O caso Soninha mostra a falta de transparência do governo de São Paulo
Queremos fazer um jornalismo diferente do que está aí. Melhor: faremos.
Um jornalismo que ajude o leitor a entender os fatos, no matter what, como gosta de dizer meu amigo Scott Moore.
Falo como editor, e como leitor também.
Fiquei confuso, ontem, quando meu irmão Kiko comentou comigo a fúria
de Soninha contra Haddad. Bom jornalista que é, Kiko logo entendeu que
havia ali um artigo a escrever.
Seu texto, aliado a comentários de leitores que como de hábito
contribuíram para o debate, e aqui agradeço particularmente Frank, me
fizeram ver o óbvio.
A partir disso tudo, fiz o que costumo fazer: pesquisei.
Bem.
Soninha tem interesse pessoal na permanência do PSDB no poder em São
Paulo. Mãe e filhas têm bons empregos públicos no governo paulista
conquistados sem concurso. Ela própria também tem vantagens concretas.
Recebe dinheiro para participar de reuniões de diretoria na Cetesb, da
qual é conselheira.
Falta aí, mais que tudo, transparência. O eleitorado tem que saber
disso amplamente. O partido de Soninha apoia o PSDB. Pode ser que o
apoio seja por convicções. Mas também pode ser por razões menos nobres. A
transparência ajuda o cidadão a formar sua opinião.
E aí vou para a mídia. Caberia a ela trazer essa transparência ao
tema. Isso foi parcialmente feito. Em minha pesquisa, vi que o Jornal da
Tarde publicou há alguns meses uma reportagem de Fabio Leite sobre as
relações profissionais de Soninha e família com o governo paulista.
Na reportagem, você lê que o governo justificou a contratação de uma
filha de Soninha com sua fluência em várias línguas. O repórter
descobriu, no site da USP, que não tem fluência em nenhuma.
O que fez a Folha de S. Paulo, por exemplo? Em minha pesquisa, e se
estou enganado me avisem por favor, não encontrei uma única reportagem
sobre um tema de grande interesse público no estado que ela carrega no
nome.
Como paulista, pensei o seguinte. Quantos casos iguais aos de Soninha
não existem no governo de São Paulo? Quantos empregos do mesmo gênero
não são sustentados pelo contribuinte paulista? Essa é a famosa
qualidade de gestão do PSDB, um partido no qual votei pela maior parte
de minha vida adulta?
O assim chamado aparelhamento do estado pelo PT é citado ubiquamente
pela mídia. O que é este caso senão um sinal de que o PSDB de São Paulo
faz um aparelhamento a seu estilo, fora da vigilância da mídia que
deveria funcionar como fiscal?
O Diário quer ajudar a trazer luz para os debates na sociedade
brasileira. Má conduta no PT e no PSDB e onde mais for será tratada do
mesmo modo, no interesse público.
A mídia tradicional está trazendo apenas a luz que lhe convém – e o Brasil merece muito mais que isso.
Por Paulo Nogueira
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