Festa nordestina. Até aqui a vã tentativa de imitar Carlos Lacerda. Foto: Reprodução |
Nas últimas semanas, o ex-prefeito carioca Cesar Maia assumiu de vez o
papel de carpideira de quartéis, para citar expressão usada, nos anos
1960, para identificar políticos envolvidos em golpes militares. Maia
tem agido assim. Sistematicamente, vem fazendo denúncias contra ações do
governo da presidenta Dilma Rousseff. Para isso ressuscita fantasmas
usados contra o presidente Goulart, derrubado no golpe de 1964.
Maia adapta frases adequadas, a uma “guerra fria” inexistente. Os
argumentos dele baseiam-se em decisões do governo interna e
externamente. Neste último caso, preferencialmente, sobre as relações
institucionais amigáveis do Brasil com a Cuba de Fidel, fantasma de
outros tempos, e a Venezuela de Chávez, fantasma recente. Dois exemplos
publicados no blog dele: “Terceirização Vermelha: em 2013 chegam ao
Brasil 1.500 médicos cubanos contratados.”
A denúncia trata de um acordo entre o Brasil e Cuba. Na Ilha foram
desenvolvidas experiências de atendimento médico com bons resultados.
Elas serão aplicadas aqui por profissionais cubanos. Um trabalho
remunerado. Maia dá um colorido de “ameaça vermelha” revivendo os tempos
em que dependuravam adversários políticos em “pau de arara”.
Aspas para ele: “Fatos sucessivos indicam que a formação de Dilma na
esquerda revolucionária dos anos 1970 estaria incorporando-se a suas
ações e decisões”.
Na busca constante e frenética do denuncismo terrorista, Maia atacou o
discurso da presidenta do “1º de Maio” quando ela criticou a resistência
do sistema financeiro a baixar as taxas de juro. Ele interpretou isso
como “polarização política fácil e… oportunista: Dilma x Banqueiros”.
Para entender o jogo calculado de Cesar Maia, basta lembrar que esse
tipo de denúncia tem um público cativo, os militares, muito inquieto
neste momento em que são recontadas ou reveladas práticas tenebrosas da
ditadura.
Não é uma decisão tresloucada de Maia. É loucura calculada. Em livro
publicado nos anos 1990, explicou que fazia política com régua e
compasso. Foi naquela época que iniciou caminhada-solo após renegar
Leonel Brizola.
Passou, então, a se apresentar como “líder da direita”. Para evitar um
choque brusco nos eleitores, fez calculadamente uso de um jogo de
vogais, com a mesma preposição e a mesma finalidade, de tornar-se “líder
de direita”. Ele mudou de lado. Havia uma vaga desde a morte de Carlos
Lacerda (1914-1977). Contingente expressivo de eleitores, homens e
mulheres, além de setores militares, era identificado como sendo “viúvas
de Lacerda”. Por aí ele abriu caminho e, por duas vezes, conquistou a
prefeitura do Rio.
Faltou consistência política, carisma e, inclusive, a qualidade
intelectual de Lacerda, um dos maiores panfletários brasileiros para se
apresentar como líder de direitas. Maia não teve fôlego para voos mais
altos. Quando tentou, em 2010, sofreu uma derrota arrasadora como
candidato ao Senado apesar de ter abusado dos gestos populistas em busca
de votos. O mais representativo deles foi tentar cantar Asa Branca na
feira popular nordestina, no Rio.
Agora, apresenta-se em busca de vaga na Câmara de Vereadores.
A disputa é um esforço de Maia para tentar salvar o que resta do DEM no
estado do Rio. Nesse sentido, lançou o filho Rodrigo, deputado federal, a
prefeito da cidade. Sem chances. É provável, no entanto, que Maia ganhe
sobrevida política como vereador.
Mauricio DiasNo CartaCapital
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