jobim
nivela-os à condição dos meliantes já encarcerados do esquema
Cachoeira.
A Justiça pode tardar. A sentença da opinião pública não.
(Carta Maior; Domingo/27/05/2012)
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