Crônicas do Motta
Quando entrei no Estadão, no
longínquo ano de 1986, o nome Brizola não podia ser escrito nem
publicado. Ele era simplesmente o "caudilho". Nem o de Orestes Quércia,
vulgo "governador". Maluf também era vetado, seguindo uma tradição dos
Mesquitas de tentar apagar da história - pelo menos a do seu jornal -
aqueles que considerava inimigos. Ou que eram simples desafetos. Ou de
quem simplesmente não gostavam. O exemplo mais antigo que me lembro é
Adhemar de Barros, que o jornal grafava, só para espicaçar, como "A. de
Barros". Idiossincracias de quem se julgava acima dos mortais comuns...
Brizola volta do exílio para assustar a "elite": o medo permanece até hoje |
Brizola, porém, não incomodava só o Estadão. Era detestado por
praticamente toda a "elite" brasileira, que tem até hoje nessa imprensa
provinciana a máxima expressão de seus sentimentos. As poderosas
organizações Globo, por exemplo, viam em Brizola a representação de todo
o mal que existe no Universo e simplesmente o tratavam como se deve
tratar o demônio, exorcizando-o do corpo infestado.
Ontem, o nome Brizola voltou às manchetes dos jornalões. Seu neto, o
deputado federal Carlos Daudt Brizola, mais conhecido como Brizola Neto,
foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para ser o seu ministro do
Trabalho. Ele tem apenas 33 anos, edita um blog que é referência entre a
esquerda nativa, o Tijolaço, remetendo aos textos que Leonel
Brizola mandava publicar com esse título em jornais cariocas para se
contrapor à campanha incessante que O Globo movia contra ele e, tudo
indica, pode fazer um bom trabalho na área trabalhista, honrando, por
tabela, a tradição do partido a que está filiado, o PDT fundado pelo avô
famoso.
Mas bastou a notícia se confirmar para que o nome Brizola novamente
despertasse a ira de tantos quantos dignos representantes dessa imprensa
que trabalha noite e dia para derrubar o governo petista legitimamente
eleito por ampla maioria da população - e que andavam mais calmos desde
que Lula cedeu lugar ao seu "poste".
De uma hora para outra, aqueles que andavam elogiando o governo, sempre
com ressalvas, é claro, soltaram o verbo contra a escolha, como se, a
partir dela, toda a governabilidade tão arduamente construída pelos
partidos que sustentam o governo fosse desmoronar.
É como se Brizola Neto encampasse, por causa do nome, tudo o que seu avô
representava contra os interesses da burguesia nacional, essa porção
udenista da sociedade brasileira que odeia pobres e pretos, não tolera
minorias, só pensa em erguer muros mais altos para separá-los do resto
desse Brasil miscigenado, vive apenas em função dos desejos de seus
ícones de cabelos loiros e olhos azuis e age como um macaquinho
domesticado que imita os gestos de seu dono.
Como essa gente é fraca!
Como é que eles podem ter a pretensão de voltar a mandar no Brasil se
ainda não conseguiram nem superar o medo desse nome que transformaram
num fantasma aterrorizador?
Ah, por que a presidente Dilma foi escolher logo alguém com o sobrenome Brizola para o seu governo?
Era o que faltava, devem pensar, para que este país se transforme numa
república sindicalista, ou, pior, numa verdadeira democracia, onde todos
têm oportunidades iguais, não importa o nome que carreguem.
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