Estava fazendo exames médicos no hospital na manhã desta quarta-feira
durante a cerimônia em que a presidente Dilma Rousseff deu posse aos
sete membros da Comissão da Verdade, no Palácio do Planalto, ao lado dos
quatro antecessores vivos, e fiquei contente por poder testemunhar pela
televisão este momento histórico na vida do nosso país.
Só de estar vivo, acho que já valeu a pena tudo o que passamos naqueles
anos de trevas da ditadura militar, que agora, finalmente, serão
revelados.
Mais contente ainda fiquei lendo na matéria de Marina Marquez, do R7,
em Brasília, que Dilma, logo no início do seu discurso, citou meu amigo
Ulysses Guimarães, o "Sr. Diretas", que abriu caminho para a
Constituinte de 1988 e para a redemocratização do país, ao lembrar que a
verdade é fundamental para a democracia.
"O Brasil não pode se furtar a conhecer a totalidade da sua história.
Trabalhemos juntos para que o país conheça e se aproprie da totalidade
da sua história. A ignorância da história não pacifica, mantém latentes
mágoas e rancores".
Tomara que os parlamentares integrantes da CPI do Cachoeira leiam este
discurso de Dilma e também façam a sua parte, sem receio de investigar a
fundo todos os personagens envolvidos nas bandalheiras desta quadrilha
de mil tentáculos, as verdades e as mentiras da nossa história recente,
que a imprensa criou ou omitiu em plena democracia.
Nós que enfrentamos a ditadura dos militares, correndo risco de vida,
para que um dia pudéssemos voltar a viver num regime democrático, não
podemos agora admitir que a ditadura dos barões da mídia queira
reescrever a história, transformando em heróis os que ontem apoiaram o
golpe e hoje querem posar de paladinos da liberdade de imprensa.
O ato presidido por Dilma Rousseff esta manhã no Palácio do Planalto
pode ser um divisor de águas para separar a verdade da mentira, dar
nomes aos bois, esclarecer episódios nebulosos, jogar luzes sobre o
passado e ao mesmo tempo clarear o nosso futuro.
Mais do que um gesto de grandeza, ao convidar para a cerimônia os
ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, por ordem de entrada em cena, Dilma
fez justiça ao papel de cada um na construção da Comissão da Verdade.
O principal objetivo da presidente nesta cerimônia foi simbolizar que se
tratava de um ato de Estado e não de governo, acima de divergências
partidárias ou doutrinárias, sem qualquer outro interesse que não o de
resgatar a nossa história. "O Brasil merece a verdade", como ela disse.
Por um destes acasos da vida, fui almoçar depois no "Sujinho", velho
boteco que serve a melhor bisteca da cidade, antigamente chamado de "Bar
das Putas", um lugar que lembra como eram os tempos sem lei em que
nossos amigos "desapareciam", ninguém podia escrever a verdade sobre o
que acontecia e todos se sentiam ameaçados, até mesmo dentro de suas
casas.
Daquela turma que ia para lá depois de sair das redações sob censura,
varando a madrugada, muitos já se foram. Para os que ficaram, a Comissão
da Verdade pode não mudar muita coisa, mas certamente servirá para que
nossos filhos e netos nunca permitam que a história se repita.
Vida que segue. Tortura nunca mais!
Viva Dilma!
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