Veja está assustada. De um lado, seus métodos nada jornalísticos estão
sendo questionados à luz de gravações para lá de comprometedoras, que
mostram a revista como possível cúmplice de um esquema criminoso. E a
publicação ainda perdeu sua fonte privilegiada, a quem apresentava como
exemplo de retidão do conservadorismo brasileiro, o ainda senador
Demóstenes Torres.
De outro lado, a alta popularidade da presidente Dilma Rousseff
prejudica os projetos político-ideológicos da revista, hoje o mais
importante porta-voz da direita brasileira. As últimas decisões do
governo, na área econômica, deixaram Veja mais assustada ainda.
Seu colunista Maílson da Nóbrega também está assustado. Desde que acabou
sua péssima e desastrada gestão como ministro da Fazenda no governo
Sarney, quando o país chegou à hiperinflação, Maílson dedica-se a dar
consultoria a bancos, empresas e investidores e publicar artigos na
imprensa. É um direito dele, mas que Veja não admite ser também um
direito do também ex-ministro José Dirceu.
Assim como Veja substituiu a reportagem pelo panfleto e a apuração
jornalística pelos dossiês entregues de mão-beijada, Maílson substitui a
análise econômica pela propaganda política. Faz a defesa dos banqueiros
a quem serve, atribui a culpa pelos juros altos ao governo e cai na
vala comum da direita assustada, que vê “populismo”, “intervencionismo” e
“interferências descabidas”, entre outras coisas, no discurso e nos
atos da presidente contra os juros altos e os excessos do sistema
financeiro.
Há análises sérias, de economistas e empresários, sobre as medidas que
vêm sendo tomadas pelo governo. Eles mostram que são positivas, porém
insuficientes se não forem acompanhadas de outras, como a desindexação, a
desconcentração bancária, a queda da carga tributária, os cuidados
contra a inflação, entre outras.
Outro ex-ministro da Fazenda, que também cometeu seus erros nos tempos
de ditadura, mas dá banho de conhecimento e competência em Maílson,
sintetizou: a virtude do discurso e dos atos de Dilma “está em respeitar
e proteger a solidez do sistema financeiro brasileiro, mas não
consentir em deixá-lo ditar o tom da política econômica”. Isso, queiram
ou não Veja, Maílson e a direita, compete ao Estado.
Mas o artigo do ex-ministro da hiperinflação na Veja é apenas mais um
serviço de relações públicas que ele presta aos bancos. Que deveriam
procurar escribas mais competentes e com melhor reputação profissional. A
direita tem melhores do que Maílson.
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