Muitas análises foram além da confirmação do óbvio sobre o retorno dos socialistas ao poder na França.
Tal triunfo eleitoral não se configura, tão somente, como um fato
político nacional. Espraia-se pelas fronteiras europeias, do velho
mundo em crise, sufocado por severas medidas recessivas e de grandes
sacrifícios para os mais pobres, sem exigir muito dos mais ricos, sem
tocar na regulamentação dos mercados.
Não é só Hollande quem vence, mas àqueles que se contrapõe ao neoliberalismo.
Não é só a França, pode ser grande parte da Europa.
Pode estar em andamento um processo de grande ressonância popular para
varrer idéias ultrapassadas, aprofundar a crise do capitalismo, aviso do
velório neoliberal.
Os conservadores podem estar experimentando o esgotamento de suas idéias e governos.
Confira o editorial do Sul 21:
Vitória de François Hollande pode apressar derrota do neoliberalismo no mundo
Nicolas Sarkozy foi derrotado na França. Isto poderá significar o início do fim do neoliberalismo como forma de gestão da economia na Europa e, talvez, em todo o mundo. A primeira manifestação do recém-eleito presidente socialista François Hollande, logo após o reconhecimento da derrota por parte de seu adversário conservador e atual presidente francês, foi de confirmação do seu discurso de campanha, apontando para a retomada do desenvolvimento e para o fim das políticas recessivas como forma de superação da crise econômica.
Sufocados por uma crise econômica provocada pela incúria neoliberal e agravada, na Europa, pela criação de um quase-Estado firmado exclusivamente sobre bases financeiras e sem a constituição de um aparato político-administrativo para geri-lo, os países da zona do euro vivem um momento sombrio.
Pressionados, até aqui, pelos governos conservadores da Alemanha e da França e também pelas direções das agências internacionais de crédito, Itália, Espanha, Grécia, Irlanda, Portugal, Áustria e até mesmo alguns países nórdicos, depois da orgia do endividamento provocado pela atuação desregrada do capital financeiro, têm sido forçados a adotar políticas de desmonte do Estado de Bem-Estar Social, com a diminuição do ritmo de crescimento de suas economias e do tamanho de suas máquinas estatais, bem como com a retirada de direitos sociais há muito conquistados por seus cidadãos.
O resultado tem sido o reavivamento dos conflitos e dos enfrentamentos sociais, com o crescimento preocupante da xenofobia e das ideologias de exclusão social em toda a região. Governantes de direita e/ou alinhados com políticas recessivas sido empossados em muitos dos países em crise. A Alemanha e a França, respectivamente a primeira e a segunda economia europeia e da zona do euro, têm se destacado, até aqui, durante os mandatos de Angela Merckel e de Nicolas Sarkozy, na imposição de tais políticas aos países vizinhos.
É promissora, portanto, a vitória de François Hollande, na França, bem como suas manifestações já como presidente eleito. Suas declarações de que 1) a “austeridade não pode ser uma fatalidade”, para destacar que não adotará políticas recessivas e de diminuição de direitos, e 2) que dirá logo que possível aos seus parceiros europeus, e à Alemanha em primeiro lugar, que sua missão é a de “dar uma dimensão de crescimento à Europa”, merecem destaque.
Com a vitória de um governante socialista na França, cresce o rol de países com peso significativo na economia mundial que abandona o ideário neoliberal. A voz de Dilma Rousseff, em nome do Brasil, já não soará em vão nas reuniões internacionais. Talvez agora os encontros do G8 tenham outros desfechos, diferentes dos que têm se repetido durante os últimos anos. Caso se concretize a vitória e a reeleição de Barack Obama, nos EUA, e ele consiga, finalmente, aprofundar as medidas anti-recessivas que não tem conseguido adotar plenamente por falta de apoio político, estarão dadas as condições para que se lance, finalmente, a pá de cal sobre o neoliberalismo e sua pretensão de se firmar como ideologia única em todo o mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário