Blog do Tessler
É impressionante a quantidade de vozes conservadoras que se levantaram –
salivando de ódio – contra a instalação da Comissão da Verdade, que
procura desvendar os exageros do tempos de chumbo da ditadura
brasileira.
Por que tanto medo?Alguém pensa em revanche? Alguém se orgulha de viver
em um país que matou e torturou pessoas cujo crime era pensar de uma
maneira diferente que os militares do poder?
Na República Dominicana, ilha caribenha vizinha ao Haiti, viveu o maior
fascínora de toda América Latina, Rafael Leónidas Trujillo. O tirano se
divertia em perseguir profissionais liberais, jornalistas, estudantes ou
mesmo pais de meninas virgens que se negavam a entregar a filha para
suas noites de orgia. Era Deus na terra do Sol. Matava, torturava,
enganava os dominicanos, se divertia e ainda enchia as contas pessoais
em bancos estrangeiros. Trujilo chegou a ser dono de 70% das terras
cultiváveis da República Dominicana.
Na madrugada de 30 de maio de 1961 Trujillo, aos 70 anos, seguia com seu
motorista para a casa de uma das tantas amantes. Escondido. Sem
segurança. Aí caiu em uma emboscada preparada por funcionários da
presidência que não concordavam com os abusos. Foi assassinado em uma
estrada à beira-mar, na periferia de Santo Domingo.
O local do assassinato – comemorado em silêncio pela esmagadora maioria
do povo dominicano – é hoje um lugar de homenagem…aos assassinos. Os
dominicanos entendem que em um regime ditatorial a revolta contra o
poder estabecido à força é legítimo. Se a subida ao poder aconteceu
graças às armas, nada mais justo que utilizar as mesmas armas para
derrubá-lo.
Os dominicanos entendem essa lógica, os conservadores brasileiros não.
A ditadura brasileira estabeleceu-se com um golpe militar. Todos os
atos, a partir de então, são questionáveis – e sujeitos à revolta. A
tortura, método utilizado para forçar supostos opositores a falar o que
sabiam e o que não sabiam, foi a medíocre ferramenta utilizada. "Não
existe nada mais hediondo na natureza humana que a tortura, a agressão a
um ser semelhante", observou o ex-deputado e torturado Carlos Araújo,
ex-marido da presidenta Dilma Rousseff.
Quem não aceita a Comissão da Verdade tem medo. Medo de que? De revelar à família, aos vizinhos e amigos seu passado sujo?
O Brasil foi governado de 1964 a 1985 pela força. O estado democrático
foi esquecido. A oposição corajosa, de um povo de paz que simplesmente
tentava resgatar a legimitimidade, foi torturada, morta ou
misteriosamente desaparecida. E os responsáveis pela barbárie seguem
assando churrasco aos domingos em seus luxuosos condomínios, muitas
vezes ao lado de filhos de suas vítimas, sem revelar seu passado. Rindo e
assistindo futebol.
A Argentina passou pela Comissão da Verdade nos primeiros anos da volta à
democracia – liderada pelo escritor Ernesto Sábato. O Chile lembra os
tempos da barbárie com um impressionante museu. O conservadorismo
brasileiros pretende soterrar o passado.
Quem tem medo da verdade?
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