08/05/2012 - 07h02
Dá dó!
A oposição está atordoada. Alguns de seus líderes ensaiaram críticas às
mudanças feitas pela presidente Dilma Rousseff na remuneração da
caderneta de poupança. Saíram dizendo que ela deveria ter reduzido os
impostos sobre aplicações financeiras, como fundos de investimentos, em
vez de mudar o cálculo do rendimento da caderneta, a mais tradicional
forma utilizada pelo brasileiro para poupar seu dinheirinho no final do
mês.
Faltou quem orientasse esses líderes da oposição. Em resumo, eles
defenderam que o governo melhorasse a vida dos rentistas, aumentando o
lucro daqueles que aplicam, por exemplo, em títulos do Tesouro Nacional,
em vez de mexer na poupança, o que irá permitir que o Banco Central
reduza ainda mais a taxa de juros do país. Traduzindo, querem beneficiar
um grupo restrito de pessoas em vez de adotar uma medida que tem
potencial para melhorar a vida de empresários e trabalhadores com a
redução do custo financeiro do país.
Mal comparando, a oposição ensaiou entrar no mesmo caminho dos petistas
quando do lançamento do Plano Real. Luiz Inácio Lula da Silva, que veio a
se tornar presidente do Brasil, não poupou críticas ao plano elaborado
pelo tucano Fernando Henrique Cardoso no governo Itamar Franco. Mais
tarde, admitiu o erro, responsável por sua derrota na eleição de 1994.
Agora, se tudo der certo na estratégia dilmista, o Brasil pode caminhar
para ter juros civilizados -estratégia que a equipe da presidente
classifica de o Plano Real da Dilma. Se a oposição insistir nas críticas
fáceis à mexida na poupança, corre o risco de ter de reconhecer, daqui
alguns anos, o erro de avaliação. Infelizmente, a oposição brasileira
minguou e não se mostra capaz de lançar uma agenda propositiva.
O fato é que, tirando as preferências partidárias, a mudança na
caderneta de poupança é uma medida que veio tarde. Dilma, ao contrário
de seus antecessores, teve disposição e coragem de enfrentar o tema,
tido como impopular por conta do histórico recente de confisco da
poupança patrocinado pelo governo de Collor.
A remuneração fixa da caderneta de poupança, na casa dos 7%, havia
criado um piso para a taxa de juros. Ela não podia cair para 8,5% sem
provocar distorções no mercado financeiro e no financiamento da dívida
pública.
Como as aplicações financeiras pagam taxa de administração e Imposto de
Renda, um juro de 8,5% pago pelos títulos públicos, que compõem as
carteiras de fundos de investimento, acaba equivalendo a algo na casa de
7%. Resultado: os rentistas tenderiam a tirar seu dinheiro dos fundos e
passar para a poupança, que ficaria mais rentável. Agora, esse risco
deixa de existir. E o Banco Central fica livre para reduzir os juros,
caso, claro, avalie que o cenário econômico permite tal movimento.
No Palácio do Planalto, a expectativa é que os juros, hoje em 9% ao ano,
caiam para pelo menos 8% no final de 2012. Há quem aposte que pode
ficar até abaixo deste percentual. A conferir.
Valdo Cruz é repórter especial da Folha e colunista da Folha.com. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às terças-feiras.
Do Blog Língua de Trapo.
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