Para muitos, a melhor defesa é o ataque. Uma tática militar antiga e
até mencionada na Arte da Guerra, um escrito do chinês Sun Tzu, por
volta do século IV AC.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, parece ser adepto dessa velha e surrada tese militar.
A propósito, a tática é muita usada por políticos brasileiros para se fazer de vítima e mudarem o foco.
Nos tratados sobre “vitimologia” escritos por juristas não há registro
sobre aqueles, como Gurgel, que se colocam como vítimas para descumprir
a obrigação de informar os cidadãos, algo fundamental nos estados
democráticos de Direito.
Gurgel disse que os ataques recebidos, referentes ao inquérito policial
nascido com a operação Vegas e que ele colocou na geladeira desde
2009, são de autoria dos que estão “morrendo de medo do mensalão”.
Muitos cidadãos brasileiros não são réus no processo conhecido como
“mensalão” e estranharam ter Gurgel “sentado em cima” de um trabalho
investigativo que já apontava para o que se sabe agora: o envolvimento
do senador Demóstenes Torres com a organização criminosa comandada pelo
“capo” Carlinhos Cachoeira.
Que o Partido dos Trabalhadores (PT) e os Zé Dirceus e Jeffersons da
vida tenham interesse em desprestigiar Gurgel, é simplesmente constatar
uma obviedade. Mas, convenhamos, Gurgel deu de bandeja uma
justificativa para os seus desafetos: em alegações finais, no processo
do mensalão, o procurador-geral pediu a condenação de mensaleiros de
alto coturno da vida político-partidária.
O inquérito referente à operação Vegas só foi desovado por Gurgel
depois de cobrado por parlamentares, que não eram só do PT. A carga
principal foi de parlamentares do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade),
que não tem acusados de mensaleiros.
Como sabe até a torcida do Flamengo, o procurador Gurgel, se não tinha
elementos para propor ação penal ou requisitar novas diligências,
deveria, em prazo razoável, ter pedido o arquivamento dos autos de
inquérito.
Pelo informado na CPMI pelo delegado Raul Alexandre Marques de Souza, o
procurador Gurgel determinou à mulher Cláudia Sampaio, subprocuradora,
que, informalmente, participasse ao presidente do inquérito policial
federal (Raul Alexandra Marques Souza) a inexistência de indícios com
lastro de suficiência com relação ao senador Demóstenes. Ora, um
procurador-geral bem sabe que, em casos tais, o caminho é solicitar o
arquivamento ou novas apurações. Jamais colocar no “freezer” um
inquérito. No “freezer” de Gurgel permaneceu o inquérito da operação de
2009 até ser cobrado por parlamentares em 2012.
Nesse período de “freezer”, e como destaquei no post de ontem,
Demóstenes fez pressão (para manter no freezer” o inquérito supracitado)
contra a recondução de Gurgel a um segundo mandato. Gurgel contava, na
recondução, com o apoio do então ministro Antonio Palocci, de triste
memória. Palocci é aquele da violação do sigilo do bancário do caseiro e
do aumento pantagruélico do patrimônio pessoal, que Gurgel, para usar
uma expressão popular, “deixou barato” e deu tratamento, agora com
expressão mais erudita, de “vela de libra”.
Quanto ao mensalão, é de se observar que a acusação (denúncia) não foi
formulada por Gurgel, mas pelo então procurador-geral Antonio Fernando
Souza. Caberá aos ministros do Supremo Tribunal Federal, e não a
Gurgel, o julgamento.
No caso, o Ministério Público, representado por Gurgel, é parte
processual. Parte acusadora e no mesmo pé de igualdade com as partes
acusadas, ou melhor, com os réus.
Nenhum cidadão brasileiro é idiota a ponto de confundir o processo do
mensalão com inquérito da operação Las Vegas, colocado por Gurgel,
contra a lei, no “freezer”.
Na verdade, Gurgel foge ao dever de explicar a razão de não ter, de
2009 a 2012, pedido, nos autos do inquérito gerado pela operação,
arquivamento ou novas diligências.
Até agora, as suas explicações sobre o atraso não encontram suporte jurídico.
Pano rápido. Gurgel usa de um diversionismo e coloca todos os que
o cobram, como acontece neste blog, como petistas. O titular desse
espaço nunca foi petista e, com 65 anos de idade, jamais se filiou a
partidos políticos.
Wálter MaierovitchNo CartaCapital
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