23 de maio de 2012 às 0:55
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Meu amigo Altino Machado divulgou no
seu blogue uma carta aberta dos jornalistas baianos sobre o
episódio da entrevista realizada por Mirella Cunha que teve divulgação aqui. É
preciso registrar que na manhã de hoje quando Fórum entrou em contato com o
presidente da Fenaj, solicitando um posicionamento sobre o caso. Sua resposta
foi:
“o ambiente da blogosfera não é totalmente confiável.
Temos canais confiáveis e outros nem tanto. Primeiro será feita esta checagem da
matéria e da informação pelo Sindicato da Bahia.”
Ou seja, naquele momento, umas 13h, e
depois de mais de 100 mil pessoas já terem assistido o vídeo só neste blogue,
Celso Schroder, presidente da Fenaj, primeiro desqualificava a blogosfera para
depois dizer que iria apurar e verificar se houve ou não um erro na mídia
tradicional comercial. A mídia de vejas, globos e quetais. Uma
pena.
Ainda bem que os jornalistas baianos
não esperaram a voz de comando. E cá para nós, ainda bem que ignoramos por aqui
o discurso de muitos que diziam que isso na Bahia acontecia todos os dias. E que
por isso o caso deveria ser deixado para lá.
CARTA ABERTA DE
JORNALISTAS
Sobre abusos de programas
policialescos na Bahia
“O demo a viver se
exponha,
Por mais que a fama a
exalta,
Numa cidade onde
falta
Verdade, honra,
vergonha.”
(Gregório de Mattos e
Guerra)
Ao governador do Estado da Bahia,
Jaques Wagner.
À Secretaria da Segurança Pública do
Estado da Bahia.
Ao Ministério Público do Estado da
Bahia.
À Defensoria Pública do Estado da
Bahia.
À Sociedade
Baiana.
A reportagem “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega
inocência“,
produzida pelo programa “Brasil Urgente Bahia” e reprisada nacionalmente na
emissora Band, provoca a indignação dos jornalistas abaixo-assinados e motiva
questionamentos sobre a conivência do Estado com repórteres antiéticos, que têm
livre acesso a delegacias para violentar os direitos individuais dos presos,
quando não transmitem (com truculência e sensacionalismo) as ações policiais em
bairros populares da região metropolitana de Salvador.
A reportagem de Mirella Cunha, no
interior da 12ª Delegacia de Itapoã, e os comentários do apresentador Uziel
Bueno, no estúdio da Band, afrontam o artigo 5º da Constituição Federal: “É
assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. E não faz mal
reafirmar que a República Federativa do Brasil tem entre seus fundamentos “a
dignidade da pessoa humana”. Apesar do clima de barbárie num conjunto apodrecido
de programas policialescos, na Bahia e no Brasil, os direitos constitucionais
são aplicáveis, inclusive aos suspeitos de crimes tipificados pelo Código
Penal.
Sob a custódia do Estado, acusados de
crimes são jogados à sanha de jornalistas ou pseudojornalistas de microfone à
mão, em escandalosa parceria com agentes policiais, que permitem interrogatórios
ilegais e autoritários, como o de que foi vítima o acusado de estupro Paulo
Sérgio, escarnecido por não saber o que é um exame de próstata, o que deveria
envergonhar mais profundamente o Estado e a própria mídia, as peças essenciais
para a educação do povo brasileiro.
Deve-se lembrar também que pelo
artigo 6º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “é dever do
jornalista: opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como
defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
O direito à liberdade de expressão não se sobrepõe ao direito que qualquer
cidadão tem de não ser execrado na TV, ainda que seja suspeito de ter cometido
um crime.
O jornalista não pode submeter o
entrevistado à humilhação pública, sob a justificativa de que o público aprecia
esse tipo de espetáculo ou de que o crime supostamente cometido pelo preso o
faça merecedor de enxovalhos. O preso tem direito também de querer falar com
jornalistas, se esta for sua vontade. Cabe apenas ao jornalista inquirir. Não
cabem pré-julgamentos, chacotas e ostentação lamentável de um suposto saber
superior, nem acusações feitas aos gritos.
É importante ressaltar que a
responsabilidade dos abusos não é apenas dos repórteres, mas também dos
produtores do programa, da direção da emissora e de seus anunciantes – e nesta
última categoria se encontra o governo do Estado que, desta maneira, se torna
patrocinador das arbitrariedades praticadas nestes programas. O governo do
Estado precisa se manifestar para pôr fim às arbitrariedades; e punir seus
agentes que não respeitam a integridade dos presos.
Pedimos ainda uma ação do Ministério
Público da Bahia, que fez diversos Termos de Ajustamento de Conduta para
diminuir as arbitrariedades dos programas popularescos, mas, hoje, silencia
sobre os constantes abusos cometidos contra presos e moradores das periferias da
capital baiana.
Há uma evidente vinculação entre
esses programas e o campo político, com muitos dos apresentadores buscando,
posteriormente, uma carreira pública, sendo portanto uma ferramenta de
exploração popular com claros fins político-eleitorais.
Cabe, por fim, à Defensoria Pública,
acompanhar de perto o caso de Paulo Sérgio, previamente julgado por parcela da
mídia como “estuprador”, e certificar-se da sua integridade física. A
integridade moral já está arranhada.
Salvador, 22 de maio de
2012.
Em ordem
alfabética:
Alana Fraga
Alexandre Lyrio
Altino Machado
André Uzêda
Ana Paula Ramos
André Julião
André Setaro
Breno Fernandes
Camila Soares Gaio
Carolina Garcia
Ceci Alves
Claudio Leal
Débora Alcântara
Eduardo Neco
Elen Vila Nova
Eliano Jorge
Emanuella Sombra
Felipe Amorim
Felipe Mortimer Gomes Carneiro
Flávio Costa
Franciel Cruz
Gabriel Carvalho
Gonçalo Jr.Helena Palmquist
Herbem Gramacho
Jane FernandesJoão Paulo Oliveira
João Pedro PitomboJosélia Aguiar
Juliana Brito
Larissa OliveiraLeda Beck
Luana Rocha
Lunaé Parracho
Marcelo Brandão
Márcio Orsolini
Marcos Diego Nogueira
Maria Olivia Soares
Mariana Rios
Marlon Marcos
Natália Martino
Nelson Barros Neto
Paulo Sales
Pedro Caribé
Pedro Marcondes de Moura
Rachel Costa
Rita Dantas
Roberto Martins
Rodrigo Cardoso
Rodrigo Meneses
Rodrigo Minêu
Rodrigo Rangel
Rodrigo Sombra
Saymon Nascimento
Thaís Naldoni
Thiago Ferreira
Valmar Hupsel Filho
Vânia Medeiros
Vitor Hugo Soares
Vitor Pamplona
Zoraide Vilasboas
Alexandre Lyrio
Altino Machado
André Uzêda
Ana Paula Ramos
André Julião
André Setaro
Breno Fernandes
Camila Soares Gaio
Carolina Garcia
Ceci Alves
Claudio Leal
Débora Alcântara
Eduardo Neco
Elen Vila Nova
Eliano Jorge
Emanuella Sombra
Felipe Amorim
Felipe Mortimer Gomes Carneiro
Flávio Costa
Franciel Cruz
Gabriel Carvalho
Gonçalo Jr.Helena Palmquist
Herbem Gramacho
Jane FernandesJoão Paulo Oliveira
João Pedro PitomboJosélia Aguiar
Juliana Brito
Larissa OliveiraLeda Beck
Luana Rocha
Lunaé Parracho
Marcelo Brandão
Márcio Orsolini
Marcos Diego Nogueira
Maria Olivia Soares
Mariana Rios
Marlon Marcos
Natália Martino
Nelson Barros Neto
Paulo Sales
Pedro Caribé
Pedro Marcondes de Moura
Rachel Costa
Rita Dantas
Roberto Martins
Rodrigo Cardoso
Rodrigo Meneses
Rodrigo Minêu
Rodrigo Rangel
Rodrigo Sombra
Saymon Nascimento
Thaís Naldoni
Thiago Ferreira
Valmar Hupsel Filho
Vânia Medeiros
Vitor Hugo Soares
Vitor Pamplona
Zoraide Vilasboas
Do e-mail enviado por Beatrice.Lista.
2 comentários:
Saraiva
Por mais que repudiemos o ato dessa "jornalistazinha", acho que não podemos esquecer também do Delegado responsável pela delegacia que permitiu que tal fato ocorresse.
Como permitem que jornalistas humilhem os detentos?
Aquele que permite também deve ser responsabilizado pelo fato.
Um grande abraço meu amigo
BURCOS,
No dia que vi o vídeo pela primeira vez comentei sobre o problema da polícia em facilitar coisas do tipo para as TVs, principalmente GLOBO e BAND.
Acredito que com o manifesto a coisa chegará ao MP que tomará providências contra a jornalista, BAND e também contra a autoridade policial responsável pela facilitação de reportagem tão degradante.
Estamos cansados de ver batidas policias e cumprimentos de mandados de busca e apreensão e prisão, que apesar de todo sigílio e acompanhado de gente da Globo e BAND, que depois notíciam com filmagem "COM EXCLUSIVIDADE".
Abraços,
Saraiva
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